21/12/2013 - 15h25
Meio Ambiente
Ivan Richard
Enviado Especial
Xapuri (AC) - A identificação
na entrada da cidade
é uma referência clara da luta
dos seringueiros. “Xapuri, Cidade de Chico
Mendes”. Com pouco mais de 16 mil habitantes,
o município localizado na região
do Alto Acre, a cerca de 180 quilômetros
da capital Rio Branco, ainda conserva as características
do interior.
A cidade natal de Chico
Mendes tem ruas estreitas, a maioria de blocos
de pedra. Poucas são asfaltadas. Seu
filho mais ilustre é lembrado em praticamente
todos os cantos. Logo na entrada, está
a fábrica de preservativos masculinos
Natex, construída em parceira pelos
governos estadual e federal. Criada para escoar
a produção do látex,
atualmente a empresa não garante plenamente
o retorno financeiro aos antigos soldados
da borracha, que recebem pouco mais de R$
7 pelo quilo do produto.
Perto do centro, a casa
onde Chico Mendes viveu e morreu virou um
ponto de cultivo à memória do
seringueiro. Ao lado, foi erguido o Museu
Chico Mendes, que abriga fotos, textos e objetos
usados pelo líder sindicalista. A cidade
também guarda traços dos conflitos
que há 25 anos provocaram a morte de
Chico Mendes e líderes sindicalistas.
Ao longo dos ramais, como
são chamadas as estradas de chão
batido que dão acesso às propriedades
rurais – as colocações - é
constante o cenário de áreas
desmatadas para criação de gado.
E os números confirmam: nos últimos
15 anos, o rebanho bovino no Acre saltou de
900 mil cabeças para mais de 3 milhões
de animais.
“Hoje a questão da
pecuária adentrou as comunidades rurais
dos antigos seringais em função
das necessidades. Na época, junto com
Chico Mendes, os seringueiros defendiam a
posse da terra, mas não estava definido
que tipo de atividade econômica ia ser
eterna. Naquele momento, era o extrativismo,
porque propiciava o básico do básico
do que se consumia na época”, disse
a vice-presidente do Sindicato dos Produtores
Rurais de Xapuri, Dercy Teles.
Sentado à frente
da casa de Chico Mendes, como costuma fazer
quase todos os dias, o ex-seringueiro Luiz
Targino de Oliveira, 81 anos, teme pelo futuro
da floresta. “Quero ver daqui a alguns anos,
quando não tiver mais nenhuma árvore
e a seca comendo. Porque a briga é
pelo dinheiro. O fazendeiro não está
satisfeito em possuir mil cabeças de
gado, quer possuir 5 mil e destruir. Porque,
para ele criar muito gado, ele tem que destruir
a natureza. Onde tem o único pulmão
de floresta é na Amazônia”.
No Seringal Cachoeira, onde
Chico Mendes viveu boa parte da vida, a criação
de gado e a retirada seletiva de madeira fazem
parte do dia a dia dos extrativistas. Os longos
percursos, antes feitos a pé, hoje
são desbravados por motos. A escola
idealizada por Chico Mendes evita que os filhos
dos homens da floresta precisem ir até
a cidade para estudar.
“Ninguém produz
riqueza, mas vive com a barriga cheia e corpo
coberto. Hoje, vemos nossos filhos ir para
a escola e voltar porque a escola está
aqui na casa dos seringueiros. A cada três
horas de caminhada tem escola e também
temos ônibus escolar. Então,
é suficiente para a gente viver com
a barriga cheia, corpo coberto e tranquilidade.
Hoje, boa parte [das pessoas] tem geladeira
e televisão. É uma vida que
nem se compara com a vida que nós tínhamos
aqui há dez, 20, 50 anos”, disse Raimundo
Mendes de Barros, primo de Chico Mendes.
Edição: Marcos Chagas