Conheça
três destinos ecológicos no Brasil para visitar
durante as férias
02/01/2010
- da Folha Online - Uma das maiores preocupações
do mundo atual é com o aquecimento global e a preservação
da natureza. Se você se preocupa com tudo isso e quer
viajar sem prejudicar o planeta, o "Guia Viagens Ecológicas",
da Publifolha, apresenta uma seleção com cem
hospedagens ecológicas localizadas nos cinco continentes,
da América do Sul à Oceania e Ásia. São
hotéis, pousadas, cabanas e bangalôs que possuem
em comum a preocupação com o meio ambiente.
Os destinos
foram selecionados pelo "compromisso genuíno com
uma forma aperfeiçoada e mais ecológica de turismo".
Dentre o critérios pesquisados para avaliar os empreendimentos
indicados no guia estão o impacto sobre o solo resultante
de sua construção, o tratamento do lixo, se
o negócio é de propriedade de habitantes locais
e se o dinheiro vai para projetos comunitário, além
do benefício econômico do turismo para a comunidade
local.
Veja
abaixo informações sobre três dos destinos
selecionados no Brasil: Cristalino Jungle Lodge, no Mato Grosso;
Fazenda San Francisco, no Mato Grosso do Sul; e a Reserva
Mamirauá e Pousada UakarI, no Amazonas.
CRISTALINO
JUNGLE LODGE
Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil
Admiradores
de aves, preparem-se. Esta pousada notável é
a melhor da América do Sul para quem deseja observar
espécimes da planície Amazônica. Entre
as 550 espécies catalogadas aqui, é comum encontrar
o gavião-real e o socoí-ziguezague. Além
de Iwokrama, na Guiana, em nenhum outro ponto da Amazônia
são tão boas as chances de observar antas, onças-pintadas
e outros grandes mamíferos.
A Fundação
Ecológica Cristalino - reserva particular que pertence
ao hotel - e o adjacente Parque Estadual Cristalino, cujas
terras alcançam o estado do Pará, são
um refúgio para a vida selvagem amazônica que
foge da devastação da soja, da madeira e do
gado no Centro-Oeste brasileiro. A região foi classificada
como "área prioritária de conservação
da biodiversidade" na Amazônia brasileira, segundo
a definição do histórico seminário
"Biodiversidade na Amazônia", realizado em
1999 em Macapá. Até meados da década
de 1970, a região era o cerne de uma enorme faixa de
floresta de planície que se estendia desde o distante
norte do rio Amazonas até quase mil quilômetros
ao sul do Pantanal de Mato Grosso. Hoje, porém, as
fazendas tomaram boa parte do Pantanal, e mesmo o Parque Estadual
Cristalino sofre pressões do poderoso lobby da agricultura,
que controla a política local. A existência do
Cristalino depende muito do turismo, assim como suas campanhas
de conservação (conduzidas pela Fundação
Cristalino) e os trabalhos científicos e comunitários;
por isso, podemos afirmar que pouquíssimos hotéis
merecem mais a visita de turistas conscientes, e que nenhum
outro na América do Sul faz mais por merecer o dinheiro
dos ecoturistas.
O hotel
possui aposentos de vários tipos. Os bangalôs
VIP são as acomodações mais confortáveis
das florestas ao sul da Costa Rica: chalés elegantes,
com lambris de madeira e muitas vidraças, camas de
casal e banheiros com chuveiros aquecidos por energia solar,
áreas de lazer com sofás e varandas com redes.
Os quartos simples são chalés de concreto com
piso de lajotas, camas de solteiro ou casal e banheiro. Localizam-se
numa clareira pontilhada por árvores e estão
interligados entre si e ao restaurante por trilhas. Há
quartos mais austeros na área do restaurante.
As atividades
no Cristalino giram em torno da vida selvagem, mas quem se
interessa por aventuras encontra opções como
rapel e acampamento na floresta (dormindo em redes). As instalações
são excelentes e o serviço de guias é
o melhor da Amazônia. A lista de aves foi compilada
por ornitologistas lendários como Robert Ridgley e
Kevin Zimmer, e reúne várias espécies
endêmicas. É possível agendar excursões
com especialistas capazes de identificar todas as espécies
existentes, e os guias saberão onde e quando encontrar
todos os animais, até os mais esquivos.
A torre de observação de 50 metros de altura
é a melhor dos trópicos, e permite ver muitas
espécies que sobem em árvores, como os raros
macacos saqui e titi. Há também um abrigo para
a observação de antas, porcos selvagens ou,
quem sabe, um grande felino. Telescópios, binóculos
e gravadores ficam à disposição, e há
uma excelente biblioteca com guias regionais. Caminhadas,
guiadas ou não, passeios de canoa e lancha permitem
que o hóspede veja outros animais, e há visitas
opcionais às comunidades ribeirinhas e ao ninho do
gavião-real na unidade do hotel em Alta Floresta, a
2 horas de viagem.
FAZENDA
SAN FRANCISCO
Estrada Miranda-Corumbá, Pantanal, Mato Grosso do Sul,
Brasil
É
preciso tomar cuidado no Pantanal, região onde proliferam
jacarés, capivaras (maior roedor do mundo), sucuris
(que dispensam apresentação) e, para completar,
grandes felinos. A mescla de pastos e ambientes naturais -
brejos, florestas, cerrados e terrenos com vegetação
rasteira -recobre uma área comparável à
da França e concentra 3% das planícies de inundação
do planeta; está recheada de aves como a ema e o tuiuiú,
que chega a atingir 1,5 metro de altura. Aves de rapina estão
por toda parte, como os corvos nos milharais, e o canto estridente
de papagaios e araras ecoa céu adentro. O melhor lugar
do Pantanal para ver essas criaturas é a Fazenda San
Francisco.
