23 Novembro 2012 | Por Jorge
Eduardo Dantas
Relatório divulgado nos últimos
dias pelo programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra
que está cada vez mais difícil
combater o aquecimento global e impedir o
aumento da temperatura média do mundo
para além de 2 graus Celsius até
o fim deste século, como previa a comunidade
científica internacional.
Segundo o The Emission Gap
Report (“Relatório sobre Emissões
Excedentes”, numa tradução livre),
publicado pelo Pnuma em conjunto com a Fundação
Europeia para o Clima no último dia
21, a estimativa de emissões globais
de gases de efeito estufa em 2010, que foi
de 50 bilhões de toneladas, estava
pelo menos 14% maior do que o que deveríamos
registrar em 2020 para termos uma chance significativa
de evitar o aumento aquecimento global para
além dos 2º C.
O documento mostra ainda
que este número, as 50 bilhões
de toneladas, representa um aumento de 20%
no que foi registrado em 2000. Em 2010, o
Brasil contribuiu com 1,6 bilhões de
toneladas deste total. Se este cenário
permanecer, o aumento da temperatura média
global deve ficar entre 3ºC a 5º
C até 2100.
A emissão de gases
de efeito estufa, dióxido de carbono,
metano, óxido nitroso e monóxido
de carbono, que ocorre principalmente por
meio da queima de combustíveis fosseis,
como o uso do carvão mineral, da gasolina
e do diesel, além do desmatamento e
da queimada de florestas, torna mais espessa
a camada destes gases na atmosfera, “guardando”
mais calor recebido pelos raios infravermelhos
do sol.
Com isso, o planeta fica
mais aquecido e os eventos climáticos
extremos – como fortes chuvas, ondas de calor,
recordes de temperatura, furacões e
maremotos, entre outros - tornam-se mais freqüentes
e poderosos, fragilizando populações
por todo o mundo.
Prejuízo já
constatado
O documento traz ainda outros
dados preocupantes: segundo os cientistas
envolvidos no relatório (foram 55 profissionais
de 20 países diferentes), as emissões
globais de gases de efeito estufa a partir
de combustíveis fósseis, mesmo
com a crise econômica mundial, atingiram
um nível recorde em 2011, que foi de
50,1 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.
Se providências não
forem tomadas, as emissões de gases
de efeito estufa poderão chegar a 58
bilhões de toneladas em 2020, disse
o relatório, quando o ideal seria que
este número ficasse em torno de 44
bilhões de toneladas, para que seja
possível evitar os efeitos mais drásticos
das mudanças climáticas. O documento
mostra ainda que, mesmo que os mais ambiciosos
níveis de ação sejam
implementados, ainda existirá uma diferença
de 8 bilhões de toneladas a mais de
gases sendo arremessados na atmosfera somente
naquele ano.
Mudanças possíveis
O relatório aponta
ainda que existe a possibilidade de redução
de emissões na ordem de 17 bilhões
de toneladas/ano, que podem ser obtidas principalmente
nos setores de construção, geração
de energia e transportes.
Essas reduções
poderiam ser obtidas, por exemplo, com a melhoria
dos padrões de construção
de edifícios; com a melhoria da eficiência
energética de prédios; com o
investimento em transportes alternativos ao
automóvel particular e com a adoção
de novos padrões na construção
de carros e na estruturação
de sistemas de descarte e reutilização
de veículos antigos.
Brasil como exemplo?
O documento do Pnuma diz
ainda que, embora subutilizado, o combate
ao desmatamento é considerado uma política
barata de redução de emissões,
já que evita a emissão de dióxido
de carbono (CO2) que ocorre com a derrubada
das árvores.
O relatório cita
a progressiva redução das taxas
de desmatamento na Amazônia como importante
resultado no Brasilpara a redução
de emissões de gases de efeito estufa,
a partir da combinação e políticas
públicas voltadas para conservação
(como a criação de áreas
protegidas e instrumentos econômicos
como taxas, subsídios e pagamentos
por serviços ambientais), e medidas
de comando e controle, beneficiadas por uma
variação negativa dos preços
das commodities internacionais. Estima-se
que cerca de 2.8 GtCO2 equivalente teriam
sido evitadas.
Contexto complicado
Para o WWF-Brasilembora
o país seja citado como exemplo no
relatório, é preciso cuidado
pois os cenários podem mudar drasticamente.
“Acabamos de ver o Congresso
e o Governo aprovarem um Código Florestal
que anistia quem desmatou ilegalmente, dentre
várias outras medidas negativas. Então
existe a possibilidade de que este quadro
seja revertido, com aumento das taxas de desmatamento
na Amzônia e todas as demais regiões
do país. É o que parecem indicar
números recentes do Instituto do Homem
e Meio Ambiente (Imazon) sobre desmatamento
na Amazônia. Isso pode fazer com que
seja difícil para o Brasil atingir
suas metas de redução de emissões,
o que seria péssimo para a biodiversidade,
para os ecossistemas e para o clima do planeta”,
afirmou o especialista.
Rittl afirmou ainda que,
recentemente, o Congresso aprovou mudanças
na lei de distribuição dos royalties
do pré-sal que acabaram com a fonte
de recursos do Fundo Nacional de Mudanças
Climáticas, dificultando a implementação
de ações que visam reduzir as
emissões de gases de efeito estufa.
“Está nas mãos da Presidenta
Dilma vetar as mudanças que acabaram
com esta fonte de recursos, fundamental para
ações de suma importância
para o país, como o combate à
desertificação no semiárido
do Nordeste”, explicou o coordenador.