Com o registro de 52 mil imagens
por armadilhas fotográficas
em sete áreas protegidas de três continentes,
foram documentadas 105 espécies de mamíferos
e concluiu-se que os mamíferos insetívoros
e os de menor porte são os mais vulneráveis
à extinção.
Arlington, EUA , 16 de agosto
de 2011 — O primeiro estudo global de armadilhas
fotográficas para mamíferos, que documentou
105 espécies em cerca de 52 mil imagens em
sete áreas protegidas nas Américas,
África e Ásia, foi anunciado hoje
por um grupo internacional de cientistas.
As fotografias revelam uma incrível
variedade de animais em seu dia-a-dia – de um diminuto
roedor a um enorme elefante africano, além
de gorilas, pumas, tamanduás-bandeiras e
– surpreendentemente – até mesmo turistas
e caçadores.
A análise dos dados fotográficos
tem ajudado os cientistas a confirmarem uma conclusão
fundamental que, até o momento, era compreendida
apenas por meio de diversos estudos locais não
coordenados: a perda de hábitat e pequenas
reservas têm um impacto direto e negativo
sobre a diversidade e a permanência das populações
de mamíferos. Esse impacto se manifesta sob
a forma de menor diversidade de espécies
e menor variedade de tamanhos corporais e dietas.
A replicação dessas informações
em períodos e áreas diferentes é
fundamental para compreender os efeitos das ameaças
globais e regionais em mamíferos que vivem
em florestas tropicais e antecipar as extinções
antes que seja tarde demais.
Os resultados do estudo foram
publicados no artigo “Estrutura e diversidade de
comunidades de mamíferos tropicais: dados
de uma rede global de armadilhas fotográficas”
(Community structure and diversity of tropical mammals:
data from a global camera trap network), no jornal
Philosophical Transactions da Royal Society. O estudo
foi liderado pelo ecólogo Dr. Jorge Ahumada,
do Programa de Ecologia, Avaliação
e Monitoramento de Florestas Tropicais (Tropical
Ecology Assessment and Monitoring Network - TEAM)
da Conservação Internacional. Foram
pesquisadas áreas protegidas no Brasil, Costa
Rica, Indonésia, Laos, Suriname, Tanzânia
e Uganda, tornando este estudo não apenas
o primeiro estudo global sobre mamíferos
com armadilhas fotográficas, mas também
o maior do gênero para qualquer classe de
animais (não só mamíferos).
Para coletar os dados, 420 câmeras
foram colocadas em diferentes regiões ao
redor do mundo, sendo que 60 armadilhas fotográficas
foram instaladas em cada local, com uma câmera
a cada 2 Km2, durante um mês. De posse das
fotos reunidas entre 2008 e 2010, os cientistas
categorizaram os animais por espécie, tamanho
corporal e dieta, entre outras características.
Eles descobriram que as maiores áreas protegidas
e florestas contínuas tendem a conter três
atributos semelhantes: (1) maior diversidade de
espécies; (2) maior variedade de tamanhos
corporais, incluindo populações de
mamíferos maiores, e (3) maior variedade
de dietas entre esses mamíferos (insetívoros,
herbívoros, carnívoros, onívoros).
“Os resultados do estudo confirmam
o que suspeitávamos: a destruição
de hábitat está, aos poucos, minando
a diversidade de mamíferos no nosso planeta”,
afirma Ahumada. “Podemos tirar duas conclusões
fundamentais desta pesquisa. A primeira é
a de que as áreas protegidas são importantes:
quanto maior a floresta em que vivem, maior será
o número e a diversidade de espécies,
o tamanhos corporais e a variedade da dieta. E a
segunda é a de que alguns mamíferos
parecem ser mais vulneráveis à perda
de hábitat do que outros: mamíferos
que se alimentam de insetos como tamanduás,
tatus e alguns primatas, são os primeiros
a desaparecer, enquanto outros grupos, como os herbívoros,
parecem ser menos sensíveis”.
Entre os locais pesquisados, a
Reserva Natural do Suriname Central apresentou o
maior número de espécies (28) e a
Área Protegida Nacional de Nam Kading no
Laos apresentou o menor número de espécies
(13). O tamanho do corpo das espécies fotografadas
varia de 26 g (cuíca-pequena de Linnaeus,
Marmosa murina) a 3.940 kg (elefante africano, Loxodonta
africana).
Com cerca de 25% das espécies
de mamíferos sob ameaça de extinção
e diante da pouca informação quantitativa
disponível globalmente, este estudo preenche
uma lacuna muito importante no conhecimento dos
cientistas sobre a forma como os mamíferos
vêm sendo afetados pelas ameaças locais,
regionais e globais, como a caça excessiva,
a conversão das terras para agricultura e
a mudança climática.
“O que torna esse estudo cientificamente
inovador é que nós criamos, pela primeira
vez, informações comparáveis
e consistentes sobre os mamíferos em uma
escala global, definindo uma linha de base efetiva
para monitorar as mudanças. Usando essa metodologia
única e padronizada nos próximos anos,
e comparando os dados recebidos, poderemos ver as
tendências nas comunidades de mamíferos
e realizar ações direcionadas e específicas
para salvá-las”, explica Ahumada. Ele acrescenta
que, desde 2010, câmeras adicionais foram
instaladas em novos pontos (Panamá, Equador,
outro local no Brasil, dois locais no Peru, Madagascar,
Congo, Camarões, Malásia e Índia),
expandindo a rede de monitoramento para um total
de17 sítios. “Sem uma abordagem global e
sistemática para monitorar esses animais
e garantir que os dados cheguem às pessoas
que tomam decisões, estamos apenas registrando
sua extinção, sem realmente salvá-los”.
