O lago que
sumiu
Desastre no Parque da Aclimação
faz lago desaparecer
Ativistas
do Pick-upau estiveram no Parque da Aclimação,
na região centro-oeste da capital paulista, para
analisar a situação do lago que sofreu uma
evacuação completa de sua água, após
um temporal na semana passada.
Durante
a visita, os ativistas puderem verificar que ainda há
lixo na área do lago e um forte cheiro de carniça,
indício da morte de animais. Os ativistas tentaram
falar com um funcionário do parque que preferiu não
se manifestar. Em pouco mais de duas horas, tempo que durou
a visita, a equipe do Pick-upau registrou a perplexidade
de usuários que custam a acreditar no que aconteceu.
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Funcionário
do Parque da Aclimação caminha 'sobre'
o lago. |
Causas do acidente
Segundo
informações da Secretaria do Verde e Meio
Ambiente de São Paulo, o desastre foi causado pelo
rompimento do sistema de circulação de água
(vertedouro) que desemboca no rio Tamanduateí. Uma
espécie de caixa d’água que agrega o
sistema e controla o nível da água que vem
do córrego Pedra Azul.
O
lago que possui cerca de 33 mil metros quadrados e capacidade
para 78 mil litros cúbicos de água, o equivalente
a 30 piscinas olímpicas, escoou para a rede pluvial
em pouco mais de cinquenta minutos, arrastando vários
animais como peixes, anfíbios, répteis e aves.
Informações
contraditórias
Apesar
dos relatos de vários frequentadores, que estavam
no local logo após o acidente, sobre a morte de inúmeros
animais, inclusive de aves, o secretário da SVMA,
Eduardo Jorge, disse à Folha que todas as aves aquáticas
do parque foram resgatadas e salvas, apesar da própria
assessoria de imprensa da secretaria informar que não
tem um balanço de quais espécies de animais
viviam no lago.
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Setenta
e oito mil litros de água desapareceram em
menos de 1 hora. |
O
Sargento da GCM Péricles de Oliveira Leal, que estava
no local por volta das 21h, disse à Folha que até
mesmo marrecos que habitavam o lago foram levados pela enxurrada.
“Uma equipe nossa está tentando salvar os patos,
que ficaram presos na lama do fundo do lago. A água
toda desceu pelo esgoto”, disse ele ao jornal. Já
funcionários do parque afirmam que o lago era moradia
para “toneladas de peixes”, tartarugas, anfíbios
e várias espécies de aves.
Segundo
Vilma Clarice Geraldi, diretora da Divisão de Fauna
da secretaria, 53 aves foram resgatadas do Parque da Aclimação
e transferidas para o Ibirapuera, sendo 41 adultas e uma
ninhada de 12 patinhos, que não estavam no lago.
No entanto, a secretaria não tem estimativa de quantos
peixes e tartarugas se perderam.
Resgate
improvisado
Conforme
apurado pela Folha de São Paulo e pela TV Globo que
estiveram no local logo após o acidente, moradores
e frequentadores tentavam resgatar animais que se debatiam
na lama. Segundo eles, nenhum funcionário do parque
os ajudou na tarefa. Apesar do empenho dos usuários,
vários animais que foram transferidos para um tanque
próximo ao lago não sobreviveram.
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Mais
de uma semana depois do acidente ainda há lixo
no local. |
"Eles
[os funcionários] ficaram de braços cruzados
vendo a gente tirar peixes, gansos e cisnes e não
fizeram nada. Agora querem expulsar a gente daqui com a
desculpa que o parque fecha às 20h", disse o
músico Waldir Borges, 45, que havia ido fazer cooper
no parque, à Folha.
A
Folha presenciou o momento em que uma usuária do
parque pediu a seguranças uma lanterna para ajudar
no resgate dos peixes, já que a copa das árvores
encobre as luminárias na região do lago. A
resposta do funcionário foi que a bateria do equipamento
seria suficiente para apenas dez minutos, e que o tempo
para recarga é de cerca de cinco horas.
Laudo
A
SVMA informou que um laudo irá apontar as causas
do acidente e sugerir o plano de reparo do lago. Sobre obras
no parque as informações ainda são
desencontradas. A chefia de gabinete da Secretaria Municipal
de Verde e Meio Ambiente confirmou que o parque passa por
obras, no entanto, segundo a SVMA, nenhuma delas tem relação
com o lago.
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Trinta
e três mil metros quadrados de devastação. |
Por
outro lado, afirma que duas melhorias foram realizadas no
local, uma para a modernização do sistema
de tratamento da água do Córrego Pedra Azul,
que abastece o lago e outra, mais recente, que cria um sistema
de circulação da água para, segundo
a SVMA, melhorar as condições para animais
que vivem no local.
Condição
dos parques
A
Agência Ambiental Pick-upau faria um levantamento
completo de todos os parques municipais de São Paulo
no segundo semestre, no entanto, o acidente na Aclimação
fez com que a organização antecipasse o início
da pesquisa já para o mês de março.
A
Prefeitura de São Paulo lançou em janeiro
de 2008 o projeto “100 Parques para São Paulo”,
atualmente a cidade possui 51 unidades, segundo a própria
SVMA-SP. A organização irá visitar
todas essas unidades para saber se o fator quantidade está
sendo aliado com a qualidade nesses espaços públicos.
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Administração
do parque isolou toda área do lago. |
Iremos
verificar todos os aspectos pertinentes a uma unidade de
conservação dentro de uma cidade como São
Paulo. Queremos saber se esses parques estão de fato
exercendo sua real função, explica o diretor-executivo
do Pick-upau, J. Andrade.
“O
dossiê levará em conta todos os aspectos de
cada parque, de informações básicas
como segurança, área de estacionamento, aparelhos,
passando por atividades educacionais, estado das construções,
até estatísticas sobre a fauna e a flora,
inclusive com a incidência de espécies exóticas
e nativas da mata atlântica”, disse Andrade.
Informações do levantamento poderão
ser usadas para melhorar e aperfeiçoar os serviços,
se esse for o caso, completa.
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Três
funcionários do parque observam o que sobrou
do lago do Parque da Aclimação. |
Da Redação