Fórum
Mundial da Água: em cinco dias de atividades, evento
reúne 97 mil em Brasília
Cerimônia de encerramento
ocorreu nesta sexta, no Centro de Convenções
Ulysses Guimarães. Edição já
é considerada a maior da história do fórum.
Por Marília Marques,
G1 DF - 23/03/2018 13h38 Atualizado há 4 horas -
Após uma semana de atividades, o 8º Fórum
Mundial da Água chegou ao fim, na manhã desta
sexta-feira (23). Com o tema "Compartilhando Água",
a edição de Brasília, primeira no Hemisfério
Sul, mobilizou um público de 97,1 mil pessoas. A
expectativa é chegar a mais de 100 mil até
o fim do dia.
Ao todo, foram cinco dias
de debates com lideranças de 172 países. As
principais mesas ocorreram no Centro de Convenções
Ulysses Guimarães, espaço que reuniu a maioria
do total de 300 painéis realizados ao longo do evento.
O 8º Fórum ocupou
também outros espaços da cidade, com atividades
esportivas e culturais na Orla do Lago Paranoá, mostra
de cinema no Cine Brasília e atividades ligadas aos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável no Planetário.
A Vila Cidadã, com atividades gratuitas, também
foi palco de diversas atrações relacionadas
à água.
A sessão de encerramento,
nesta sexta (23), foi marcada pela divulgação
de duas declarações elaboradas no fórum:
a Declaração de Sustentabilidade e os Compromissos
Parlamentares. Os documentos se juntaram a outras quatro
declarações que resultaram do evento.
O texto sobre sustentabilidade
chamou a atenção para a situação
atual das políticas sobre água. De acordo
com o documento, as ações no mundo "não
estão sendo suficientes" para alcançar
os objetivos da Metas de Desenvolvimento Sustentável
(ODS).
"Os objetivos sustentáveis
não poderão ser implementados com as políticas
correntes. [...] Ninguém deve ser deixado para trás,
incluindo as populações refugiadas."
A declaração propõe, ainda, a prevenção
de conflitos, a diplomacia da água e alianças
internacionais como condições para a universalização
da água e dos saneamento básico.
Em julho, o texto será
levado ao Fórum Político de Alto Nível
sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas, que acontece nos Estados Unidos. A ideia é
garantir alianças cooperativas, reformas hídricas
e inovações financeiras, dizem os organizadores.
Compromissos parlamentares
Outro documento apresentado nesta sexta, durante a cerimônia
de encerramento do fórum, foi o "Compromisso
Parlamentar". A elaboração do conteúdo
teve a participação de 150 deputados e senadores
de 40 países. Ainda neste ano, a declaração
será enviada a parlamentos de todo o mundo.
A apresentação
do manifesto foi feita pelo senador brasileiro Jorge Viana
(PT/AC). O documento estabelece objetivos a serem alcançados,
como a conquista do "saneamento como direito fundamental
humano". A declaração propõe ainda
a criação de mais leis que possam "garantir
políticas públicas de uso eficiente da água
e combate ao desperdício", explicou.
Versão brasileira
Esta edição do Fórum Mundial, em Brasília,
foi marcada por ineditismos. Esta é a primeira vez
que o evento tem a participação efetiva de
membros do Poder Judiciário. Nesta semana, juízes
e promotores elaboraram a Carta de Brasília. O documento
apresenta dez diretrizes para o reconhecimento do acesso
à água como direito fundamental.
O documento elaborado servirá
para orientar magistrados de todo o mundo no julgamento
de casos relacionados ao acesso da população
à água. Entre outros princípios, a
carta reconhece os recursos hídricos como bem de
interesse público e trata da função
ecológica da propriedade.
Além disso, esta também
é a primeira vez, segundo os organizadores, que o
evento garante a participação de jovens –
de até 35 anos – em todas as mesas de discussões
do evento.
Durante a cerimônia
de encerramento, Tatiana Silva, uma das jovens delegadas
do Conselho Mundial da Água no Brasil falou sobre
a diversidade de ideias no evento, mas sugeriu a “inclusão
de mais pessoas em situação de vulnerabilidade”
no evento. “Precisamos fazer esse ambiente ainda mais
diverso”, afirma.
“São mais de
15 milhões de pessoas no Brasil vivendo em situação
de vulnerabilidade, sem acesso à água e saneamento,
e essas pessoas têm que estar aqui."
Principais temas
Ao longo de cinco dias de debates, o fórum levou
para as mesas de discussões temas como saneamento
e direito à água. A situação
de rios brasileiros, como o da bacia do Rio Doce também
foi lembrada.
Os dois últimos grandes
desastres ambientais brasileiros, da barragem de Mariana,
em 2015, e o de Barcarena, no início de março,
foram lembrados em, pelo menos, cinco painéis realizados
no primeiro dia do fórum.
