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Outubro 2012 | por Aldem Bourscheit - Brasília
(DF) – Muito arredio e com hábitos
praticamente desconhecidos pela Ciência,
o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é
apontado por pesquisadores como um “fantasma”.
A espécie foi descrita em 1842 pelo
dinamarquês Peter Lund, considerado
o pai da paleontologia brasileira. Desde então,
os últimos relatos oficiais em Minas
Gerais foram rastros e dois animais mortos.
Na última semana,
um exemplar vivo foi filmado no Parque Estadual
Veredas do Peruaçu, no norte do estado.
A façanha foi possível com “armadilhas
fotográficas” instaladas por meio de
uma parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto
Biotrópicos (confira o vídeo
abaixo).
“Há sete anos tentávamos
registrar a espécie na região.
Nem acreditei quando vi a filmagem”, comemora
o biólogo Guilherme Ferreira, do Biotrópicos.
O cachorro-vinagre tem pelagem
marrom escura, corpo alongado de até
70 cm, tem pernas e orelhas curtas e pesa
cerca de 5 quilos. Sua urina tem um forte
cheiro de vinagre. Daí o nome. Pode
ser encontrado no Cerrado, Mata Atlântica
e Amazônia e é um dos menores
e mais sociais canídeos da América
do Sul, pois forma bandos permanentes com
até uma dezena de animais.
“Isso permite ao grupo caçar
presas de grande porte. Esse comportamento
não é visto em outras espécies,
como o lobo-guará, o graxaim ou a raposa-do-campo”,
explicou Frederico Lemos, professor na Universidade
Federal de Goiás.
A espécie está
em situação vulnerável
no país e criticamente ameaçada
em Minas Gerais. Desmatamento, conflitos com
populações, ataques e transmissão
de doenças por animais de estimação
são seus principais inimigos.
Por isso é importante
manter áreas protegidas conectadas
com corredores ecológicos, respeitar
a legislação em propriedades
rurais e cuidar da saúde de animais
domésticos em todo o Vale do Peruaçu,
onde o registrou ocorreu. O rio é um
afluente do São Francisco.
A região faz parte
do Mosaico de Unidades de Conservação
Sertão Veredas-Peruaçu, que
se espalha por quase 2 milhões de hectares
do norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia.
Para o superintendente de Conservação
do WWF-Brasil, Michael Becker, a descoberta
reforça a importância das unidades
de conservação para o Cerrado.
“O registro deixa claro
o papel das áreas protegidas, especialmente
no Cerrado, que tem menos de 3% de sua área
efetivamente resguardada pelo poder público.
Novas metas internacionais para conservação
da biodiversidade pedem pelo menos 17% de
cada bioma terrestre coberto por áreas
protegidas”, ressaltou.
Pesquisa em alta - A parceria
entre o Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil
e o Instituto Biotrópicos está
ampliando o monitoramento científico
sobre mamíferos de médio e grande
porte no parque nacional Cavernas do Peruaçu
e nos parques estaduais da Mata Seca e Veredas
do Peruaçu.
Com o acordo, foram instaladas
câmeras especiais em pontos estratégicos
dos parques, gerenciados pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
e Instituto Estadual de Florestas de Minas
Gerais. Essas instituições também
são parceiras das pesquisas.
No vídeo abaixo,
pesquisadores do Instituto Biotrópicos
explicam como funcionam as "armadilhas
fotográficas":
Na região, WWF-Brasil, Agência
Nacional de Águas, Fundação
Banco do Brasil e Banco do Brasil uniram forças
para recuperar o rio Peruaçu, principal
afluente do rio São Francisco no norte
de Minas Gerais e maior curso d´água
do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
Dar sobrevida ao combalido
rio exigirá ações em
todos os municípios tocados por sua
bacia hidrográfica – Itacarambi, Januária,
Bonito de Minas e Cônego Marinho -,
incluindo a difusão de técnicas
sustentáveis de produção
agropecuária, ampliação
do extrativismo e educação ambiental.