24/03/2021
– Animais de todas as espécies e tamanhos utilizam
informações precisas para viajar, migrar e navegar
por todo o planeta, inclusive o homem. Mas dados errados podem
mudar completamente esses destinos.
O conceito de notícias
falsas existe há muito tempo, mas se popularizou durante
a gestão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
e de outros chefes de estado que são simpatizantes das
condutas do norte-americano, inclusive em países da America
Latina.
Uma nova pesquisa mostra como
uma notícia falsa pode ajudar a salvar a vida selvagem.
‘Fake news’, na forma de odor de aves, foram usadas
para proteger aves marinhas ameaçadas de extinção
para enganar predadores. Segundo o estudo, isso ajudou a reduzir
a quantidade de aves perdidas, sem usar métodos letais.
Espécies exóticas
introduzidas nos ambientes como roedores, gatos e raposas se tornaram
predadores da vida selvagem nativa. Como as espécies evoluíram
sem a presença desses invasores, pouco podem fazer para
evitá-los, causando um dano irreparável.
Essas espécies invasoras
têm impacto muito maior que os predadores naturais e podem
ser responsáveis por extinções. Segundo estudos,
na Austrália, os gatos são uma ameaça para
mais de 120 espécies nativas e as raposas representam ameaça
para 95 espécies. Já no Pacífico Sul a ameaça
pode ser ainda maior.
Contudo, segundo os especialistas,
matar predadores costuma ser uma medida ineficaz, além
de ser muito polêmica. Técnicas de controle com iscas,
capturas e até armas de fogo não reduzem de forma
suficiente o número desses predadores com objetivo de proteger
as espécies vulneráveis.
Há ainda os casos
onde o controle letal não deve e não pode ser usado,
quando, por exemplo, esses predadores são espécies
nativas, como as raposas no Reino Unido ou ainda quando os predadores
são porcos selvagens, que são fonte de alimento
para populações locais.
Na Nova Zelândia, 59 espécies
de aves foram extintas desde que humanos colonizaram a região
e outras estão em status de ameaça em crescimento,
e os predadores introduzidos são uma ameaça potencialmente
perigosa.
Ouriços, gatos e furões
são algumas espécies introduzidas na Nova Zelândia
em 1.800. São bem comuns nas áreas de estudo, como
no leito do rio da Bacia Mackenzie na Ilha do Sul. Nesse local
os predadores comem ovos e matam as aves marinhas como tarambolas,
batuíras e ostraceiros.
Segundo os pesquisadores,
as aves evoluíram e aprenderam a evitar ataques de predadores
naturais, escondendo seus ninhos e camuflando as áreas
de nidificação, entre os seixos nas margens de rios
e mesmo nas praias.
Entretanto, essas táticas
não costumam funcionar com predadores introduzidos. Odores
das penas e ovos das aves marinhas atraem esses mamíferos
caçadores, que encontram os ninhos. Nesse cenário,
os pesquisadores, em colaboração com o Grant Norbury
e outros cientistas de Manaaki Whenua Landcare Research na Nova
Zelândia, testaram minar as manobras dos predadores.
Foram espalhadas ‘notícias
falsas’ na forma de odores de ninho que indicavam que as
aves marinhas já haviam iniciado a nidificação,
embora elas ainda não tenham chegado para essa tarefa.
Os pesquisadores misturaram
odores extraídos de penas e glândulas de papoula
de três espécies de aves, como galinhas, codornizes
e gaivotas. Mas afirmam que qualquer espécie de ave poderia
ser usada para produção do ‘perfume’.
O resultado da mistura assemelha-se ao odor de galinheiro ou aviário,
bem conhecido pelos humanos.
Cinco semanas antes das aves limícolas
chegarem para iniciar a reprodução, os pesquisadores
misturaram os odores com vaselina e espalharam a mistura em centenas
de rochas em dois locais com 1.000 hectares, repetindo essa ação
a cada três dias, durante três meses.
A princípio os predadores
foram atraídos pelos odores, contudo, após alguns
dias, quando perceberam que o cheiro não levaria às
presas, perderam o interesse e pararam de visitar os locais.
Mas as aves marinhas chegaram
à Bacia Mackenzie em seu período normal de nidificação.
Segundo os dados da pesquisa, em locais de controle onde as “notícias
falsas” não foram divulgadas, os predadores chegaram
aos ovos. Mas nos locais onde foram exalados os odores, os resultados
foram positivos.
A quantidade de ninhos
atacados por predadores caiu quase pela metade. O resultado foi
de 1,7 filhotes a mais que nos locais tratados, em comparação
com os locais de controle, no período de 25 a 35 dias,
durante o tempo de nidificação.
“Queríamos ter certeza
de que nossos resultados não eram devidos a números
menores de predadores ou comportamento diferente em algumas áreas.
Então, no ano seguinte, mudamos os tratamentos em nossas
unidades e obtivemos o mesmo resultado”, diz nota dos pesquisadores.
Segundo o estudo, a tática
de ‘notícias falsas’ aumentaria as populações
de tarambola em quase 75%, ao longo de 25 anos. Em comparação,
a ausência de uma intervenção levaria ao declínio
populacional de mais de 40%. Os resultados da pesquisa mostram
grande potencial de conservação e custos proporcionais
ao controle letal tradicional.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação, com
informações de agências internacionais.
Fotos: Reprodução/Pixabay |