12 Outubro 2012 | Por Andréa
de Lima, em Hyderabad - O negociador-chefe
do Brasil na 11ª Conferência das
Partes da ONU na Índia, o embaixador
André Aranha Corrêa do Lago,
credita à Convenção de
Diversidade Biológica (CDB) a melhora
do conhecimento sobre biodiversidade na maioria
dos países do mundo. Por sua megadiversidade,
enfatiza o diplomata, o Brasil confere enorme
relevância a esta convenção.
O embaixador destaca a necessidade
de cooperação internacional,
reiterando que os recursos brasileiros para
os esforços em prol da biodiversidade
são de aproximadamente US$ 5 bilhões
ao ano e que a ajuda internacional soma aproximadamente
US$ 15 milhões por ano. “A cooperação
internacional tem que aumentar consideravelmente
para que alcancemos as ambiciosas metas que
temos”.
Sobre os progressos feitos desde 1992, a propósito
da ECO 92, o embaixador Corrêa do Lago
afirma: “como sabemos muito mais do que sabíamos
há vinte anos, podemos agora seguir
adiante e encarar os desafios de maneira mais
objetiva”.
Leia a seguir a entrevista
exclusiva ao WWF-Brasil, André Corrêa
do Lago, em Hyderabad, durante a COP 11:
Até que ponto o Brasil
conseguiu chegar nesta Conferência preparado
para a implementação do Plano
Estratégico da CDB e das Metas de Aichi?
Embaixador André Corrêa do Lago:
O Brasil chega com várias posições
muito discutidas internamente, porque somos
um país extremamente complexo. Temos
certas áreas que estão preocupadas
mais com uma dimensão do que outra.
No fundo, somos um país cada vez mais
complexo. Tudo dessa convenção
nos afeta. Nós achamos que há
uma oportunidade muito grande desse encontro
dar um salto de reconhecimento no seu objetivo
internacional e de colocar a biodiversidade
no mainstream.
Há algum impedimento
para tanto?
Embaixador André Corrêa do Lago:
O grande problema é que, muitos mais
que outros assuntos relacionados a meio ambiente,
a biodiversidade é identificada como
um tema isolado e não integrado a questões
como desenvolvimento, à economia, à
criação de empregos, aos direitos
humanos. Todos esses temas têm muito
a ver com biodiversidade. Temos de reconhecer
que até hoje foi muito difícil
dar esse passo de mainstreaming de biodiversidade.
Por ser um país megadiverso e o mais
significativo nesse ponto de vista, o Brasil
está muito empenhado nesse sentido.
Achamos que é possível encontrar
um equilíbrio maior entre biodiversidade
e essas outras atividades. Então, quando
você tem essas metas decididas internacionalmente,
quando já se tem vários dos
elementos presentes, e infelizmente o elemento
de cooperação internacional,
e o elemento recurso é o que mais falta,
o Brasil fica muito preocupado que isso provoque
algo muito mais grave do que simplesmente
a Convenção (de Diversidade
Biológica) não conseguir recursos.
Pode ser algo que projete a biodiversidade
para um papel cada vez mais secundário,
e isso é muito grave.
Nesse sentido, o Brasil
já teria esgotado todas as possibilidades
de arregimentar recursos internamente para
a implementação das Metas de
Aichi?
Embaixador André Corrêa do Lago:
Não acredito, porque justamente esse
mainstreaming da biodiversidade ainda tem
muito espaço para crescer no Brasil.
Já há uma consciência
muito maior do que na maioria dos países,
mas ainda há muita coisa que o Brasil
pode fazer. Acho mais do que isso, existe
uma grande expectativa por parte de outros
países em desenvolvimento de que o
Brasil possa liderar nesse sentido. Então
temos uma responsabilidade muito grande.
Alguma sinalização
em relação ao que o Brasil poderia
fazer, sobretudo pelo recorte da inovação,
na mobilização de recursos?
Embaixador André Corrêa do Lago:
Pois é, essa é uma das áreas
onde no fundo fica muito difícil prever
o que daria para fazer. Mas o fato é
que, em teoria, o Brasil tem ao mesmo tempo
os recursos naturais e suficiente inteligência
para ser um dos maiores líderes nessa
área. Mas ainda não atingimos
o potencial que poderíamos.
Se reconhecermos que há
uma interdependência forte entre biodiversidade,
florestas e clima, e alguns países
parecem ainda não ter entendido isso,
seria essa a justificativa para ainda tratarmos
esses temas em convenções como
essa separadamente? Qual o entendimento que
o Brasil tem sobre isso?
Embaixador André Corrêa do Lago:
Em todas as convenções sobre
desenvolvimento sustentável esses temas
são de certa forma abordados. Agora,
qual é o motivo para termos convenções
separadas? É porque os temas têm
certas características que exigem que
eles sejam tratados com uma lógica
particular. É o caso da convenção
de mudanças climáticas e REDD,
por exemplo. Mas, o que quer dizer REDD? É
a sigla em inglês para Reducing Emissions
from Deforestation and Forest Degradation
(Redução de Emissão por
Desmatamento e Degradação de
Florestas). Então essa é uma
maneira de pensar floresta específica
de mudanças do clima. É só
sobre o significado de emissões de
florestas. É como, por exemplo, em
relação aos acordos sobre madeiras
tropicais. Aqui é apenas sob o ponto
de vista do valor da madeira, do seu uso,
que ela é vista. Cada uma dessas convenções
analisa os temas sob o seu ponto de vista.
É normal que nessa convenção
de biodiversidade as coisas sejam vistas do
ponto de vista do valor da biodiversidade.
Por isso não devemos forçar
essa integração entre essas
convenções, mesmo que as pessoas
exijam mais sinergia entre elas. Temos de
ter muito cuidado com isso, pois as convenções
têm lógicas diferentes, membros
negociadores diferentes –por exemplo, essa
daqui não tem Estados Unidos, já
a de Mudanças do Clima tem. Precisamos
saber que não é uma coisa muito
estranha termos então várias
convenções diferentes.
Qual o balanço que
o senhor faz dessa primeira semana de COP11?
Embaixador André Corrêa do Lago:
Acredito que a base das discussões
e decisões nessa primeira semana de
conferência foi bem positiva. Obviamente
e todos sabemos disso que a segunda semana
será muito mais intensa e, normalmente,
as últimas 24 são tão
intensas, que se prorrogam por mais 24 horas.
Acho que estamos num ritmo normal de negociações.