10/06/13 - O projeto de
Lei é uma autorização
de concessão de uso do espaço
com o objetivo de oferecer
melhores serviços para a população,
tais como: exploração de restaurante,
estacionamento, trilhas, monitorias, loja,
a exemplo do que é feito nos principais
parques federais brasileiros e no mundo. Resultado
esperado: melhoria da infraestrutura, aumento
do número de visitantes e desenvolvimento
de atividades múltiplas de ecoturismo.
Importante ressaltar que com a concessão,
recursos da iniciativa privada acabam por
desonerar o Estado que prioriza sua função
primordial: a conservação das
áreas. O projeto não trata de
privatização de parques e sim
de concessão de uso de algumas áreas.
Os parques continuam sendo propriedade do
Estado.
Mais uma observação
importante: a exploração por
parte do concessionário tem que manter
e fomentar os objetivos definidos na legislação
ambiental respeitando e priorizando as vocações
características de cada unidade.
O projeto de Lei busca autorização
para conceder o uso remunerado das unidades.
O contrato de concessão será
feito em momento posterior em que serão
definidas todas as obrigações/regras
a serem cumpridas pelo concessionário
dependendo de aprovação do CONSEMA
e dos órgãos gestores das unidades.
+ Mais
Instituto de Botânica
descobre sete espécies de fungos em
Paranapiacaba
28/06/13 - Por Noêmia
Lopes - Agência FAPESP – Estimativas
conservadoras apontam a existência de
1,5 milhão de espécies de fungos
em todo o mundo. Muitas delas ainda são
desconhecidas, mas novos trabalhos na área
aumentam, ano a ano, o que se sabe sobre esse
reino. Pesquisadores do Instituto de Botânica
da Secretaria do Meio Ambiente de São
Paulo (IBt/SP) vêm contribuindo com
tais esforços e acabam de encontrar
sete novas espécies na Reserva Biológica
de Paranapiacaba (RBP), na Grande São
Paulo.
“A cada descoberta, conhecemos
melhor a diversidade dos fungos que ocorrem
no Brasil e no mundo, a história genealógica
do grupo e as relações entre
os seres que o compõem. E essa ampliação
de conhecimentos com certeza será ainda
maior quando identificarmos todos os materiais
que coletamos”, afirma Marina Capelari, pesquisadora
científica do IBt/SP e coordenadora
do estudo responsável pelas descobertas.
Foram coletados fungos da
ordem Agaricales, que reúne espécies
de grande variedade morfológica, incluindo
as popularmente conhecidas como cogumelos
(cogumelo ou basidioma são as estruturas
de reprodução sexuada entre
os Agaricales). Também foram realizadas
coletas no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga
e no Parque Estadual da Cantareira.
Três artigos já
foram publicados sobre as espécies
novas encontradas em Paranapiacaba, com a
descrição de espécies,
combinações – espécies
anteriormente descritas no âmbito de
um gênero e então recombinadas
para outro – e uma variação
– espécie que se aproxima de outra,
mas tem alguma particularidade que a distingue.
New species and new combinations of Calliderma,
publicado em Mycologia, descreve duas novas
espécies (Calliderma fibulatum e C.
rimosum) e propõe duas novas combinações
(Calliderma pruinatocutis e C. tucuchense).
O artigo Two new species
of Marasmius section Neosessiles (Marasmiaceae)
from an Atlantic rain forest area of São
Paulo State, Brazil, publicado em Nova Hedwigia,
descreve outras duas novas espécies:
Marasmius cystidioccultus e M. plenicystidiosus.
Inocephalus (Entolomataceae,
Agaricales) from São Paulo State, Brazil,
também publicado em Nova Hedwigia,
cita uma série de descobertas a respeito
do gênero Inocephalus: três novas
espécies (Inocephalus cervinus, I.
mucronatus e I. tenuis); uma variedade (I.
glycosmus); quatro novas combinações
(Inocephalus azureoviridis, I. cystidiophorus,
I. dennisiie I. flavotinctus); e uma nova
citação para a região
metropolitana de São Paulo (Inocephalus
virescens).
Outro resultado prático
do estudo foi a obtenção de
culturas puras de várias espécies,
principalmente do gênero Marasmius,
que poderão ser analisadas em estudos
aplicados que envolvam enzimas, por exemplo.
“Além disso, o desenvolvimento
do projeto possibilitará a formação
de três doutores em taxonomia de Agaricales,
que podem continuar o levantamento das espécies
de fungos em território paulista no
futuro”, afirma a pesquisadora. Os alunos
de doutorado do IBt/SP envolvidos no estudo
são Jadson José Souza de Oliveira
e Fernanda Karstedt (com bolsas da FAPESP)
e Nelson Menolli Junior (com bolsa do CNPq).
