112 Setembro 2012 - A ambientalista
brasileira e ex-senadora Marina Silva foi
apontada como Membro Honorário da União
Internacional de Conservação
da Natureza (UICN) por sua contribuição
inspiradora para a conservação
da natureza. A nomeação foi
anunciada em 11 de setembro, em Jeju, Coreia,
durante solenidade no Congresso Mundial de
Conservação.
Realizado há cada
quatro anos, o Congresso Mundial de Conservação,
que ocorre de 6 a15 de setembro, reúne
governos, cientistas, empresários,
líderes comunitários e representantes
de povos indígenas e organizações
não governamentais de todo o mundo
para discutir o status da conservação
e as soluções que a natureza
oferece para muitos dos problemas da atualidade.
Claudio Maretti, membro
brasileiro do Conselho Global da UICN e líder
da Iniciativa Amazônia Viva da Rede
WWF, recebeu o prêmio em nome da ambientalista
e leu a mensagem de Marina Silva aos participantes
do Congresso (na íntegra, abaixo).
Uma vida dedicada à
Natureza
Marina Silva tem estado
na linha de frente na defesa do meio ambiente,
das florestas tropicais, das comunidades locais
e do desenvolvimento sustentável. Nascida
em uma comunidade rural de seringueiros, ela
se envolveu intensamente com o Movimento dos
Povos da Floresta, que trouxe à luz
a luta pela terra na Amazônia e os riscos
e consequentes impactos para as comunidades
locais e florestas, e contribuiu para o aumento
da conscientização da sociedade
brasileira sobre o desmatamento. O movimento
também propôs o conceito de Reservas
Extrativistas, e promoveu o que hoje é
conhecida como a categoria VI das áreas
protegidas, na classificação
da UICN. Em sua carreira política,
Marina Silva se tornou senadora federal, tendo
apresentado inúmeras propostas em defesa
do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.
Por mais de seis anos, foi ministra do Meio
Ambiente do Brasil.
Contribuições
Como ministra, Marina Silva
desenvolveu o Plano de Ação
para Prevenção e Controle do
Desmatamento da Amazônia, considerado
um marco na forma como o desmatamento da Amazônia
começou a ser enfrentado, e criou uma
nova forma de gestão pública
para lidar com o desmatamento no Brasil.
Durante esse período,
o Brasil foi responsável por mais de
2/3 de todas as novas áreas protegidas
terrestres que foram criadas no mundo. Como
ministra, ela também liderou o Programa
de Áreas Protegidas da Amazônia
(ARPA), a maior iniciativa de conservação
da biodiversidade no mundo - que visa proteger
60 milhões de hectares em áreas
protegidas.
Mensagem de Marina Silva
à UICN, durante Congresso Mundial de
Conservação 2012
É um grande prazer
ter a chance de me tornar membro honorário
da União Internacional de Conservação
da Natureza (UICN), uma organização
pioneira, que desde 1948 se distingue por
sua vanguarda e por sua cada vez mais necessária
visão, tanto da proteção
dos recursos naturais quanto da nossa fabulosa,
mas tão ameaçada, biodiversidade
global.
Entendo este convite como
um reconhecimento mais amplo do trabalho socioambiental
e histórico que tem sido realizado
por todas as mulheres e homens no Brasil e
na América Latina, muitos deles membros
das comunidades tradicionais da Amazônia
e de outros biomas e também ambientalistas
anônimos, além das nossas ONGs
ambientais, formadores de opinião e
comunidade científica.
Vivemos tempos difíceis,
já que as perspectivas globais de conservação
da natureza não são realmente
alentadoras. Junto com a gravidade da crise
climática e da degradação
dos ecossistemas, tem havido uma tendência
crescente de retrocesso na governança
ambiental nas últimas décadas,
tanto no Brasil quanto em outros países.
Além da crise ambiental,
também estamos vivendo uma profunda
crise econômica e social global, cujo
indicador mais dramático são
os 2 bilhões de pessoas que vivem em
pobreza absoluta.
Acredito que todas essas
crises específicas, juntas, fazem parte
de uma maior, relacionada com a nossa própria
civilização, e seu ponto de
partida é uma crise de valores que
gera todas as outras, e que coloca em campos
separados a economia da ecologia, a ética
da política, e o crescimento da equidade.
Mas nós precisamos
continuar acreditando nas pessoas. Pessoas
que têm construído a UICN, desde
o seu início, há muitos anos,
durante essas desafiadoras décadas,
e também as pessoas anônimas
das florestas, das zonas costeiras, das ruas,
das cidades, que lutam para viver na verdadeira
economia ecológica, na inestimável
ética política, e solidariedade.
Precisamos acima de tudo, difundir os valores
de sustentabilidade entre as gerações
mais jovens, para que a cultura da sustentabilidade
torne-se um forte legado para o futuro de
nosso planeta.
Eu percebo a extrema relevância
do atual Congresso Mundial de Conservação,
que mantem a importância de eventos
anteriores da UICN e, de fato, está
superando nossas expectativas.
Obrigada. Esperamos ver
todos vocês. em breve, na America Latina,
no Brasil, na Amazônia.
Marina Silva