29/08/2024
– Por Fabíola Sinimbú, da Agência Brasil
– Pesquisas realizadas com uma espécie de bromélia
nativa da Amazônia e semelhante ao abacaxi, o curauá
(Ananas erectifoliu), tem revelado um alto potencial de alternativa
econômica sustentável para a substituição
do plástico de origem petroquímica. O estudo, desenvolvido
no Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), em Manaus,
já está em fase de implantação por meio
de um projeto-piloto de extensão desenvolvido com produtores
da agricultura familiar.
Por meio de um acordo de cooperação
com outras instituições, o CBA fornece as mudas, capacita
os produtores para o plantio e produção da fibra e
conecta com uma empresa para a produção do bioplástico.
“A nossa ideia é o desenvolvimento
das cadeias produtivas e levar desenvolvimento, renda e um apelo
social e ambiental para o interior do nosso estado. Já tem
até patentes com coletes balísticos, vigas para edifícios,
antiterremoto, tudo por conta da grande elasticidade e resistência
dessa fibra”, explica Simone da Silva, pesquisadora e gerente
da Unidade de Tecnologia Vegetal do CBA.
Presente na região de não
floresta, o curauá é fiel às características
de clima e solo da região, preferindo solo não encharcado,
ácido e pouco fértil. De acordo com os pesquisadores,
é uma excelente opção de manejo sustentável
por desenvolver melhor em área de sombra e com outras espécies.
Reprodução/Fabio
Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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Além do preparo da área
não exigir fogo ou derrubada, o plantio pode ser feito em
qualquer época do ano. “Vai muito ao encontro da nossa
ideia de implantar em sistemas agroflorestais. O produtor não
precisa deixar de plantar o que é a vocação
natural dele. Se produz açaí, macaxeira, mamão,
maracujá, que ele possa produzir em consórcio”,
observa a pesquisadora.
A sustentabilidade do curauá também se expressa na
viabilidade econômica, que desperta interesse da indústria,
em substituição ao polietileno de origem petroquímica,
à fibra de vidro e até mesmo às outras fibras
naturais como a malva e a juta, exportadas de Bangladesh (Ásia).
“É uma espécie nativa da Amazônia que
é pouco difundida e tem bastante interesse comercial. A fibra
é a opção natural com maior resistência
mecânica que se conhece hoje, de acordo com os nossos resultados
de pesquisa”, disse o diretor de Operações do
CBA, Caio Perecin.
O beneficiamento da bromélia
amazônica também é simples e pode ser feito
pelo próprio produtor por meio de um equipamento que beneficia
o sisal e já existe no mercado, adaptado para o tamanho da
fibra do curauá. A máquina é segura e não
representa risco de acidentes no manuseio, garante a pesquisadora
Simone Silva.
“A nossa ideia é que
o produtor não comercialize a folha, mas que, minimamente,
ele forneça a fibra, gerando o maior valor agregado possível
para ele”, complementa Simone.
As mudas geradas nos laboratórios são de curauá
branco, espécie que naturalmente já apresenta vantagem
por perfilhar mais em relação ao curauá roxo.
Após o plantio, a colheita é feita do 10º ao
12º mês, no primeiro ano. A partir do segundo ano, é
possível ter de três a quatro colheitas.
Reprodução/Fabio
Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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“A planta que vem de cultura
de tecido [em laboratório] leva um efeito residual dos hormônios
que a gente usa para brotar, então, naturalmente ela gera
mais brotos do que uma planta convencional. O que se torna uma vantagem
para o produtor e é um investimento só inicial dele
adquirir mudas in vitro, mas que ele pode depois ampliar o seu plantio
ou ser uma nova fonte de renda ao vender mudas para o seu vizinho”,
explica a pesquisadora.
Como o mercado de curauá ainda
não foi estabelecido na região, os pesquisadores evitam
especular sobre rendimentos aos produtores, mas garantem que vários
setores industriais já manifestaram interesse em adquirir
a produção. “O que os setores interessados dizem
é como eles pagam muito caro por uma fibra de juta e malva,
por exemplo, que vem de Bangladesh, eles estão dispostos
a pagar o mesmo valor na fibra de curauá, que pode gerar
entre R$ 9 e R$ 10 o quilo da fibra”, disse Simone.
Da Agência Brasil
Fotos: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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