24/05/2013 - 6h07
Meio Ambiente
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Milhões de reais
destinados à despoluição
de rios nas cidades poderiam ser economizados
se os governos tivessem investido efetivamente
no tratamento de esgoto e a sociedade brasileira
mudasse padrões culturais, na avaliação
da bióloga Malu Ribeiro, coordenadora
da Rede das Águas da Fundação
SOS Mata Atlântica.
O alerta será uma
das bandeiras do Encontro Nacional pela Mata
Atlântica, conhecido como Viva a Mata,
que ocorrerá às vésperas
do Dia Nacional da Mata Atlântica, em
27 de maio. As palestras e debates da nona
edição do evento, organizado
para sensibilizar as pessoas sobre a importância
da floresta, terão como foco os direitos
e deveres ambientais no país.
O encontro começa
hoje (24) na Marquise do Parque Ibirapuera,
em São Paulo, com atividades também
no Museu de Arte Moderna (MAM). Na abertura
do evento, que termina domingo (26), será
lançada campanha pelo cumprimento do
Código Florestal.
Para Malu Ribeiro, a situação
das bacias e rios do bioma deve entrar nas
discussões. A partir de dados do governo,
a bióloga disse que a falta de saneamento
básico e a ausência de mata ciliar
nos rios e nascentes têm levado algumas
regiões ao colapso. Segundo ela, o
Sudeste é uma das que mais sofrem com
as consequências desse cenário.
“A população
desses estados perde o efeito regulador de
clima proporcionado pelas florestas. É
esse serviço que, no período
de seca, faz com que a vegetação
contribua para manter o nível dos lençóis
freáticos e, na época de chuva,
evita a erosão de encostas”, explicou.
“Nunca tínhamos visto uma seca extrema
no Rio Grande do Sul como tem ocorrido nos
últimos anos, com produtores enfrentando
problemas graves e tendo que receber água
de caminhão-pipa”, completou.
Malu Ribeiro disse que em
todas as capitais dos 17 estados que abrangem
a Mata Atlântica há rios contaminados.
“A perda da mata ciliar tem gerado grandes
contaminações provocadas por
restos de metais pesados dos chorumes, substâncias
que vêm de cemitérios e que o
subsolo acaba levando para os rios”, explicou.
Nas áreas rurais,
segundo ela, o problema é o uso intenso
de agrotóxicos que acabam chegando
aos rios, e, nas zonas urbanas, a falta de
tratamento de esgoto, a poluição
e os resíduos lançados a céu
aberto.
Nas cidades, segundo ela,
os brasileiros não mostram preocupação
com a escassez de água e nem com o
desperdício. “É um luxo cultural
negativo do Brasil, que acha que tem muita
água. Precisamos lembrar que a água
não é distribuída igualitariamente,
por exemplo. A gente vive a cultura da abundância
e do desperdício: canta no chuveiro,
lava calçadas, brinca no tanque. Mudar
esse comportamento é muito difícil”,
disse.
Para a bióloga, o
novo Código Florestal pode representar
uma ameaça ao bioma. A lei, aprovada
há um ano, deve ocupar grande parte
das discussões previstas para o sábado
e o domingo no Ibirapuera e no auditório
do MAM.
Representantes de várias
organizações não governamentais
vão lançar uma campanha nacional
com o lema “Cumpra-se”, pelo cumprimento do
Código Florestal e a instalação
do grupo de acompanhamento do código
em São Paulo.
Mario Mantovani, diretor
de Políticas Públicas da Fundação
SOS Mata Atlântica, explicou que o objetivo
é mobilizar as pessoas para acompanhar
a implementação da lei. Esta
semana, a organização e outras
entidades voltadas para as questões
ambientais lançaram um observatório
na internet que será usado para monitorar
tudo o que está sendo feito nos estados,
nos municípios e pelo governo federal,
como o cadastramento dos imóveis rurais
do país e a regulamentação
dos incentivos financeiros para os produtores
que preservam.
“Já que as regras
estão valendo, queremos acompanhar
a implementação. O CAR [Cadastro
Ambiental Rural] tem dois anos para ser criado
e quem vai implementar e quais são
os gargalos? Queremos saber isso”, disse Mantovani.
“No caso da Mata Atlântica,
temos uma lei específica, mais restritiva,
que é o código para a região
e que está valendo. Não permite,
por exemplo, tirar um remanescente de floresta
de secundário estágio sem fazer
uma documentação mostrando claramente
o interesse social e a utilidade pública
da obra, como estradas”.
Mantovani lembrou que cada
um dos 17 estados tem dificuldades e características
particulares. O Rio de Janeiro tem 90 mil
propriedades para serem cadastradas. Na Bahia
e no Paraná, o número de imóveis
rurais chega a quase 400 mil.
“Em São Paulo, a
questão da cana-de-açúcar
é muito forte. Na Mata Atlântica,
não há mais conversão
de floresta para agricultura porque os locais
disponíveis hoje são de difícil
uso. Vamos ter que fazer um programa mais
voltado para a regularização
do que existe”, explicou.