Pelo quarto mês consecutivo,
o desmatamento registrado na Amazônia cresceu
em relação ao ano passado. Em junho
de 2011 a região perdeu 312 km2 de floresta,
um aumento de 28% em relação à
área medida em junho do ano passado, que
foi de 243 km2, segundo dados do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ainda que o sistema usado, o Deter,
não seja o oficial na medição
de área, fica clara a tendência de
aumento. “Se alguém ainda tinha dúvidas
sobre o impacto da reforma do Código Florestal
no campo, eis o resultado”, afirma Marcio Astrini,
da campanha da Amazônia do Greenpeace.
O PLC 30/2011, aprovado em maio
na Câmara dos Deputados, foi escrito pela
bancada ruralista para afrouxar as regras ambientais.
Mais do que isso: o texto estimula o desmatamento
ao reduzir as áreas de proteção
às florestas e anistiar criminosos ambientais,
e ainda diminui o poder de intervenção
e fiscalização do governo federal.
Além da promessa de perdão,
outro conhecido estímulo à destruição
florestal anda dando as caras: o aumento de preço
das commodities. Os dois fatores unidos alimentam
as motosserras, como o Greenpeace tem visto acontecer
em seus sobrevoos.
O desmatamento é um ataque
ao patrimônio ambiental brasileiro, ao reduzir
a biodiversidade e afetar os serviços ambientais
que a Amazônia oferece, como regulador climático
e água - inclusive para a produção
agrícola em outras regiões do Brasil.
A retomada, por sua vez, coloca em risco compromissos
internacionais assumidos pelo país para o
controle do aquecimento global e a manutenção
da biodiversidade.
Para tentar conter o aumento do
desmatamento que o próprio governo classificou
como atípico, foi criado, em maio, um gabinete
de crise para lidar com o assunto. Porém,
mesmo com o aumento do efetivo de fiscalização
na Amazônia, a floresta continua a ser derrubada
“Os números mostram que as atitudes para
parar o desmatamento ainda não foram suficientes,
nem no campo, muito menos no Congresso”, diz Astrini.
“A cada hectare de floresta derrubada, acumulamos
um prejuízo imenso para o país, seja
na agricultura ou nas cidades. Resta saber se a
bancada ruralista vai pagar a conta ou se seremos
nós, cidadãos brasileiros, a arcar
com os custos.”
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O retorno da motosserra
Nesta quarta-feira, o Inpe divulgou
que o desmatamento da Amazônia no mês
de julho, medido pelo Sistema de Detecção
de Desmatamento em Tempo Real (Deter) foi de 224,94
quilômetros quadrados. Esse número
eleva para 2.654 km2 o total do desmatamento apurado
pelo Deter nos últimos 12 meses. Isso representa
um aumento de 15% em relação aos 12
meses anteriores.
Embora o Deter seja um sistema
de alerta e não de medição
precisa do desmatamento (o INPE usa outro sistema
para isso, o Prodes), já é possível
afirmar sem sombra de dúvida que a taxa anual
de desmatamento da Amazônia voltou a crescer,
depois de alguns anos de celebrada queda.
Essa taxa é apurada pelo
Prodes, com base no estudo de imagens de satélite
muito mais precisas do que as utilizadas pelo Deter
(e por isso, de análise mais demorada), e
obtidas entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.
Ela é, em geral, divulgada no final do ano
como estimativa e, completada a análise,
confirmada no ano seguinte como número oficial.
Para o Greenpeace, que também
monitora o desmatamento na Amazônia usando
imagens de satélite, sobrevoos e investigações
em campo, não há mais dúvida:
a taxa oficial do desmatamento anual deverá
ultrapassar bastante os 6.451 km2 do ano passado.
“Comparando as variações anuais entre
Deter e Prodes nos últimos anos com os dados
do SAD, sistema da ONG Imazon, dá para estimar
que a taxa anual será por volta de 7.500
quilômetros”, diz Paulo Adario, diretor da
campanha Amazônia do Greenpeace.
Quem está no campo, não
tem dúvida: o motor para a devastação
inesperada esse ano veio do Congresso. “Com o projeto
que derruba o Código Florestal aprovado na
Câmara, os ruralistas passaram o recado de
que desmatar vale a pena, que o crime será
recompensado e que a destruição será
incentivada”, diz Paulo Adario. “O resultado disso,
como a gente pode ver, foi imediato no campo. Isso
é um desastre para a Amazônia, para
a imagem do governo brasileiro e da presidente Dilma,
que se comprometeu a reduzir o desmatamento da Amazônia.”
O texto dos ruralistas está
no Senado para ser votado, o que deve acontecer
nos próximos meses. Para evitar que o desastre
se agrave, o governo terá de fazer o que
não fez na Câmara: impedir que os ruralistas
consigam aprovar um código florestal que
provoca desmatamento. Para isso, será preciso
separar o que são demandas justas da agricultura
familiar – e atendê-las – ganhando tempo para
uma análise profunda, à luz da ciência,
do projeto ruralista aprovado pela Câmara.
A virada nos números acontece
às vésperas da Rio+20, o mais importante
evento climático da ONU que será sediado
aqui mesmo, em terras brasileiras. Após se
comprometer mundialmente com a redução
de nossas emissões de gases estufa, a presidente
Dilma terá que explicar como, em seu primeiro
ano de gestão, o fantasma do desmatamento
voltou. E com ele, toneladas a mais desses gases
na atmosfera.