18/06/2024
– Durante o doutorado em Química na Unicamp na Universidade
Estadual de Campinas, no laboratório de pesquisa de materiais,
Carla Fonseca e Silmara Neves, compartilharam o objetivo de criar
produtos com impacto positivo no meio social e ambiental. Um exemplo
é o aditivo que desenvolveram que promove logística
reversa e economia circular, pois evita que os itens se transformem
em emissões nocivas, além de gerar a mesma quantia
de resina reciclada, que retorna ao processo produtivo.
Em 2011, as empresárias fundaram
sua primeira empresa (IQX), focada em soluções para
equipamentos de proteção individual (EPIs), utilizando
um aditivo para luvas e borrachas que evita descargas elétricas
em trabalhadores industriais. Em 2015, perceberam a demanda por
redução de desperdícios em indústrias
de sapatos e embalagens plásticas. Em 2017, lançaram
o aditivo IQX, facilitando a reciclagem de embalagens flexíveis
e aumentando sua qualidade.
Silmara, cofundadora e sócia
da IQX, explica que os alimentos embutidos, como salsicha salame
ou mesmo o queijo, em geral são embalados em várias
camadas plásticas, para criar uma barreira de proteção
contra umidade, oxigênio e para aumentar a durabilidade do
produto e diminuir os desperdícios.
Ao evitar o envio das sobras de embalagens
plásticas a aterros sanitários ou à incineração,
obtém se um importante ganho ambiental, evitando também
a emissão de gases tóxicos e de efeito estufa (GEE),
como o metano (CH4) – gás 20 vezes mais nocivo para
o aquecimento global do que o dióxido de carbono (CO2). Além
disso, a reciclagem do plástico permite um menor consumo
de matéria-prima virgem de origem fóssil, cujo processo
de extração e refino geram emissões elevadas
de GEE, além de outros impactos ambientais.
A empreendedora acrescenta que são
gerados mais de três empregos para cada tonelada de lixo plástico
que deixa de ir aos aterros, e que em geral são mulheres
chefes de família. A empresa também oferece consultoria
em áreas como, metodologia científica e desenvolvimento
de materiais.
Para levar suas soluções do laboratório para
a indústria, as empresárias conseguiram financiamento
através de quatro projetos na Fapesp, totalizando 2 milhões
de reais. Silmara destacou que o processo de apoio à inovação
é criterioso, envolvendo avaliação rigorosa
e prestação de contas ao governo estadual, sendo que
o primeiro projeto submetido levou quase um ano para ser aprovado.
Mais de 1,5 milhão de toneladas
de plásticos difíceis de reciclar são direcionadas
para aterros ou incineradas anualmente no Brasil, contribuindo para
a poluição dos oceanos. A empresa planeja expandir
para outros países. Com apenas 30 quilos de seu aditivo,
é possível reciclar mais de 1.000 quilos de embalagens.
No último ano a produção total da IQX passou
de 10.000 quilos.
A fabricação de embalagens
em contato direto com alimentos é proibida pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quando se
utiliza plástico reciclado. No entanto, é permitido
o uso de plástico reciclado maleável em outras aplicações,
como sacolas e embalagens de diferentes produtos.
Mirando no crescimento da empresa,
as empresárias têm participado de plataformas de inovação
aberta de corporações, como BRF, Braskem e Ambev.
Além de projetos como o Programa Mulheres Inovadoras, da
Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovações, que além
de ajudar com materiais, rendeu a mineradora Vale como cliente e
um novo produto no portfólio: um supressor de poeira que
pode ser adaptado para outros setores, como a agricultura.
A Embaquim, cliente antiga da IQX,
fabrica bolsas de mil litros para cosméticos e outros materiais
gordurosos. Com essa parceria, a IQX ganhou quatro prêmios
em 2023. A startup desenvolveu uma solução que reduz
o desperdício de cosméticos nas embalagens, melhorando
a recuperação dos produtos em até 40%. Com
capacidade de produção de até 4 toneladas do
aditivo por mês, busca expandir essa geração
em até 12 toneladas por meio de parcerias com outras empresas.
Um aditivo que repele o coronavírus dos sacos de lixo, criado
durante a pandemia, permitiu a startup equilibrar as contas e começar
a lucrar.
O faturamento de R$1,2 milhão
foi atingido no ano de 2023, com crescimento de 56% diante do ano
anterior. A meta da empresa é dobrar as vendas até
o final de 2024, e crescer exponencialmente, a partir de medidas
econômicas e sustentáveis como redução
de emissões de GEE gerada.
Apesar da separação
de resíduos em muitos lares, ainda é comum que embalagens
sujas de comida acabem misturadas ao lixo orgânico, em vez
de serem recicladas. Mesmo nas cooperativas de reciclagem, a informação
sobre a tecnologia para reciclar embalagens multicamadas não
é amplamente divulgada. Além disso, a startup enfrenta
desafios para atrair investimentos, devido ao foco em produtos físicos
em vez de digitais, e devido a barreiras como machismo e preconceito
etário na economia.
Segundo as pesquisadoras, o propósito
de empreender é fazer com que o conhecimento adquirido contribua
no setor de educação, diminuindo a distância
entre a universidade e a indústria. Quanto aos ganhos financeiros,
elas consideram justo que o árduo trabalho gera riqueza,
entretanto ressaltam a importância de que essa riqueza seja
distribuída entre todos os elos da cadeia de produção,
e a sociedade como um todo.
Da Redação, com
informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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