“Por fora, bela viola. Por dentro,
pão bolorento”. Este é o ditado mais
apropriado a muitas empresas que, apesar do forte
discurso de sustentabilidade, exercem por baixo
dos panos um lobby pesado para emperrar as negociações
globais por um acordo que tente mitigar os efeitos
da mudança climática.
A uma semana do início
da COP17, a Conferência do Clima das Nações
Unidas que acontecerá em Durban, África
do Sul, de 28 de novembro a 9 de dezembro, o Greenpeace
divulgou nesta quarta-feira, 23, um relatório
em que demonstra como grandes poluidores do planeta,
a exemplo de Shell, BASF, Eskom, ArcelorMittal,
BHP Billiton e Koch agem para influenciar governos
a evitar políticas que prejudiquem seu atual
modelo de negócio, mesmo que isso signifique
uma economia mais sustentável.
O relatório “Os responsáveis
pelo atraso” (título original em inglês:
“Who’s holding us back”) mostra porque as ações
decisivas em benefício do clima está
sendo excluída da agenda política
e resume a falta de ação em regiões
e países chave como União Europeia,
Estados Unidos, Canadá e África do
Sul, entre outros, no sentido de construir as condições
favoráveis para um acordo global sobre a
questão climática.
Uma pesquisa global de 2009, mostrou
que 73% da população dá alta
prioridade à questão climática.
Além disso, oito a cada dez pessoas acredita
que o combate à mudança climática
pode melhorar a economia e gerar empregos. A quem
os governos deveriam dar mais atenção?
“Nossa investigação
mostra que há muitas empresas poluidoras
que exercem forte influência no processo político
para proteger seus interesses particulares”, disse
Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional.
“Em Durban, é hora de os governos escutarem
as pessoas e não as empresas que poluem.”
+ Mais
Clima vira carvão na sede
da COP
Enquanto a África do Sul
se prepara para sediar, no final deste mês,
a conferência da ONU sobre Mudanças
Climáticas, COP-17, o país segue investindo
em geração de enegia elétrica
a carvão, e uma de suas futuras usinas termelétricas,
a estação de Kusile, prevista para
entrar em operação até 2014,
caminha para se tornar a quarta maior poluidora
mundial em termos de gases do efeito estufa. A fim
de parar essa evolução de energia
suja, ativistas do Greenpeace África ocuparam
hoje um guindaste no canteiro de obras da central,
pedindo à estatal Eskom que abandone o projeto
e passe a investir em empregos e fontes de energia
verdes.
Seis ativistas estenderam uma
faixa gigante no topo do guindaste, que dizia: “Kusile:
matador do clima”. Enquanto isso, outros sete ativistas
trancaram-se em frente aos portões de entrada
do canteiro, com banners onde podia ser lido: “Empregos
verdes agora” e “Nenhum futuro no carvão”.
Melita Steele, da Campanha de
Clima do Greenpeace África, afirma que as
promessas feitas pelo governo sul-africano para
combater as alterações climáticas
não têm sentido, a menos que parem
a construção de novas centrais de
energia a carvão como Kusile. “Números
recentes mostram que as emissões de gases
de efeito estufa pela queima de carvão são
uma espiral fora de controle, tendo como uma das
causadoras as novas usinas como Kusile. Se não
for revisto, isso vai condenar centenas de milhões
de pessoas para as terríveis conseqüências
das mudanças climáticas”, diz Steele.
Além disso, um relatório
do Greenpeace publicado recentemente – “O verdadeiro
custo do carvão na África do Sul:
pagando o preço da dependência do carvão”
– mostra que Kusile não somente impulsionará
o caos climático, mas os seus custos externos
e ocultos serão de US$ 8 bilhões por
ano, um preço que os cidadãos sul-africanos
mal podem para pagar.
“Estamos aqui para mostrar que
o verdadeiro custo da Kusile é demasiado
elevado para os sul-africanos pagarem. É
um preço que nem nós, nem o mundo
pode pagar. Carvão deixou de fornecer eletricidade
a mais de 10 milhões de sul-africanos. Há
maneiras mais verdes, mais limpas e mais rápidas
de trazer serviços energéticos para
a África, o carvão está no
meio do caminho e deve ser remetido para o lixo
da história”, afirma Melita Steele.
O Greenpeace pede que a África
do Sul se torne um verdadeiro líder das questões
climáticas, através do investimento
em larga escala em energias renováveis, e
por não comprometer o futuro de seu povo.
Isso criaria uma situação vitoriosa
em termos
de criação de empregos, da proteção
do clima e da prestação dos tão
necessários
serviços de energia.
“Quando o mundo aterrissa sobre
Durban no final do mês e as pessoas em todos
os lugares têm esperança de que o progresso
possa ser feito para se chegar a um acordoque preserve
o clima, o governo sul-africano tem a chance de
liderar, a chance de
fazer história como um herói para
o clima, para a justiça e para o planeta.
Ele não deve desperdiçar essa chance,
deixando uma empresa do próprio governo como
a Eskom zombar das negociações”, concluiu
Steele.