27/03/2012 - Alana Gandra
- Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro -
Os movimentos sociais que terão representantes
na Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20), programada para junho próximo
no Rio, estão se organizando para tentar
atuar de forma mais coesa, disse à
Agência Brasil Iara Pietrikovski, do
Comitê Facilitador da Sociedade Civil
na Rio+20. Ela faz parte também da
coordenação da Rede Brasil sobre
Instituições Financeiras Multilaterais
(Rede Brasil) e é codiretora do Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Entre as organizações
não governamentais que marcarão
presença na conferência oficial
da ONU e na Cúpula dos Povos, que ocorrerá
paralelamente à Rio+20, no Aterro do
Flamengo, Iara citou a Via Campesina, os Movimentos
das Mulheres e dos Indígenas, a Rede
Brasil, o Fórum Brasileiro de Organizações
Não Governamentais (ONGs) e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Fboms). “São vários segmentos
que fazem parte da Cúpula (dos Povos)
e que estão acompanhando o processo
oficial”, disse a coordenadora.
Ela ressaltou que na conferência
da ONU, as ONGs querem “defender radicalmente
os direitos humanos e todos os princípios
e tratados que foram acordados desde 1992.
A gente quer uma mudança radical de
paradigma”. Observou, entretanto, que cada
grupo é autônomo para defender
a sua posição política.
“Nosso slogan básico é defesa
da justiça social e ambiental, dos
bens comuns e contra a mercantilização
da vida. Mas cada um vai lutar de forma diferenciada”,
reiterou.
Iara Pietrikovski participou,
no fim da semana passada, de reunião
sobre a Rio+20, em Nova Iorque. Ela manifestou
decepção com o que viu e ouviu.
“Os governos não estão assumindo
a sua postura, não estão defendendo
aquilo que eles próprios foram signatários
no passado”. Segundo informou, o documento
para a conferência oficial está
com cerca de 200 páginas. “E não
há negociação”.
Iara criticou os governos
pela posição que vêm assumindo
para a Rio+20. “É frágil, desconectada,
pouco audaciosa. Não rresponde à
expectativa, ao tamanho e à profundidade
dos problemas que estão hoje colocados
na agenda, nos três tripés: econômico,
ambiental e social. Estamos, até o
presente momento, muito frustrados”.
Para a representante do
comitê, o ideal seria que a Rio+20 estabelecesse
uma série de indicadores, metas e decisões
relacionados aos países ricos. “Eles
têm que ser os pagadores”. Alertou que
isso deveria seguir o princípio de
que o país que polui, paga, o princípio
das responsabilidades comuns, porém
diferenciadas, o princípio da precaução.
“São todos princípios que deveriam
estar orientando. Isso significa que o ônus
maior ficaria para os países ricos.
Mas eles não querem ser onerados nessa
dimensão. Então, estão
bloqueando qualquer coisa”.
Ela advertiu que isso não
significa que a posição dos
países em desenvolvimento seja melhor
que a das nações industrializadas.
Na sua opinião, ninguém está
querendo abrir mão do próprio
processo. Segundo Iara, os países em
desenvolvimento estão no que chamou
de posição de resistência.
“Porque eles querem ter o mesmo padrão,
o mesmo modelo dos países ricos. Só
que (é) um padrão insustentável”,
concluiu.
+ Mais
Água é um
dos elementos mais afetados pelas alterações
climáticas, diz presidente da ANA
22/03/2012 - Da Agência
Brasil - Brasília – A água é
o principal veículo afetado pelas alterações
climáticas, e o Pacto das Águas
– documento firmado no 6º Fórum
Mundial das Águas, na semana passada,
em Marselha, na França – não
tratou da questão devidamente. A declaração
é do presidente da Agência Nacional
de Águas (ANA), Vicente de Andreu Guillo.
Ele participou hoje (22), quando se comemora
o Dia Mundial da Água, de audiência
pública da Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
da Câmara dos Deputados.
“O principal veículo
afetado pelas alterações climáticas
é a água. O documento [Pacto
das Águas] precisa tratar dessa questão.
A construção de reservatórios,
mesmo sendo tema polêmico, minimiza
incidentes como alagamentos e garante a 'reservação'
[da água, no sentido de formação
de reservatórios] em períodos
de seca. Nós estamos dependendo de
que, nesse processo de reforma da organização
das Nações Unidas, a água
passe a ter também uma verticalidade
e não apenas essa transversalidade”,
disse.
O presidente da ANA disse
que também é necessária
a criação de fundos globais
para o desenvolvimento de políticas
mais igualitárias em todo o mundo.
No caso brasileiro, além de questões
pontuais, como a qualificação
do saneamento dos municípios, ele aponta
como fundamental o fortalecimento do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
A coordenadora da
Rede das Águas, da organização
não governamental SOS Mata Atlântica,
Malu Ribeiro, disse que o debate do capítulo
18 da Agenda 21, na Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, tratou a água
de forma cautelosa. “Se esse modelo proposto
for colocado em prática, será
o melhor modelo capaz de enfrentar as dificuldades
da escassez. Sem sentarmos [à mesa,
para discussão do tema] grandes usuários
da água, como a agricultura, os municípios
e os estados, será impossível
fazer uma boa gestão da água”,
ressaltou.