11/09/2024
– Por Mariana Tokarnia – Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro – Pesquisadores brasileiros desenvolveram
bioplásticos que se degradam rapidamente quando compostados
ou mesmo no ambiente. O material é inovador pois utiliza
pequenas partículas encapsuladas de bioativas de alimentos
funcionais, como por exemplo, da cenoura e da chia. Os bioplásticos,
ao contrário dos plásticos sintéticos, não
deixam resíduos que poluem o meio ambiente, prejudicando
a vida nos oceanos e até mesmo a saúde humana.
A pesquisa é coordenada pela
professora do Instituto de Macromoléculas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Maria Inês Bruno Tavares
e teve dois artigos publicados recentes na revista científica
internacional Journal of Applied Polymer Science (em português,
Jornal de Ciência Aplicada de Polímeros), incluindo
um destaque na capa de maio.
A poluição por plástico
é um dos grandes desafios da atualidade, de acordo com a
Organização das Nações Unidas (ONU).
Em todo o mundo, um milhão de garrafas plásticas são
compradas a cada minuto e cerca de cinco trilhões de sacolas
plásticas são usadas todos os anos. Metade de todo
o plástico produzido é concebido para fins de utilização
única, é utilizado apenas uma vez e depois descartado.
O plástico é composto
por polímeros, que são grandes moléculas. Tavares
explica que para serem decompostas no meio ambiente, essas moléculas
são fragmentadas em partículas menores, até
chegar ao chamado microplástico. Os microplásticos
estão no ar, na água, acabam sendo absorvidos por
plantas, ingeridos por animais e pelo ser humano, podendo causar
alergias e danos à saúde.
“Todo material polimérico,
quer seja biodegradável, quer seja sintético, ele,
para se degradar, gera microplástico. A diferença
das embalagens que nós estamos fazendo para as embalagens
tradicionais é que a nossa vai gerar um pouco de microplástico
e vai ser tudo consumido por microrganismos. Enquanto as sintéticas,
não. Elas vão gerar microplástico e o microplástico
vai ficar”, explica a pesquisadora.
Segundo a professora, em condições
ideais de compostagem os bioplásticos desenvolvidos perdem
90% da própria massa em 180 dias e, mesmo descartados no
meio ambiente, degradam-se rapidamente. Por utilizar na composição
alimentos funcionais, o bioplástico desenvolvido degrada-se
mais rápido no ambiente até mesmo que os plásticos
compostáveis atuais.
As composteiras utilizam microrganismos
para a reciclagem de materiais orgânicos. O ideal é
que esses bioplásticos sejam descartados em composteiras,
que oferecem condições ideais de degradação.
Destino dos plásticos
De acordo com Tavares, o bioplástico desenvolvido pretende
colaborar com o aumento do uso de plástico biodegradável,
para que se minimize o uso de polímeros sintéticos.
Ao contrário dos polímeros sintéticos, o bioplástico
não pode ser reciclado. Mas, atende a demanda de grande parte
do uso de plástico, que acaba sendo utilizado apenas uma
vez.
“Os polímeros sintéticos
não vão acabar”, afirma a professora. Alguns
materiais não podem ser substituídos, como peças
de avião ou de carro ou mesmo equipamentos de segurança,
como capacetes. Eles ainda continuarão utilizando polímeros
sintéticos, mas é possível mudar muito do que
consumimos no dia a dia. “As embalagens podem ser, na maioria,
de polímero biodegradável”, enfatiza.
Para que a humanidade possa lidar
melhor com o tanto de lixo produzido e reduza o microplástico
no ambiente, é preciso que “tudo que é possível
ser biodegradável, ser biodegradável. O que não
é possível, então, ter o destarte correto,
ou reuso, usar reciclagem. Isso é muito importante. E no
caso de medicamentos e a parte toda hospitalar, para aí ter
a incineração como tem que ser feito. Para evitar
outros tipos de contaminação”, orienta.
Segundo ela, essa é uma demanda
mundial e o Brasil pode sair na frente: “O Brasil pode sair
na frente. Eu tenho certeza que ele pode sair na frente pela dimensão
que ele tem, pelas capacidades que ele tem”.
A pesquisa é apoiada pela Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj)
e, atualmente, está em processo de patenteamento. A equipe
também busca empresas interessadas em produzir os bioplásticos.
Edição: Aécio Amado.
Da Agência Brasil
Fotos: Reprodução/Pixabay
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