06/12/2024
– Especialistas independentes em direitos humanos da ONU disseram
na quinta-feira que o próximo tratado global sobre poluição
plástica deve garantir a responsabilização
em todas as etapas do ciclo de vida do plástico, alertando
contra a transferência de responsabilidades para nações
em desenvolvimento.
A urgência é clara: a
humanidade produz mais de 460 milhões de toneladas métricas
de plástico anualmente, com metade projetada para uso único.
“Até 2050, pode haver mais plástico no oceano
do que peixes”, alertou o Secretário-Geral da ONU,
António Guterres, com a poluição agora encontrada
“em todos os lugares – ao nosso redor e dentro de nós
– dos nossos mares ao nosso sangue, aos nossos cérebros”.
Falando antes da sessão final
do Comitê Internacional de Negociação sobre
o acordo, em Busan, Coreia do Sul, os especialistas enfatizaram
que os estados e empresas produtores de plástico devem assumir
maior responsabilidade para lidar com os impactos globais nos direitos
humanos.
Transparência e prevenção
Os especialistas destacaram que o instrumento juridicamente vinculativo
deve incluir referências explícitas aos direitos humanos
e enfatizaram a importância dos princípios de transparência,
prevenção e responsabilização.
“A direção atual
das negociações… corre o risco de transferir
a responsabilidade dos Estados produtores para os Estados em desenvolvimento
que não têm capacidade ou recursos para enfrentar o
flagelo global do plástico ”, alertaram os especialistas.
Eles enfatizaram que cada estágio
do ciclo do plástico gera poluição que ameaça
os direitos humanos básicos – desde a produção
até o descarte.
A transparência deve sustentar
todo o processo. “O público deve ter acesso a informações
precisas e acessíveis sobre os produtos químicos preocupantes
usados em polímeros e produtos plásticos, o tipo e
as quantidades de poluentes emitidos ou liberados em cada um dos
estágios do ciclo de vida do plástico e os volumes
de plásticos produzidos”, disseram os especialistas
nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos.
Os especialistas –
que não são funcionários da ONU e não
recebem salário por seu trabalho – também declararam
a importância da prevenção.
A prevenção requer ação
em duas frentes: controlar produtos químicos preocupantes
em plásticos e garantir que o design do produto permita uma
reciclagem segura. Essas medidas são particularmente cruciais
para países em desenvolvimento que não têm economias
de escala e dependem de importações. Os especialistas
observaram que essa abordagem “possibilitaria a transição
para uma economia circular quimicamente segura”.
Os produtores devem pagar
Para apoiar esses esforços, os especialistas estão
pedindo um fundo global obrigatório com contribuições
dos produtores.
“A responsabilização
significa que os produtores de plástico devem fazer contribuições
para um fundo global”, enfatizaram os especialistas.
Isso operacionalizaria o princípio do poluidor-pagador e
apoiaria as nações em desenvolvimento, especialmente
os pequenos estados insulares, na implementação de
sistemas eficazes de gerenciamento de resíduos e na limpeza
da poluição existente, incluindo os giros plásticos
marinhos.
'Uma transição justa'
Uma abordagem baseada em direitos humanos também exige acesso
a remédios, especialmente para comunidades desproporcionalmente
impactadas pela poluição plástica. Os especialistas
já pediram uma transição justa que proteja
comunidades vulneráveis, incluindo catadores de lixo que
coletam aproximadamente 60% dos plásticos reciclados globalmente.
“Uma transição justa que não deixe ninguém
para trás é fundamental para abordar a situação
de muitos indivíduos e grupos que obtêm renda do trabalho
com plásticos”, enfatizaram os especialistas.
Olhando para o futuro
“A comunidade internacional deve se unir para acabar com a
poluição plástica”, declararam os especialistas.
Olhando para o futuro, os especialistas pedem para confrontar as
“externalidades negativas impostas pelos combustíveis
fósseis e indústrias petroquímicas” enquanto
garantem proteção para comunidades vulneráveis.
A sua conclusão estabeleceu
um mandato claro: “Uma transição legítima
e justa para acabar com a poluição plástica
exige que os direitos humanos sejam colocados no centro do instrumento
juridicamente vinculativo em negociação”.
Da ONU
Fotos: Reprodução/Pixabay
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