10 Fevereiro 2011
Embora ainda sejam necessárias ações
muito mais contundentes pelo governo chinês
para adotar um caminho de desenvolvimento
menos impactante, o foco e as lições
aprendidas no desenvolvimento e implementação
do pacote de estímulo econômico dado
pelo país em resposta à crise de 2008
podem servir de exemplo ao Brasil.
Em novembro de 2008, o Conselho
de Estado chinês (o órgão máximo
de decisão do país) decidiu investir
$ 4 trilhões de iuanes, o equivalente a aproximadamente
US$ 996 bilhões de dólares, para proteger
sua economia contra a crise financeira mundial.
O novo estudo da Rede WWF – Climate
and Energy Impacts of China’s Stimulus Package (Impactos
climáticos e energéticos do pacote
de estímulos da China) – concluiu que o pacote
de incentivo da China teve êxito ao impulsionar
o crescimento econômico principalmente por
meio de investimentos em infraestrutura. Mesmo elevando
temporariamente o consumo energético do país,
estima-se que esse estímulo trará
benefícios de longo prazo para a conservação
energética e que seu efeito líquido
sobre as emissões de carbono será
positivo a partir de 2014.
Os principais benefícios,
em longo prazo, surgirão da extensa rede
de trem e metrô, reduzindo a necessidade de
transportes rodoviários, e de projetos diversos
de eficiência energética. Assim, será
evitada anualmente a emissão de até
270 milhões de toneladas de CO2. No entanto,
será necessário fazer ainda mais esforços
para alcançar o objetivo com o qual a China
se comprometeu na Conferência do Clima em
Copenhague, em dezembro de 2009: reduzir em 40 a
45% as emissões por unidade do PIB até
2020, em comparação com os valores
de 2005.
“Há sinais de que o planejamento
macroeconômico do governo chinês começa
a levar seriamente em conta as emissões de
carbono. Precisaremos mais disso no futuro. Todas
as políticas de investimento terão
de levar em conta a energia e a conservação
dos recursos, assim como as mudanças climáticas,”
declarou o Dr. Li Lin, líder da iniciativa
China para uma Mudança Global, da Rede WWF.
Durante a crise, o Brasil também
desenvolveu esforços para suavizar os impactos
em sua economia. Foram implementadas medidas de
aumento da liquidez (injeção de dinheiro
para facilitar sua circulação na sociedade)
e estímulo à produção
e consumo, este último totalizando cerca
de 1 a 1,5% do PIB. No entanto, ao contrário
do que aconteceu em países como China ou
Coreia do Sul – que direcionou quase 80% do seu
pacote de estímulos a medidas “verdes”, especialmente
na promoção de tecnologias limpas
–, pouca atenção se deu ao aspecto
“verde” dos investimentos governamentais brasileiros.
A única ação
declarada foi a concessão de incentivos fiscais
para equipamentos de linha branca, como por exemplo
geladeiras e congeladores. A ampliação
no uso de sistemas solares para calefação
de águas foi modesta e os cortes dados sobre
a produção de veículos automotores
foi uniforme, sem a devida consideração
de como incentivar o uso mais racional e menos poluente
dos veículos próprios. Por sua vez,
a expansão e atualização da
infraestrutura brasileira, que determina em última
instância o caminho que trilhará o
país por décadas, quase não
considerou questões de eficiência energética,
uso de energias renováveis não convencionais
e novos modelos de produção.
“Em um momento propício
para repensarmos nosso modelo de desenvolvimento
econômico, o Brasil perdeu a oportunidade
de promover seu crescimento em bases muito mais
sustentáveis. Embora já evidencie
claros avanços, como mostram os recentes
esforços para desenvolver um pacote coerente
de políticas e estratégicas de mudanças
climáticas, o Brasil ainda pode fazer muito
mais”, afirma Carlos Rittl, coordenador do Programa
de Mudanças Climáticas e Energia do
WWF-Brasil.
“De acordo com dados do governo,
o Brasil já havia reduzido, em 2009, 33,6%
de suas emissões de gases de efeito estufa
em relação ao ano de 2004. Este avanço
é louvável, mas falta ainda ao país
adotar políticas e estratégicas que
lancem o país nesta nova era de baixo carbono,
na qual o planejamento de longo-prazo considera
explicitamente a sustentabilidade. A China, embora
ainda fortemente dependente de energia fóssil,
está se tornando um líder no desenvolvimento
de tecnologias limpas. O Brasil possui o potencial
para espelhar este papel aqui na América
Latina”, conclui Rittl.
+ Mais
WWF-Brasil comemora assinatura
do Protocolo de Nagoia
03 Fevereiro 2011
O Brasil assinou, ontem (2/2), o Protocolo de Nagoia
sobre Acesso a Recursos Genéticos e a Repartição
Justa e Equitativa dos Benefícios Advindos
de sua Utilização, adotado na 10ª
Conferência das Partes da Convenção
da Biodiversidade Biológica (CDB), realizada
em outubro de 2010 em Nagoia, Japão. O processo
de negociação que defende os direitos
dos países sobre o uso da sua biodiversidade
iniciou-se há quatro anos, em Curitiba (PR).
Desde então, as negociações
têm contado com a ativa participação
do WWF-Brasil e da Rede WWF.
Protocolo estabelecerá
as bases para um regime internacional eficaz de
acesso e repartição dos benefícios
do uso da biodiversidade, bem como dos conhecimentos
tradicionais a ela associados (produção
de fármacos, materiais, alimentos etc.).
Trata-se de um passo importante tanto para a defesa
da biodiversidade como para luta contra a biopirataria
– que é fundamental para países megadiversos
como o Brasil.
Para que entre em vigor, o Protocolo necessita ser
ratificado por, pelo menos, 50 países e este
processo ainda irá acontecer internamente
no Brasil, com a ratificação pelo
Congresso Nacional.
“Embora o Brasil seja um dos primeiros
a comprometer-se com os acordos, é importante
que mantenhamos esta liderança, ratificando
rapidamente o acordo no âmbito do Congresso
Nacional. Julgamos que isto será um sinal
inequívoco do interesse brasileiro e do compromisso
político assumido na Conferência das
Partes da CDB”, analisou Denise Hamú, secretária
geral do WWF-Brasil.