Os mamíferos servem como
indicadores da saúde do ecossistema e desempenham
papéis importantes na natureza que, por fim,
beneficiam o ser humano, como o controle do crescimento
de plantas, a ciclagem de nutrientes e a dispersão
de sementes. Por exemplo, alguns cientistas argumentam
que a remoção de mamíferos
de grande porte por meio da caça excessiva
reduz a capacidade das florestas de armazenarem
carbono, pois esses animais são responsáveis
pela dispersão de sementes de plantas de
alta densidade de carbono. A diminuição
da capacidade das florestas de armazenar carbono
significa a diminuição da capacidade
de mitigar os efeitos da mudança climática.
“Esperamos que esses dados contribuam
para um melhor gerenciamento das áreas protegidas
e a conservação dos mamíferos
em todo o mundo, bem como para um uso mais disseminado
de estudos padronizados que utilizam armadilhas
fotográficas para monitorar esses animais
de grande importância,” conclui Ahumada.
O Programa de Ecologia, Avaliação
e Monitoramento de Florestas Tropicais (Tropical
Ecology Assessment and Monitoring Network - TEAM)
é uma parceria entre a Conservação
Internacional, o The Missouri Botanical Garden,
o The Smithsonian Institution e a Wildlife Conservation
Society (WCS). O estudo foi financiado parcialmente
por essas instituições e pela Fundação
Gordon & Betty Moore.
Os parceiros locais do estudo
são: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), no Brasil, a Conservação Internacional
do Suriname, a Organização para Estudos
Tropicais (Organization for Tropical Studies- OTS),
o Museu Tridentino di Scienze Naturali e o Institute
of Tropical Forest Conservation.
Veja alguns dados de onde e como
o estudo foi feito:
• Em três continentes: América,
África e Ásia
• Em sete sítios:
Floresta de Bwindi (Uganda)
Parque Nacional das Montanhas de Udzungwa (Tanzânia)
Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan (Indonésia)
Área Protegida Nacional de Nam Kading (Lao
PDR)
Reserva Natural do Suriname Central (Suriname)
Manaus (Brasil)
Transecto do Vulcão Barva (Costa Rica)
• 420 câmeras usadas
• 60 câmeras em cada sítio
• 1 câmera a cada 2 Km2
• As câmeras permaneceram por um mês
em cada local
• Período dos dados analisados no artigo:
2008 a 2010
• Número de sítios monitorados hoje:
17
+ Mais
ICMBio lança cartilha de
regularização fundiária de
UCs
Conservação Internacional
e Fundação SOS Mata Atlântica
apoiam cartilha
Brasília, 26 de agosto
de 2011 — Durante as comemorações
do aniversário de seus quatro anos de criação,
o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) lançou, por meio
da Coordenação-geral de Consolidação
Territorial (CGFUN/Diusp) e equipe do Parque Nacional
do Itatiaia (RJ), a Cartilha de Regularização
Fundiária de Unidades de Conservação
Federais. O objetivo desta publicação
é demonstrar, na prática, todos os
passos da aplicação da Instrução
Normativa nº 02/2009, que institui os procedimentos
a serem adotados pelos proprietários, posseiros
e pelo ICMBio para viabilizar a regularização
fundiária das unidades de conservação
federais, possibilitando o prosseguimento de inúmeros
processos de indenização de imóveis
paralisados, além de possibilitar a recepção
de imóveis a título de doação.
A formulação e a publicação
da cartilha teve o apoio da Conservação
Internacional e da Fundação SOS Mata
Atlântica.
A publicação aborda
desde a abertura do processo de indenização
até a transferência das áreas
pelo ICMBio. A cartilha, disponibilizada neste primeiro
momento em formato eletrônico, pode ser acessada
e utilizada tanto pelos servidores da nossa autarquia
quanto pelos proprietários de terras ou de
benfeitorias em unidades de conservação,
tendo acesso amplo às informações
quanto aos seus direitos e como requerê-los.
A implementação
e gestão efetiva de uma unidade de conservação
está estreitamente relacionada à regularização
da sua situação fundiária.
Historicamente, a complexa legislação,
a falta de padronização dos procedimentos,
a carência de pessoal especializado, a limitação
de recursos financeiros, entre outras questões,
foram fatores que dificultaram muito a aquisição
de terras em UCs. Este quadro passou a mudar com
a publicação da IN nº 02/2009.
A coordenadora-geral de Consolidação
Territorial do ICMBio, Eliani Maciel, destaca que
a cartilha foi inspirada na recente experiência
no Parna do Itatiaia, que por meio de um esforço
institucional e de parceria com o Instituto Estadual
do Ambiente (Inea) e o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), retomou seu processo
de regularização fundiária
depois de 50 anos.
Segundo Eliani, essa é
mais uma iniciativa para facilitar e acelerar as
ações de desapropriações
e indenizações de ocupações
nas unidades. “A ideia é tornar o procedimento
transparente em linguagem acessível, apresentando,
inclusive, modelos de documentos que podem ser utilizados
por todos os interessados em conhecer ou requerer
seus direitos.”
O procurador-chefe nacional do
ICMBio, Daniel Otaviano de Melo Ribeiro, também
celebrou a medida. Para Daniel, a consolidação
dos procedimentos em um único documento proporcionará
um ganho em escala na regularização
das unidades de conservação, permitindo
que qualquer servidor, mesmo os menos familiarizados
com as questões fundiárias, possam
atuar na matéria valendo-se das instruções
e modelos disponibilizados pela cartilha.