Atlas
aponta que crise climática empurra aves para o norte
Dados
indicam que aves florestais aumentaram sua área e
aves de áreas rurais reduziram seu alcance
18/12/2020 – Dados
de 12.000 observadores de aves em 48 países indicam
que populações de aves da Europa mudaram,
em média, até um quilômetro ao norte
todos os anos, nas últimas três décadas
e causa pode ser a crise climática, segundo o European
Breeding Bird Atlas (Ebba2), um dos maiores projetos de
ciência cidadã do mundo sobre biodiversidade.
O livro apresenta mudanças
significativas na variedade de 539 espécies de aves
nativas da Europa nos últimos 30 anos, desde o primeiro
Ebba publicado em 1997, com dados de 1980. A publicação
mostra que cada população hoje pode ser encontrada
cerca de 28 km mais ao norte.
O abelharuco-europeu e a
garça-pequena, espécies mediterrâneas,
por exemplo, estão chegando até o Reino Unido,
França e Holanda, principalmente por causa dos invernos
mais agradáveis. O alfaiate e as pipas-vermelhas
também expandiram seus territórios, provavelmente
pelas melhores condições de habitats, que
vieram com novas leis de proteção.
Segundo os levantamentos,
35% das aves ampliaram sua área de criação,
enquanto 25% reduziram suas áreas e o restante não
apresentou alterações significativas ou essa
tendência ainda é desconhecida. A prova de
que leis de conservação da biodiversidade
são importantes e eficazes é que as aves florestais
protegidas, geralmente expandiram seu alcance.
De certa forma, quando uma
espécie está presente em mais áreas,
é menos provável que ela entre na lista de
espécies ameaçadas. Por outro lado, as espécies
podem estar buscando outras áreas, devido à
perda de habitat natural e não porque a população
aumento. “Os resultados são a confirmação
de que as principais forças motrizes são as
mudanças climáticas e as mudanças no
uso do solo. Ao mesmo tempo, a situação é
realmente muito complexa e é por isso que forneceremos
este conjunto de dados para exploração e investigação
adicionais”, disse o Dr. Petr Voríšek
da Sociedade Tcheca de Ornitologia.
“As aves que foram
legalmente protegidas estão se saindo melhor do que
aquelas que não estão protegidas. Esta é
uma mensagem realmente importante na União Europeia.
Temos uma das políticas mais antigas - a Diretiva
de Aves - e podemos provar que funciona. As aves protegidas
pela Convenção de Berna, como as águias-de-cauda-branca,
também estão se saindo melhor”, disse
Iván Ramírez, chefe sênior de conservação
da BirdLife Europa e Ásia Central ao The Guardian.
Conforme o clima esquenta,
as florestas se estendem pelas regiões boreais e
árticas. Áreas de silvicultura também
foram plantadas no norte da Europa, para o uso da madeira
e da produção de celulose. Existe ainda o
abandono de terras mediterrâneas que prejudicaram
as aves de áreas rurais, mas beneficiaram outras
espécies como pica-paus e aves canoras. Espécies
alpinas também estão perdendo população,
conforme as árvores e a vegetação colonizam
as encostas das montanhas, reduzindo a população
de especialistas em pastagens.
Normalmente as aves de terras
rurais são grandes predadores e sofrem com a redução
de suas populações, pois o avanço agrícola
significa menos oferta de alimentos. O levantamento da condição
da natureza, na União Europeia 2013-2018, mostrou
que 80% dos habitats estavam degradados e que a agricultura
intensiva era um dos principais motivos do declínio
das espécies nessas regiões. Populações
de aves do Reino Unido foram reduzidas em 55% desde 1970.
Segundo os pesquisadores,
quando aves são obrigadas a migrar para outros habitats
no limite de suas áreas de distribuição,
isso pode expô-las ao estresse, sobretudo para espécies
migratórias como andorinhas e andorinhões,
quando pequenas alterações já significam
implicações consideráveis. “Elas
têm aprendido por gerações e milênios
como fazer essas migrações. Elas foram geneticamente
projetadas para fazer uma migração de x quilômetros.
Se você está colocando x mais 10 ou 15 quilômetros,
você as está colocando sob estresse”,
diz Ramírez.
Outro dado importante refere-se
às espécies não nativas. Segundo o
atlas, uma a cada 10 espécies de aves não
é nativa, 57 no total, e 39 delas chegaram a região
nos últimos 30 anos, incluindo o periquito-de-pescoço-redondo,
periquito-monge e o ganso-egípcio, que parecem estar
expandido seus territórios.
Para Ramírez, o aumento
no comércio de animais silvestres, as mudanças
climáticas que estão tornando os habitats
europeus mais convidativos para aves exóticas e a
grande oferta de alimentos nos grandes centros urbanos têm
causado a “tempestade perfeita”. Espécies
invasoras estão entre as cinco maiores causas da
perda de biodiversidade no mundo. Entretanto, os pesquisadores
não analisaram se as espécies exóticas
impactaram as populações nativas.
Nos últimos 30 anos
houve apenas uma extinção identificada, a
codorma-comum, mas se a tendência climática
e outras pressões continuarem é provável
que outras espécies surjam. Segundo Ramírez,
nos próximos 30 anos as populações
diminuirão em habitats que sejam ideais e entrarão
em colapso. “O que a ciência me diz, e o que
vi depois de 20 anos trabalhando com aves, é que
toda vez que publicamos um novo relatório, o estado
geral das aves está sempre diminuindo. Isso não
mudou desde os anos 70, quando a Diretriz de Aves começou,
e nada me faz acreditar que isso vai mudar”, disse
ele.
O atlas está sendo
lançado pela European Bird Census Council (EBCC)
e conta com dados coletados de 2013 a 2017. “Esta
é de longe a cobertura mais ampla e melhor de todas
as espécies de aves que temos em nossa região...
a cooperação internacional nos permitiu fazer
um levantamento detalhado de cada quadrado da região”,
disse Ramírez.
Esperamos que os ornitólogos
possam usar esses dados para desvendar por que essas alterações
populacionais estão ocorrendo e poderá constituir
em novas políticas socioambientais. “Este atlas
mostra, em detalhes sem precedentes, como as populações
de aves estão mudando na Europa”, disse o principal
cientista conservacionista da RSPB, Mark Eaton.
“Previsivelmente,
há vencedores e perdedores. Podemos ver como algumas
espécies, como pernilongos e garças-vaqueiras
se expandiram rapidamente pelo continente e começaram
a colonizar os pântanos do Reino Unido. Em contraste,
podemos ver as distâncias encolhendo a medida que
espécies do norte da Europa sentem o impacto da mudança
climática, e espécies como o Borrelho-ruivo
estão diminuindo em número e distribuição
no norte da Grã-Bretanha”, finaliza.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações do The Guardian
Fotos: Reprodução/Pixabay/Wikipedia