08/09/2013 - 10h38
Meio Ambiente
Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Mesmo com 60% dos municípios
do país tendo alguma iniciativa de
coleta seletiva, a quantidade de resíduo
sólido urbano que de fato retorna à
cadeia produtiva não chega a 2%. Segundo
o Panorama dos Resíduos Sólidos
no Brasil 2012, da Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais (Abrelpe), 51,4%
do material coletado são matéria
orgânica; 13,5% são plástico;
13,1% são papel, papelão e tetra
pak; 2,9% são metais; 2,4% dos resíduos
são vidro; e 16,7% são outros
materiais.
De acordo com a Abrelpe,
em 2012 foram produzidas 1.436 mil toneladas
de alumínio primário e a reciclagem
fica na faixa de 36%, chegando a 98,3% das
latas de bebida, patamar com pouca variação
nos últimos cinco anos. A produção
de papel foi 10 milhões de toneladas
e a taxa de recuperação com
potencial para reciclagem está em 45,5%.
Já em 2011, o consumo
aparente de plásticos, foi 6,8 mil
toneladas, das quais 1.000 toneladas recicladas
- 57% no caso de PET. Em 2001, a reciclagem
dessas garrafas era 32,9%. No setor de vidros,
o dado mais recente é de 2008, quando
a capacidade de produção instalada
foi 3 mil toneladas, sendo 1.292 no setor
de embalagens. Dessas, 47% são recicladas
- incluindo 20% de embalagens retornáveis
-, 33% reutilizados e 20% vai parar em aterros
e lixões.
No setor de vidros, o dado
mais recente é de 2008, quando a capacidade
de produção instalada era 3
mil toneladas, sendo 1,29 mil no setor de
embalagens. Dessas, 47% são recicladas
- incluindo 20% de embalagens retornáveis
-, 33% reutilizadas e 20% vão parar
em aterros e lixões.
O gerente de Projetos da
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente
Urbano do Ministério do Meio Ambiente,
Ronaldo Hipólito, explicou que a Política
Nacional de Resíduos Sólidos
não prevê prazo para implantar
a coleta seletiva e a reciclagem dos materiais.
“Nós colocamos metas
no plano nacional: para 2015 uma quantidade
de reciclagem e outra para 2019. Para os resíduos
úmidos tem a compostagem, a biodigestão.
Mas nós estamos trabalhando tudo paralelamente,
porque não pode fechar primeiro o lixão
para depois fazer a reciclagem”, disse Hippólito.
Em tese, na hora de se fechar um lixão
e colocar em funcionamento um aterro sanitário,
onde só poderá ser depositado
rejeito, obrigatoriamente terá que
haver a coleta para retirar a parte que não
deve ser enterrada, acrescentou.
Quanto às cooperativas
de catadores, Hipólito disse que foi
criado um comitê interministerial para
analisar essa inclusão socioeconômica.
Já foram organizadas cerca de 200 cooperativas,
das 1.300 que o ministério estima existirem
no Brasil. Também foi lançada
uma campanha educativa sobre a importância
da separação dos resíduos.
“Nós solicitamos
ao Ipea, em 2010, um estudo sobre quanto o
Brasil perde ao ano por não reciclar,
por enterrar as coisas que poderiam ser reaproveitadas,
e o Ipea chegou ao número de R$ 8 bilhões
por ano. É muito dinheiro. Essa propaganda
institucional que nós fizemos e pretendemos
voltar esse ano a falar sobre o assunto, serve
para conscientizar as pessoas sobre a importância
que tem isso para a economia como um todo”,
disse o técnico do Ministério
do Meio Ambiente.
De acordo com o secretário
estadual do Ambiente, Carlos Minc, o governo
do Rio de Janeiro tem apoiado as prefeituras
para iniciar os projetos de coleta seletiva.
“Os municípios tem que ter uma equipe
para isso, tem que ter uma campanha de comunicação,
tem que escolher alguns bairros para fazer
um projeto piloto, não é uma
coisa científica, é erro e acerto”.
O superintendente de Políticas
de Saneamento da Secretaria Estadual do Ambiente
(SEA), Victor Zveibil, explicou que 17 municípios,
dos 92 do estado, começaram a implantar
programas de coleta seletiva, entre eles Mesquita,
Petrópolis e Niterói. Além
disso, o governo lançou o Programa
Catadores e Catadoras em Rede Solidária.
“É um programa que a secretaria está
iniciando em parceira com o Ministério
do Trabalho e Emprego, que tem essa missão
de reforçar as cooperativas e trabalhar
a questão da comercialização,
de uma rede de cooperativas para a reciclagem
e para a comercialização. Esse
levantamento já foi feito em 41 municípios”.
Por mês, são
recolhidas na capital 936 toneladas de material
reciclável, dos 150 mil toneladas de
lixo da coleta domiciliar. O material é
destinado a cerca de 50 cooperativas cadastradas
na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb).
O engenheiro Mauro Wanderley Lima, da Diretoria
Técnica e de Logística, lembrou
que a coleta seletiva depende da colaboração
da população. “A ideia é
atingir todos os bairros do Rio até
2016. Agora, precisamos da colaboração
da população e é uma
coleta mais cara, porque você não
pode comprimir o material, não pode
ser misturado. O ideal é que você
terminar de usar a lata de molho de tomate,
o iogurte, dê uma lavadinha e entregue
para a reciclagem”.
A coordenadora do Movimento
Nacional dos Catadores no Estado do Rio de
Janeiro, Claudete Costa, ponderou que a situação
de muitos catadores é precária.
“Eu continuo trabalhando com o pessoal na
rua, a gente cata o material, junta no “burrinho
sem rabo” - carroça manual -, vê
um local estratégico para fazer a triagem
rapidamente e nem todo o material a gente
tem tempo de juntar para reciclar, só
o que está em alta no mercado”. Ela
acrescentou que os catadores interrompem o
trabalho às 15h quando passa o caminhão
da Comlurb.
De acordo com ela, as cooperativas
beneficiadas pela coleta seletiva estão
em situação melhor, mas ainda
há cerca de 240 famílias trabalhando
no aterro controlado de Gericinó, que
vai fechar até o fim do ano. “Então
está no mesmo trâmite que eu,
daqui a pouco estão na rua. O pessoal
quase não tem mais acesso como tinha
antes. Poucas famílias estão
sendo beneficiadas, porque está indo
tudo para [o aterro sanitário de] Seropédica”.
Claudete reclama que falta
apoio da prefeitura para trabalhar. “Falta
tudo, da estrutura do galpão, maquinário,
para a coleta seletiva. Tem muitas cooperativas
que estão na rua, tem muitas que estão
em galpão alugado”.
A SEA anunciou que “em breve”
será inaugurado o Polo de Reciclagem
de Gramacho, que vai aproveitar a mão
de obra dos cerca de 400 catadores que atuavam
no aterro controlado de Gramacho, fechado
no ano passado.