25/01/2012 - Meio Ambiente
- Paula Laboissière - Enviada especial
- Porto Alegre – A ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, rebateu hoje (25) as críticas
de que a Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20) será um teatro de governantes
e disse que confia
na força da sociedade civil brasileira
e mundial para que o evento tenha êxito.
“Na realidade, é
um debate que inicia um processo. A conferência
estabelece processos, uma visão de
médio prazo, novos compromissos e novos
engajamentos. Eu não pactuo dessa visão
de que é um teatro”, disse, ao participar
do Fórum Social Temático (FST)
2012.
Segundo a ministra, o objetivo
da conferência não é rever
paradigmas ou legados da Rio 92, realizada
há 20 anos na capital fluminense, mas
trabalhar o conceito de desenvolvimento sustentável
a partir de uma nova visão de mundo
– onde as relações sociais e
econômicas se modificaram. “A conferência
está toda modelada para uma repactuação
em torno do desenvolvimento sustentável.
É um debate político, não
é uma conferência em que você
vai adotar um instrumento legal vinculante
como foi em 92”, explicou.
Izabella lembrou que esta
é a primeira vez que se faz um encontro
dessa conjuntura no âmbito da Organização
das Nações Unidas (ONU). Segundo
ela, o próprio secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, demonstrou entusiasmo
com a ideia, “porque estamos procurando novos
caminhos de fazer a ONU dialogar diretamente
com os países e a sociedade”.
“É uma conferência
que vai debater novos empregos, inovação
tecnológica, erradicação
da pobreza, segurança alimentar, segurança
energética e hídrica. Vamos
discutir padrões de produção
e consumo sustentáveis, obrigações
para os países desenvolvidos”, disse.
“Muito do que está na conferência
é o que há anos este fórum
aqui em Porto Alegre vem denunciando e mostrando
que é preciso mudar”, concluiu.
+ Mais
Stédile diz que Rio+20
vai ser “teatrinho governamental”
25/01/2012 - Luana Lourenço
- Enviada Especial - Porto Alegre - O coordenador
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), João Pedro Stédile,
disse hoje (25) que a Conferência das
Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, que acontece
em junho, no Rio de Janeiro, poderá
até ser representativa e reunir chefes
de Estado, mas será apenas um “teatrinho
governamental”, sem efeitos sobre o atual
modelo de desenvolvimento capitalista.
Stédile participa
das atividades do Fórum Social Temático
(FST), uma prévia da Cúpula
dos Povos, reunião de movimentos sociais
que acontecerá paralelamente à
Rio+20.
O problema, segundo o líder
do MST, é que os fóruns internacionais,
como a Organização da Nações
Unidas (ONU), não conseguem se impor
ao movimento do capital, comandado pelas grandes
corporações transnacionais e
pelo capital financeiro. Nesse contexto, por
mais que os governos nacionais se esforcem
em propor novos modelos, as mudanças
mais significativas são barradas pelo
capital.
“Desde a década de
11000, quando o capitalismo se internacionalizou,
a força do capital tem se revelado
maior que a força dos governos. A situação
esdrúxula é que os governos
promovem reuniões, seja o G20, sejam
as conferências da ONU e depois os capitalistas
não respeitam. A Rio+20 pode até
ter uma grande representatividade de presidentes,
da presença de todos os países
do mundo, mas no fundo vai ser um grande teatrinho
governamental, porque os presidentes se reúnem,
podem fazer bons discursos e acordos formais,
mas que não terão ingerência
sobre a ação que o capital vem
fazendo sobre os recursos naturais”, avaliou,
em entrevista à Agência Brasil
e à Rádio Nacional da Amazônia.
Em contraponto à
Rio+20, a sociedade civil está organizando
a Cúpula dos Povos, para tentar viabilizar
propostas alternativas que não terão
repercussão na reunião formal,
segundo Stédile. “Nessa cúpula,
tentaremos construir pautas, agendas e ações
de massa comuns para conseguirmos levantar
uma barreira a essa sanha insana dos grandes
capitalistas representados pelas empresas
transnacionais que está provocando
desastres”, adiantou.
O líder do MST ainda
criticou o conceito de economia verde, que
será o foco das discussões da
Rio+20. Para Stédile, a ideia é
“até simpática”, mas não
tem efetividade diante da força do
capital financeiro, e acaba servindo de maquiagem
verde para o modelo tradicional de exploração
dos recursos naturais e de distribuição
das riquezas. “Os capitalistas mais espertos
e que não atuam no polo de especulação
do capital financeiro sacaram que podem dar
um tom de maior sustentabilidade prometendo
que não vão agredir o meio ambiente
para parecer simpáticos à população,
que então vão consumir mais
e eles vão ter lucro maior. Mas quem
manda são os grandes bancos, transnacionais,
as petroquímicas”, apontou.
Radical, Stédile
disse que a saída para evitar uma crise
ambiental e mudar a rota do desenvolvimento
para um caminho mais sustentável é
a estatização do sistema financeiro
em todo mundo, o que, segundo ele, daria aos
governos a possibilidade de financiar um padrão
de crescimento menos intensivo no uso dos
recursos naturais.
“Os governos nacionais
têm que controlar seus bancos para que,
em vez de financiar investimentos que agridem
ao meio ambiente, financiem outros tipos de
investimentos produtivos, uma reconversão
da economia de seus países.”