20/07/2020
– Além das longas viagens as aves migratórias
passaram os últimos anos a ter mais um desafio, superar
as imensas e inúmeras edificações com vidros
expostos, sem colidir e morrer. Construtores, arquitetos e grandes
corporações têm criado símbolos de
poder e ostentação, grandes arranha céus
e construções de vidros espelhados.
O problema para as aves é
simples. Os animais não conseguem identificar os monumentos
espelhados como algo sólido, pois toda a paisagem a volta
passa a se refletir nas vidraças, comprometendo por completo
o sistema de navegação das inúmeras espécies
vítimas dessas construções. Pesquisadores
e conservacionistas estimam, que somente nos Estados Unidos, mais
de 100 milhões de aves morrem anualmente, enquanto no Canadá,
esse número pode chegar a 25 milhões de indivíduos.
Apesar de obter dados precisos ser uma dificuldade, a época
de migração das aves é o momento mais perigoso
para as espécies.
Pesquisadores estimam
que desde a década de 70, mais de três bilhões
de aves desapareceram no norte do continente americano, devido,
entre outras causas, a mudança na paisagem urbana. Prédios
altos e grandes estruturas envidraçadas e espelhadas tornaram-se
armadilhas mortais para aves das mais diversas espécies.
Mas as escolhas dos materiais que dão acabamento a essas
construções podem evitar essas perdas.
Os vidros ou as placas espelhadas
são os principais vetores dessas mortes de aves, mas hoje
já é possível encontrar opções
no mercado que contemplam as necessidades humanas e evitam as
colisões das aves. Uma das alternativas é aplicar
um revestimento que reflita a luz ultravioleta, que fica invisível
para humanos, mas detectável pelas aves.
Alguns especialistas também
defendem o uso do vidro fotovoltaico como uma alternativa para
evitar colisões de aves. Nesses vidros células acumulam
energia para produzir eletricidade, por meio de uma placa fotovoltaica
impressa no vidro. Nessa opção é possível
ter vários níveis de transparência.
Outra opção
translúcida é a impressão em cerâmica,
onde se pode escolher a cor, a tonalidade e até padrões
decorativos. Técnicas de serigrafia mais avançadas
trazem muitas opções de decoração,
deixando os vidros visíveis para aves. Os vidros também
podem ser decorados através da gravação,
mas ambas as técnicas podem ser complementares, dependendo
do local do empreendimento, da quantidade, da função
e da sustentabilidade.
Para aqueles já pretendem
incluir o respeito à natureza em seus projetos as opções
são vidros dicroicos e translúcidos. Multicolorido,
produzido pelo empilhamento e alternância de camadas de
vidros adicionadas, com micro-camadas de vidro de quartzo e óxidos
metálicos são as principais características
do vidro dicroico. Esses vidros mantém a mudança
de cores, refletindo a luz como um caleidoscópio. Já
o vidro translúcido se caracteriza pela porosidade e opacidade,
podendo ser texturizado e até em formas curvas.
Independentes da escolha do padrão
a ser definido no projeto os vidros são de grande importância.
Um estudo de uma empresa americana, compartilhado pela American
Bird Conservancy, mostrou que padrões dispostos em triângulos
aleatórios são mais eficazes que pontos e listras
coloridas homogêneas. Segundo o levantamento, o espaçamento
mais adequado é de “2x4”, em polegadas, sendo
dois na horizontal e quatro na vertical. As aves tendem a evitar
espaços nessas dimensões, desta forma, uma regra
menor com “2x2” poderá incluir mais espécies
de aves.
Exigir esses padrões
de construção nas cidades pode ser o caminho mais
curto. No caso da cidade de São Francisco, nos Estados
Unidos, cerca de 90% dos edifícios envidraçados
com mais de 18 metros cumprem essas regras.
Outras soluções
que podem ser adotadas são o formato e o tamanho das janelas
e a iluminação usada nos projetos. Luzes artificiais
costumam desorientar as aves. Ideias alternativas como o uso de
cortinas, plantas e outros acessórios também podem
ser utilizados. Entretanto, soluções mais definitivas
podem e devem ser incorporadas aos projetos, desde o inicio.
Apesar da maioria das informações
e até instituições que tratam desse assunto
estarem disponíveis na América do Norte, o problema
da colisão de aves com vidros é visto em todas as
partes do mundo, sobretudo, para aves migratórias. Por
isso essa questão deve ser tratada com a máxima
urgência e responsabilidade pelos diversos setores da sociedade.
Vale lembrar que muitas aves são responsáveis pela
polinização, dispersão de sementes, controle
de insetos, e a perda de biodiversidade traz inúmeros problemas
para todas as cadeias do planeta. Portanto, pense antes de utilizar
materiais convencionais e nas consequências dessas escolhas.
Preservar e conservar o meio ambiente são uma realidade
cada vez mais presente na vida de todos.
Criado em 2015, dentro
do setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Parcerias estratégicas como patrocínios da Petrobras
e da Mitsubishi Motors incentivam essa iniciativa.
Da Redação,
com informações do site Arch Daily (Antonia Piñeiro)
Fotos: Reprodução/Dip-Tech/Pixabay |