Análise das amostras
O projeto, desenvolvido
entre 2010 e 2012, começou com o levantamento
bibliográfico e do material já
depositado em herbário – bastante reduzido
no caso da Reserva Biológica de Paranapiacaba.
Em seguida, a equipe foi a campo, com coletas
quinzenais ou mensais nas reservas. “O tratamento
inicial do material envolveu a descrição
macroscópica de cada amostra, com registros
fotográficos; o isolamento em meio
de cultura, para viabilizar análises
moleculares posteriores; a secagem e o preparo
necessários à preservação
e à inclusão em herbários”,
explica Capelari.
Quando partiram para a identificação
e descrição morfológica
completa dos fungos, os pesquisadores levantaram
aspectos macro e microsópicos dos basidiomas
(ou cogumelos). Para os macroscópicos,
o foco foram as três estruturas principais
dos basidiomas: píleo, lamelas e estipe.
O píleo, o “chapéu”
do cogumelo, foi analisado segundo forma,
superfície, consistência, margem,
coloração e dimensão.
As lamelas, que são as lâminas
na superfície inferior do píleo,
foram analisadas de acordo com a forma de
fixação à estipe, a coloração
e a borda da margem. E a estipe, o “pé”
do cogumelo, foi analisada conforme sua forma,
superfície, ápice e/ou base,
consistência, coloração
e dimensão.
Já para as análises
microscópicas, a equipe fez cortes
transversais nas lamelas, à mão
livre e com lâminas de barbear, e observou
em microscopia óptica (em média
com 800 aumentos) as seguintes estruturas:
superfície superior (tipo e características
das hifas), hifas do contexto do píleo
(coloração, septo, espessura
da parede e diâmetro), trama da lamela
(arranjos e hifas) e himênio (características
dos basídios, basidiósporos
e cistídios). “Essa etapa foi trabalhosa
e demorada. Nem sempre é possível
visualizar todas as estruturas em um único
corte. Às vezes, é necessário
fazer diversos cortes e medir cada estrutura
muitas vezes, entre 20 e 50, para analisar
as variações das características”,
diz Capelari.
Cada nova identificação
foi feita com o auxílio de chaves de
identificação e a comparação
com descrições já publicadas
e, muitas vezes, com materiais depositados
em herbário. “Também foi fundamental
fazer o sequenciamento do DNA das coletas,
uma vez que a taxonomia morfológica
nem sempre é suficiente para identificar
uma espécie. Não é mandatório
pelo Código de Nomenclatura, mas vários
periódicos não têm aceitado
a publicação de espécies
novas sem a confirmação molecular”,
afirma a pesquisadora. Nesse caso, os principais
genes envolvidos são o ITS e o nLSU
– os primeiros a serem utilizados na taxonomia
da ordem Agaricales e de outros grupos de
fungos – e a análise das sequências
de pares é feita por programas computacionais
específicos.
Outros apoios e continuidade
das pesquisas
O estudo contou ainda com
o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes),
por meio do Programa de Pós-graduação
em Biologia Vegetal e Meio Ambiente, e tem
a participação de profissionais
de instituições estrangeiras.
Jean-Marc Moncalvo, do Royal Ontario Museum
(no Canadá), supervisiona o estágio
no exterior de Jadson José Souza de
Oliveira. Sarah Bergemann, da Middle Tennessee
State University (MTSU, nos Estados Unidos),
supervisiona o estágio no exterior
de Fernanda Karstedt.
Alfredo Justo e David Hibbett,
da Clark University (nos Estados Unidos),
receberam Nelson Menolli Junior em um estágio
de curta duração e são
colaboradores em publicações
do gênero Pluteus, assim como Andrew
Minnis, do Agricultural Research Service of
United States Department of Agriculture (ARS/USDA,
nos Estados Unidos).
À frente de projetos
de taxonomia a desde sua tese de mestrado,
iniciada em 1982, a pesquisadora Marina Capelari
reforça a importância da formação
de novos recursos humanos para a continuidade
das coletas de fungos: “O Estado de São
Paulo conta com poucos taxonomistas especializados
na área e muitas de nossas reservas
florestais ainda carecem de estudos”.
Ao contrário
das plantas, que florescem em toda estação,
fixas no mesmo lugar, a formação
dos basidiomas depende da temperatura, da
umidade, do substrato e da frequência
com que cada espécie se reproduz. De
acordo com Capelari, “certos cogumelos são
encontrados todos os anos, enquanto outros
demoram mais de uma década para serem
coletados novamente. É impossível,
portanto, amostrar todas as espécies
de uma região em um período
de dois anos e é fundamental investir
em um esforço de coleta sistemático”.