16 Agosto 2012 - Em um país
onde predomina a geração de
energia em usinas hidrelétricas,
um novo estudo do WWF-Brasil demonstra que
seria possível aumentar em pelo menos
40% a participação de três
fontes renováveis alternativas — eólica,
biomassa e PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas)
nos leilões de energia nova.
O estudo, intitulado Além
de grandes hidrelétricas: políticas
para fontes renováveis de energia elétrica
no Brasil foi lançada na quarta-feira,
15 de agosto, durante o 8º. Congresso
Brasileiro de Planejamento Energético,
em Curitiba (PR). Dados do trabalho demonstram
que a participação de cada uma
dessas fontes alternativas poderia crescer
no mínimo 10% nas avaliações
mais pessimistas (veja comparativos adiante).
“O Brasil ainda explora muito pouco de seu
grande potencial de geração
de eletricidade por fontes alternativas renováveis”,
afirma Carlos Rittl, coordenador do Programa
de Mudanças Climáticas e Energia
do WWF-Brasil. “Esse levantamento prova que,
com alguns incentivos, é totalmente
possível fazermos uma revolução
na matriz energética brasileira nas
próximas décadas”, ressalta.
Gilberto de Martino Jannuzzi,
professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e do International Energy Initiative
para a América Latina (IEI–LA), que
supervisionou o trabalho, afirmou que o país
dispõe de fontes alternativas com alto
potencial de produção, e existe
uma tendência de queda dos preços
dessas fontes nos próximos leilões.
“O futuro não está mais em grandes
projetos hidroelétricos e muito menos
no uso continuado de fontes fósseis”,
garante o professor. “Há formas de
tornar as fontes alternativas ainda mais competitivas,
por meio da criação de novos
subsídios ou do redirecionamento dos
já existentes, mas que estão
atualmente voltados a viabilizar as fontes
fósseis.”
As páginas do novo estudo do WWF-Brasil
mostram como o país pode incentivar
o aumento da participação das
fontes eólica, biomassa, PCHs e solar
fotovoltaica, que, se bem planejadas, provocam
impactos ambientais muito menores em relação
às grandes hidrelétricas, sem
significar aumento de custos. Também
estão relatadas comparações
com outros países, como a Alemanha,
a Espanha e o Japão, e recomendações
para a construção de políticas
públicas no setor.
Além da supervisão de Januzzi,
o trabalho contou com a coordenação
do professor Paulo Henrique de Mello Sant’Ana,
da Universidade Federal do ABC (UFABC) e do
IEI-LA, que apresentou e detalhou o estudo
num painel do Congresso, na capital paranaense.
“No planejamento energético do Brasil,
podemos fixar metas de expansão para
fontes alternativas no sistema interligado
nacional, associadas ao estímulo à
geração distribuída,
além de adaptação ou
de substituição dos mecanismos
de fomento já existentes”, relata Sant’Ana.
Os vários números compilados
revelam o grande gap existente entre o potencial
brasileiro de geração de eletricidade
das fontes alternativas e a capacidade instalada
e outorgada no país. Para se ter uma
ideia, dos 2.400 empreendimentos de geração
de energia elétrica em operação
em 2011, apenas 777 usavam fontes renováveis
que, juntas, podiam produzir 12,3 milhões
de kW.
Em termos comparativos,
somente a energia eólica já
apresentava, em 2001, um potencial de geração
de energia elétrica de 143 milhões
de kW. Passados 11 anos, estima-se, em 2012,
um potencial de 300 milhões de kW de
energia gerada pelo vento, um total que é
superior ao dobro da capacidade total instalada
no Brasil, atualmente de mais de 114 milhões
de kW, considerando-se todas as fontes geradoras.
Pensando-se no potencial de geração
da energia solar, se o lago de Itaipu fosse
coberto hoje com painéis fotovoltaicos,
a geração ao ano seria de 183
TWh, que é o dobro de toda a energia
que aquela usina produziu só em 2011
(92,24 TWh).
Outra fonte com potencial subaproveitado é
a biomassa com uso de cana-de- açúcar.
De 440 usinas desse tipo em atividade no Brasil,
só 100 delas comercializam o excedente
para o Sistema Elétrico Nacional. O
potencial de geração de eletricidade
estimado só para esta fonte era de
14 milhões de kW em 2009.
Com relação aos custos de produção,
o material do WWF-Brasil também revela
que existe no Brasil uma tendência de
queda nos próximos 10 a 15 anos das
fontes eólica, biomassa (cana-de-açúcar),
enquanto, no mesmo período, há
tendência de elevação
dos custos das usinas hidrelétricas.
“A conclusão é clara: o potencial
dessas fontes é imenso e pouco aproveitado.
Havendo vontade política, o governo
brasileiro tem como promover as ações
sugeridas no documento e, assim, atender a
uma significativa parte das demandas de eletricidade
do país a partir de fontes limpas e
de baixo impacto ambiental”, conclui Carlos
Rittl.