O hotel
ainda está muito distante do ecoturismo de alto padrão
praticado pelos empreendimentos brasileiros Cristalino e Uakari.
A reciclagem é irrisória, a conservação
de energia é inconstante e a educação
ambiental dos funcionários limita-se ao mínimo.
Apesar de tudo, a Fazenda San Francisco desempenha um papel
vital para o ecoturismo. Ela é pioneira no Mato Grosso
do Sul, uma região de criadores de gado, e seu programa
singular de proteção a grandes felinos garante
a sobrevivência de onças-pintadas, suçuaranas
e jaguatiricas ao lado de rebanhos de gado.
Na virada
do milênio o hotel lançou o projeto Gadonça,
que visa determinar se é possível manter uma
fazenda de gado lucrativa sem afugentar os grandes felinos.
A pesquisa demonstrou claramente que, quando os fazendeiros
preservam populações de cervos, capivaras e
porcos-selvagens, os grandes felinos escolhem matá-las
em vez de abater o gado. O Gadonça provou ainda que
a arrecadação proveniente de turistas que viajam
para ver onças-pintadas em seu ambiente natural supera
de longe (em cabeças de gado) o valor poupado com seu
extermínio.
Para
os hóspedes de uma só noite a Fazenda San Francisco
garante a vista de pelo menos um grande felino. É certo
encontrar muitos jacarés, capivaras, emas e cervos-do-pantanal.
Exceto pela Amazônia, não se vê tantas
aves em nenhum outro lugar.
As acomodações
são casas simples de alvenaria em um jardim de buganvílias,
visitadas por centenas de cardeais-da-amazônia, bandos
de periquitos e famílias de emas. Os quartos com cama
de casal ou solteiro têm ar-condicionado e contam com
piso de lajotas, banheiro e geladeira. Trilhas conduzem os
quartos à piscina e ao refeitório aberto, onde
são servidas generosas porções de carne,
complementadas por pratos locais como feijão, arroz,
farofa e salada - para saciar a fome de qualquer turista.
RESERVA
MAMIRAUÁ
Tefé, Amazonas, Brasil
A reserva
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá habita
o coração da floresta Amazônica, em meio
a duas grandes artérias fluviais: o rio Amazonas e
seu afluente de águas escuras, o rio Negro. Somada
a dois vizinhos, a Reserva Amanã e o Parque Nacional
do Jaú, Mamirauá forma a maior extensão
de florestas tropicais sob proteção do planeta,
com uma área superior à de muitos países
europeus. Sua mera existência deve-se sobretudo ao trabalho
realizado aqui, e uma viagem à reserva pode contribuir
para sua continuidade.
Na
época das chuvas, o Negro e o Amazonas são unidos
por uma rede de cursos d'água onde a vida prospera.
A abundância de aves e peixes chega a tal ponto que
a área é uma das poucas protegidas pela Convenção
sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional,
que a classifica como inestimável para o futuro da
biodiversidade no planeta. Entre os milhares de espécies
raras ou ameaçadas estão grandes mamíferos
fluviais (entre os quais duas espécies de botos), o
peixe-boi e o jacaré-do-pantanal. A concentração
de primatas não é superada por nenhuma outra
região do mundo, sem mencionar a paisagem com labirintos
aparentemente infinitos de água, céu aberto
e extensões ininterruptas de floresta.
Divulgação |
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"Guia
Viagens Ecológicas", da Publifolha |
Os
visitantes da Mamirauá hospedam-se na Pousada Uakari,
batizada em homenagem ao macaco-vermelho cuja proteção
deu ensejo à criação do estabelecimento
em Mamirauá. Apenas uma pousada que sobe e desce com
as águas e emprega descendentes de etnias que ocuparam
o rio por milhares de anos poderia integrar-se tão
bem à Amazônia. A vida selvagem está por
toda parte. O som de sapos, cigarras, macacos e aves nas árvores
é a incessante trilha sonora. Botos cor-de-rosa saltam
nas águas dos rios e um enorme jacaré-açu
vive a poucos passos do restaurante.
Os quartos,
de madeira, são simples porém espaçosos,
com banheiro, cama de casal com mosquiteiro e enormes janelas
com tela. O cardápio oferece peixes de água
doce, arroz, feijão e saladas; e para beber, sucos
extraídos de uma enorme variedade de frutas desconhecidas
para quem não for amazonense: cupuaçu, taperebá
ou camu-camu, fruta com a maior concentração
de vitamina C da qual se tem notícia.
Mamirauá
é dominada pela água - o coração
da Amazônia mais parece uma sequência de gigantescos
rios e lagos entrelaçados e cortados por trilhas de
terra firme do que uma reunião de rios. Por isso, quem
vai à reserva passa boa parte do dia no rio - em lanchas
motorizadas ou em canoas -, faz curtas caminhadas pela floresta
e visita a população cabocla. O serviço
dos guias é de primeira classe, e a pousada ainda conta
com uma pequena mas útil coleção de manuais.
Embora
a reserva tenha sido criada para proteger e manter as florestas,
seu povo e sua vida selvagem (graças sobretudo à
perseverança de cientistas brasileiros e europeus),
o ecoturismo é fundamental para sua sobrevivência.
Mamirauá recebe auxílio estatal e privado (por
intermédio de organizações como a Wildlife
Conservation Society), mas a renda do turismo financia diversos
projetos comunitários desenvolvidos na reserva. Os
turistas garantem ainda uma das várias fontes de renda
sustentável para uma população cabocla
de cerca de 10 mil pessoas que moram na reserva, com a qual
eles terão a oportunidade de interagir.
"Guia
Viagens Ecológicas"
Autor: AA Publishing
Editora: Publifolha
Páginas: 328
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria
da Folha
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