Na mesa "Conectando
Água e Clima", o professor da Universidade Federal
de Alagoas Luiz Carlos Molion questionou o motivo das grandes
empresas "trabalharem de forma correta em seus países",
e quando instaladas no Brasil, “não trabalharem
corretamente”.
A referência, segundo
o pesquisador, é ao vazamento de depósitos
darefinaria norueguesa Hydro, que contaminou rios em Barcarena,
no Pará. O pronunciamento no fórum acontece
na mesma tarde em que a empresa emitiu um comunicado oficial
no site assumindo que descartou água não tratada
no rio Pará.
Já na quarta (21),
fora do espaço do fórum, integrantes do Greenpeace,
organização internacional que atua em defesa
do meio ambiente, protestaram em frente à Câmara
dos Deputados contra um projeto de lei que pretende alterar
o licenciamento ambiental vigente. A votação
deve ser em abril.
Na calçada de acesso
ao Anexo II da Casa, um homem sujo de lama estendido no
chão interrompia a passagem dos servidores. Uma faixa
colocada atrás dele dizia: “Maia, não
suje suas mãos”, em referência ao presidente
da Casa, Rodrigo Maia.
A intervenção
faz alusão ao rompimento da barragem de Fundão,
desastre ambiental que afetou principalmente a região
de Mariana (MG), em 2015.
Fórum Mundial 2021
Na cerimônia de encerramento, o Conselho Mundial da
Água – organizador do fórum –
também "passou o bastão" para a
delegação do Senegal. O país da África
Ocidental será a próxima nação
a sediar o encontro. O 9º Fórum Mundial da Água
está marcado para 2021, na cidade de Dacar.
De acordo com um jornal local,
Le 360 Afrique, apenas 4% das aldeias do país –
do total de 400 - estão ligadas à rede de
água senegalesa (SDE). O número pode ser considerado
significativo já que as áreas rurais do país
abrigam 67% da população do Senegal.
Essa situação
pode ser explicada, segundo disse ao veículo local,
o ex-oficial de comunicação da Companhia Nacional
de Água do Senegal (Sonees), Momar Seyni Ndiaye,
pelo fato de o abastecimento de água obedecer a várias
"razões" de rentabilidade”, o que
causaria esse "desequilíbrio que priva grande
parte da população desse precioso líquido",
explica.
Tecnologia a favor da água
Drone durante coleta de amostra de água realizada
por cientistas (Foto: Nati Harnik/AP) Drone durante coleta
de amostra de água realizada por cientistas (Foto:
Nati Harnik/AP)
Drone durante coleta de amostra de água realizada
por cientistas (Foto: Nati Harnik/AP)
Aplicativos, tecnologias e programas de última geração
usados na gestão sustentável da água,
em todo o mundo, também foram amplamente destacados
nesta 8ª edição do Fórum Mundial
da Água, em Brasília.
Um dos exemplos é
a plataforma desenvolvida por pesquisadores do Instituto
de Geociências da Universidade de Brasília
(UnB). No painel sobre tecnologia, na quarta (21), os especialistas
mostraram ao mundo o sistema de monitoramento das águas,
via satélite, que foi usado para avaliar a qualidade
de rios brasileiros, como o da bacia do Rio Doce, em Minas
Gerais.
O equipamento emite imagens – também feitas
por drones – que revelam a coloração
da água e, em alguns casos, a presença de
alterações na superfície dos rios.
O objetivo, segundo os pesquisadores, é enxergar
fatores que podem representar risco à água
e à vida útil do ecossistema.
Diversidade
Pelos corredores do 8º Fórum Mundial da Água,
em Brasília, a palavra água, foi dita e ouvida
a todo instante em diversas línguas. Ao todo, 172
países estavam representados no evento.
Ao G1, a representante da
etnia Pocoman na Guatemala Ana Perez Conguache falou sobre
o significado da água para o seu povo: "A água
tem um valor sagrado".
Por Angola, o gestor ambiental
Rafael Miguel Neto destacou a importância de "alertar
o mundo para pouparmos água e dar mais importância
às políticas públicas de distribuição
e de tratamento."
Fórum Mundial da Água
O Fórum Mundial da Água é realizado
a cada três anos em um país diferente. A primeira
edição ocorreu em 1997, em Marrakesh, no Marrocos,
e a última em 2015, em Daegu, na Coreia do Sul.
O encontro deste ano destacou
o tema "Compartilhando Água". O objetivo,
segundo os organizadores, é estabelecer compromissos
políticos e incentivar o uso racional, a conservação,
a proteção, o planejamento e a gestão
da água em todos os setores da sociedade.
Em Brasília, o 8ª
Fórum Mundial da Água reuniu, de 18 a 23 de
março, representantes de 172 países, entre
cientistas, governantes, parlamentares, juízes, pesquisadores
e demais cidadãos. Os debates foram encerrados nesta
sexta-feira (23). A programação da Vila Cidadã
segue aberta até as 21h, no estádio Mané
Garrincha.
Do G1