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Superando a ansiedade em relação à separação do plástico

Criados para diminuir a poluição ambiental, os plásticos de base biológica como o ácido polilático (PLA), fazem com que a gestão de resíduos muitas vezes seja um desafio

 
 

17/05/2024 – Devido a sua textura e aspecto, muito semelhante aos demais plásticos, formados a base de petróleo, os plásticos biodegradáveis muitas vezes acabam sendo descartados no fluxo de reciclagem comum, por consumidores bem-intencionados. Nesses locais, são triturados e derretidos junto com os plásticos recicláveis, afetando a qualidade da mistura e a fabricação de produtos funcionais a partir de resina plástica reciclada.

Para combater o problema, atualmente as instalações de reciclagem tentam separar os diferentes tipos plásticos, porém mesmo com ferramentas de classificação mais sofisticadas e automatizadas, alguns plásticos biológicos biológica acabam contaminando os fluxos classificados.

Pesquisadores do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley (Berkeley Lab) e do Joint BioEnergy Institute (JBEI) uniram forças com a X, a incubadora lunar operada pela Alphabet, empresa-mãe do Google. Seu objetivo não é apenas contornar a complicada etapa de separação, mas também aprimorar o produto para benefício do planeta.

A equipe desenvolveu um processo simplificado, chamado de "um pote", para desmembrar misturas de plásticos derivados de petróleo e biológicos. Esse método utiliza soluções salinas naturais combinadas com micróbios especializados. Dentro de um único recipiente, os sais atuam como catalisadores, quebrando as estruturas dos polímeros, que são grandes moléculas repetidas interligadas, em moléculas individuais conhecidas como monômeros. Esses monômeros são então fermentados pelos micróbios para produzir um novo tipo de polímero biodegradável, que pode ser utilizado na fabricação de produtos sustentáveis. Os detalhes desse processo foram publicados em um artigo na revista One Earth.

Chang Dou, associado sênior de engenharia científica da Unidade de Desenvolvimento de Processos Avançados de Biocombustíveis e Bioprodutos (ABPDU) no Laboratório Berkeley, comentou a ironia no fato de que o uso de plásticos de base biológica, destinados a serem mais sustentáveis, estejam causando problemas. A abordagem utilizada pela equipe permitiria a fabricação de base biológica de outros produtos importantes usando as mesmas bactérias que mastigam monômeros plásticos. Poderiam ser produzidos, por exemplo, biocombustíveis ou mesmo medicamentos a partir de resíduos plásticos - sendo que dos quais existem cerca de 8,3 mil milhões de toneladas depositadas em aterros sanitários.

Reprodução/Pixabay

 



Zilong Wang, um pesquisador de pós-doutorado da UC Berkeley envolvido no JBEI, expressou que há um debate em andamento sobre a viabilidade de utilizar resíduos de plástico como fonte de carbono para a biofabricação. Ele destacou que, apesar de ser uma ideia avançada, eles demonstraram a capacidade de alimentar micróbios com esses resíduos. Além disso, com o avanço das ferramentas de engenharia genética, espera-se que os micróbios possam crescer em diferentes tipos de plásticos simultaneamente. Wang prevê o potencial de continuar essa pesquisa, substituindo os açúcares, que são fontes tradicionais de carbono para os micróbios, por plásticos mistos processados e difíceis de reciclar, os quais podem ser convertidos em produtos valiosos por meio da fermentação.

Como continuidade do estudo, os cientistas do Berkeley Lab planejam testar diferentes catalisadores de sal orgânico, buscando identificar um que seja altamente eficiente na decomposição de polímeros e que possa ser reutilizado em múltiplos lotes para diminuir os custos. Além disso, estão elaborando modelos para entender como o processo seria implementado em instalações de reciclagem em larga escala no mundo real.

O estudo demonstrou o potencial de sua metodologia em experimentos de laboratório realizados em pequena escala, utilizando misturas de tereftalato de polietileno (PET) – o plástico derivado do petróleo mais amplamente utilizado, presente em produtos como garrafas de água e fibras de poliéster – e PLA, o plástico de origem biológica mais prevalente.
Durante o estudo foi utilizado um catalisador de sal à base de aminoácidos, previamente desenvolvido por colegas do JBEI, juntamente com uma cepa de Pseudomonas putida criada por cientistas do Laboratório Nacional de Oak Ridge.

Com essa combinação houve uma quebra de 95% da mistura de PET/PLA, transformando as moléculas em um tipo de polímero conhecido como polihidroxialcanoato (PHA). Os PHAs representam uma nova categoria de substitutos plásticos biodegradáveis, projetados para se decompor eficientemente em diversos ambientes naturais, ao contrário dos plásticos derivados do petróleo.

Hemant Choudhary, membro da equipe, observou que o processo de reciclagem química desenvolvido por eles foi testado apenas com sucesso em plásticos PET contaminados com PLA biodegradável. Ele enfatizou que, mesmo assim, o processo seria vantajoso para lidar com os diversos fluxos de plástico encontrados em instalações de reciclagem reais, afirmando que é possível integrá-lo às fontes de plástico existentes. Choudhary salientou que a maioria dos produtos comerciais é composta não apenas por um tipo de plástico, mas por uma combinação de vários tipos diferentes, como no caso de uma jaqueta de lã, que é feita com poliésteres à base de PET, juntamente com poliolefinas ou poliamidas.

Choudhary, explicou que o processo exclusivo da equipe, permite o tratamento fácil do componente de poliéster de uma mistura, convertendo-o em bioplástico. Ele observou-o que os monômeros resultantes são solúveis em água, enquanto as sobras como poliolefinas ou poliamidas, não são. Choudhary também mencionou que essas sobras podem ser removidas facilmente por meio de filtração simples e então processadas através de reciclagem mecânica convencional, que envolve trituração e fusão do material.

Ning Sun, cientista da equipe da ABPDU, autor principal e investigador principal deste projeto, destacou que a reciclagem química tem sido um tema que enfrenta desafios para sua implantação em escala global comercial, devido ao custo elevado das etapas de separação. Ele também ressaltou a promessa de um catalisador biocompatível em água, permitindo que os micróbios convertessem diretamente os plásticos despolimerizados, sem a necessidade de etapas adicionais de separação. Sun expressou entusiasmo com os resultados obtidos, embora reconheça que são necessárias várias melhorias para tornar o processo economicamente viável.

Os coautores Nawa R. Baral e Corinne Scown, especialistas em análise tecnoeconômica no JBEI e na Área de Biociências do Berkeley Lab, também evidenciaram que, mediante a otimização com uma solução salina reutilizável, o processo poderia diminuir os custos e a pegada de carbono dos PHAs em 62% e 29%, respectivamente, em comparação com a produção comercial atual desses polímeros.

Da Redação, com informações de agências internacionais
Fotos: Reprodução/Pixabay

 
 
 

 

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