09
de abril de 2013 - Na última sexta-feira,
5, a aldeia Marãiwatsédé
amanheceu em festa. Para celebrar a devolução
da terra tradicional ao povo Xavante, mulheres
e homens, crianças e velhos receberam
uma comitiva do governo federal com faixas,
danças e corrida de tora. “Estamos
muito satisfeitos com a desintrusão
de Marãiwatsédé. Vencemos
nossa luta e retiramos os fazendeiros e posseiros.
Por isso, queremos agradecer e também
dar as boas-vindas a vocês”, disse o
cacique Damião Paridzané.
A retirada dos ocupantes
não indígenas do território
Xavante foi concluída em janeiro de
2013, garantindo a posse dos indígenas
aos 165 mil hectares de sua terra tradicional,
localizada entre os municípios de São
Félix do Araguaia, Alto Boa Vista e
Bom Jesus do Araguaia. A força-tarefa
responsável pela operação
contou com a participação de
diversos órgãos do governo federal
e das forças policiais.
Durante o ato, o ministro
Gilberto Carvalho da Secretaria-Geral da Presidência
da República, entregou uma carta à
comunidade em que o governo afirma o direito
e a posse plena da terra pelo povo Xavante.
Para Carvalho, o momento é de celebrar
a devolução do território,
mas também reconhecer as dificuldades
por que passa a comunidade e articular soluções
para superá-las. “Vamos seguir trabalhando
com a mesma seriedade com que lutamos e obtivemos
essa vitória [da desintrusão]
para dar condições de expandir
as aldeias, recuperar a área e ter
comida, saúde, educação...
Renovamos aqui nosso compromisso de que a
luta vai continuar. A desintrusão é
apenas o começo de um novo momento
para o povo de Marãiwatsédé”,
disse.
O cacique Damião
entregou ao ministro a borduna Xavante simbolizando
o fim da invasão de Marãiwatsédé
e presenteou os representantes dos demais
órgãos com artefatos e produtos
cultivados na aldeia, tais como o milho tradicional
e feijão.
A comitiva ainda percorreu
áreas da aldeia com visita às
moradias, o posto de saúde e a escola.
Em frente à sua casa, o cacique Damião
apresentou aos visitantes o milho tradicional
Xavante, plantado pelos próprios indígenas,
e declarou a estimativa de produção
de quatro toneladas para este ano.
A comemoração
contou também com a presença
do secretário nacional de Articulação
Social, Paulo Maldos; o secretário
nacional de Saúde Indígena (Sesai),
Antônio Alves; a procuradora do Ministério
Público Federal de Mato Grosso (MPF/MT),
Márcia Brandão Zollinger; o
assessor especial do Ministério da
Justiça (MJ), Marcelo Veiga; os diretores
da Funai de Promoção ao Desenvolvimento
Sustentável (DPDS/Funai), Maria Augusta
Assirati, e de Proteção Territorial
(DPT/Funai), Aluísio Azanha.
Reivindicações
O cacique Damião
entregou aos representantes institucionais
cartas com reivindicações da
comunidade e listou 14 ações
para a ação do poder público
a fim de garantir a segurança e a sustentabilidade
do povo e da terra indígena. Destacou
a situação da saúde e
solicitou a realização de projetos
na aldeia visando incrementar a produção
agrícola e promover a autonomia alimentar
dos Xavante. “Não tem como a gente
roçar com a foice. Precisamos de máquinas
e implementos para plantar fruta, arroz, milho,
mandioca e todos os alimentos tradicionais”,
disse.
A diretora da DPDS/Funai,
Maria Augusta Assirati, afirmou que a devolução
da terra tradicional aos Xavante foi fundamental
e que o momento, agora, é de planejar
o futuro e pensar em como reconstruir a vida
no local. “O que precisamos pactuar aqui é
o olhar sobre o futuro dessas crianças,
jovens, velhos, homens e mulheres. Nossa equipe
está à disposição
para apoiar a implementação
do Plano de Gestão Territorial e Ambiental
de Marãiwatsédé”, disse.
A diretora destacou ainda a mudança
na política indigenista em que a visão
assistencialista tem sido substituída
por políticas que promovam a autonomia
e autossustentabilidade dos povos indígenas.
Antônio Alves, secretário
da Sesai, destacou o comprometimento de reformar
e ampliar o posto de saúde, que funciona
dentro da aldeia. “Saímos daqui com
o compromisso de, junto à Presidência
da República e Funai, transformarmos
a realidade da saúde em Marãiwatsédé”,
declarou. Também reforçou a
prioridade em assegurar a qualidade da água
consumida pelos indígenas e em articular
junto às gestões municipais
o atendimento nos hospitais públicos
da região.
O cacique Damião
falou sobre a necessidade de continuar com
as atividades de vigilância e fiscalização
e de permanência das forças policiais
na área. Sobre o assunto, o ministro
Gilberto Carvalho declarou o compromisso do
governo em manter as equipes da Polícia
Federal e Força Nacional de Segurança
no local até que sejam realizadas capacitações
com os Xavante e estes possam assumir com
segurança as ações de
vigilância.
Após o ato em Marãiwatsédé,
a comitiva do governo federal realizou uma
visita ao bispo emérito de São
Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga,
um dos mais destacados defensores dos direitos
do povo Xavante de Marãiwatsédé,
que comemorou a devolução da
terra. O Bispo recebeu ameaças de morte
durante o processo de desintrusão e
precisou se retirar da região por um
período.