24/08/2013 - 12h28
Meio Ambiente
Ana Cristina Campos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A cota de recursos naturais
que a natureza poderia oferecer em 2013 se
esgotou na última terça-feira
(20). A data, inclusive, assinalou o Dia da
Sobrecarga da Terra, marco anual de quando
o consumo humano ultrapassa a capacidade de
renovação do planeta. O cálculo
foi divulgado pela Global Footprint Network
(Rede Global da Pegada Ecológica),
organização não governamental
(ONG) parceira da rede WWF.
O levantamento compara a
demanda sobre os recursos naturais empregados
na produção de alimentos e o
uso de matérias-primas com a capacidade
da natureza de regeneração e
de reciclagem dos resíduos, a chamada
pegada ecológica (medida que contabiliza
o impacto ambiental do homem sobre esses recursos).
Em menos de oito meses, o consumo global exauriu
tudo o que a natureza consegue repor em um
ano e, entre setembro e dezembro, o planeta
vai operar no vermelho, o que causa danos
ao meio ambiente.
De acordo com a Global Footprint
Network, à medida que se aumenta o
consumo, cresce o débito ecológico,
traduzido em redução de florestas,
perda da biodiversidade, escassez de alimentos,
diminuição da produtividade
do solo e o acúmulo de gás carbônico
na atmosfera. Essa sobrecarga acelera as mudanças
climáticas e tem reflexos na economia.
Segundo os cálculos
dessa contabilidade ambiental, a Terra está
entrando “no vermelho da conta bancária
da natureza” cada vez mais cedo. No ano passado,
o Dia da Sobrecarga ocorreu em 22 de agosto.
Em 2011, em 27 de setembro.
Para o diretor executivo
da Conservação Internacional,
André Guimarães, a humanidade
vai pagar a conta desse consumo excessivo
na forma de perda de qualidade de vida, de
mais pobreza e doenças, caso não
mude esse quadro. “Esse ritmo de consumo no
longo prazo vai culminar na exaustão
dos recursos naturais. Estamos colocando nossa
qualidade de vida e nosso futuro em risco.
Se consumirmos em excesso a natureza, em algum
momento vamos ter que pagar essa conta na
forma de poluição, doenças,
água menos disponível para nosso
desenvolvimento e nosso uso, pobreza e falta
de alimentos”, disse Guimarães.
Para o ambientalista, o
desafio para as nações é
achar uma maneira de se desenvolver reduzindo
a demanda pelo capital natural. “Assim conseguimos
fechar a equação de meio ambiente
preservado e economia sustentável”.
Segundo pesquisas da Global
Footprint Network, os atuais padrões
de consumo médio da humanidade demandam
uma área de um planeta e meio para
sustentá-los. As projeções
indicam que se o estilo de vida continuar
no ritmo atual, o homem precisará de
duas Terras antes de 2050.
Estudos da ONG internacional
mostram que, no início da década
de 1960, a humanidade empregou somente cerca
de dois terços dos recursos ecológicos
disponíveis no planeta. Esse panorama
começou a mudar na década seguinte,
quando o aumento das emissões de gás
carbônico e a demanda humana por recursos
naturais passaram a exceder a capacidade de
produção renovável do
planeta.
Atualmente, mais de 80%
da população mundial vivem em
países que usam mais recursos do que
seus próprios ecossistemas conseguem
renovar. Os países devedores ecológicos
já esgotaram seus próprios recursos
e têm de importá-los. No levantamento
da Global Footprint Network, os japoneses
consomem 7,1 vezes mais do que têm e
seriam necessárias quatro Itálias
para abastecer os italianos.
Nesse panorama traçado
pela Global Footprint Network, o Brasil aparece
ao lado das nações que ainda
são credoras ambientais, com reservas
naturais abundantes. Esse quadro, porém,
está mudando. O presidente da ONG,
Mathis Wackernagel, lembra que o país
tem uma grande riqueza natural que está
sob pressão devido ao aumento populacional
e aos padrões de consumo. “O Brasil
precisa reconhecer sua riqueza e como pode
usá-la sem gastá-la. O capital
natural vai se tornar cada vez mais importante
em um mundo com restrições de
recursos”, disse Mathis, que enfatiza a importância
de se investir em energia solar e eólica.
Segundo o diretor executivo
da Conservação Internacional,
o Brasil ainda tem abundância de capital
natural e espaço para crescer. “Os
países desenvolvidos já ultrapassaram
o limite de consumo de matérias-primas
naturais. Se todos os habitantes da Terra
tivessem o mesmo padrão de consumo
dos norte-americanos, nós íamos
precisar de quase cinco planetas para dar
conta das demandas da população.
O padrão de consumo dos países
desenvolvidos desorganiza essa balança
e o Brasil está na posição
intermediária caminhando a passos largos
para ser um alto consumidor de capital natural”,
declarou André Guimarães.
Para ambientalistas, a sociedade
precisa repensar seu estilo de vida. Nesse
contexto, dizem, a educação
e a informação são instrumentos
importantes para uma mudança de valores.
De acordo com a secretária-geral do
WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito,
cidadãos e governos têm papel
fundamental na redução dos impactos
do consumo sobre os recursos naturais. “Políticas
públicas voltadas para esse fim, como
a oferta de um transporte público de
qualidade e menos poluente, construção
de ciclovias e o estímulo ao consumo
responsável são essenciais para
reduzir a pegada ecológica”, disse
Maria Cecília.
Ela lembra que as pessoas
podem fazer sua parte. Reduzir o desperdício
de água e energia, o consumo de carne
bovina e de alimentos altamente processados,
usar mais transporte coletivo e adquirir produtos
certificados são algumas das atitudes
recomendadas.
“É importante que
as pessoas se lembrem de que qualquer desperdício
de energia, por menor que pareça, está
sendo feito às custas do planeta ao
gastar mais combustível fóssil.
Podemos fazer nossas escolhas lembrando que
a Terra é finita, como é a nossa
conta no banco. A gente só tem esse
planeta, por que não cuidar dele?”,
ressaltou a secretária-geral do WWF-Brasil.