09/07/2021
– Logo no período em que a varejista Ponto Frio mudava
seu nome para Ponto, alterava sua logomarca e praticamente ‘excluía’
o pinguim (uma ave) de sua identidade visual, a empresa resistiu
quanto pôde para eliminar de sua plataforma digital o equipamento
“Espanta Pássaro Guardian 2 Eco À Gás
Portátil Com Pedestal Fixo”.
Reprodução/Instagram
Pick-upau
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Quase um mês depois da primeira
solicitação, com o envio de dezenas de emails e
ofícios, o Ponto Frio (Ponto) finalmente atendeu ao pedido
da Agência Ambiental Pick-upau para excluir de sua plataforma
digital o equipamento nocivo à biodiversidade. A Organização
enviou argumentos técnicos, científicos, econômicos
e alertou a empresa, que faz parte do grupo Via Varejo, sobre
os riscos de conformidade, estratégico, de integridade
e de reputação.
Com a pressão
quase diária da Organização e a adesão
de empresas concorrentes como Carrefour e Magalu, a varejista
decidiu finalmente banir permanentemente o produto de sua loja
virtual.
Histórico
Há dois meses uma ativista da Agência Ambiental Pick-upau,
ao realizar pesquisas de mercado de insumos para a organização
se deparou com o equipamento intitulado “Espanta Pássaro
Guardian 2 Eco À Gás Portátil Com Pedestal
Fixo”. Uma espécie de bazuca que deveria ser conectado
em um botijão de gás GLP, e que prometia, segundo
sua descrição, espantar aves, roedores, morcegos
e qualquer outro animal que pudesse ser considerado uma ameaça
para sua produção.
Tudo parecia um erro naquele anúncio.
Uma imagem agressiva, que nada combinava com a plataforma; o uso
de gás GLP, por certo um risco imenso à vida, até
o próprio anunciante alerta para uso longe de crianças;
a ausência completa de estudos ou justificativas científicas
que aquele equipamento não causaria danos à saúde
humana ou a biodiversidade. Até o escárnio de chamar
o produto de ‘eco’, querendo atribuir ao equipamento
um teor ecológico que jamais teria.
Além das aves, o fabricante
do equipamento também dizia que era possível espantar
roedores e morcegos. A bióloga-chefe da Agência Ambiental
Pick-upau, Viviane Rodrigues Reis, explica como a eco localização
é importante para os animais. “Os morcegos e os cetáceos
dependem da audição como seu sentido primário
de distância para a navegação e para a localização
das presas. Os morcegos caçam insetos à noite e
as baleias dentadas caçam peixes e outros animais marinhos
em águas turvas. Os sons de altas frequências chamados
de ultrassons (sons acima dos 20 kilohertz, ou seja, 20.000 ciclos
por segundo) emitidos rebatem nos objetos ao redor, incluindo
as presas, e o som recebido de volta, pela orelha do animal, pode
traduzir estas ondas sonoras refletidas em informações
sobre as relações do espaço fornecendo-lhes
valiosas informações. (Pough et al., 2003).
Desta forma esses animais conseguem viver em seus respectivos
ambientes.”
Após a exclusão
do anúncio, a Pick-upau enviou ao Ponto Frio os mesmos
questionamentos feitos ao Extra e a Casas Bahia, por meio da assessoria
de imprensa, perguntando desde quando este produto está
disponível no site da empresa. Quantos equipamentos foram
comercializados nesse período. Se a empresa faz, em suas
ações, a diferenciação entre responsabilidade
ambiental e responsabilidade socioambiental. E se a empresa tem
atuação na área ambiental para além
das exigências legais. O Ponto Frio, agora apenas Ponto,
não respondeu aos questionamentos e enviou uma nota.
“Agradecemos seu contato
e esclarecemos que a Via realiza um processo contínuo de
revisão de lojistas e de produtos cadastrados em sua plataforma.
Contamos com uma equipe dedicada ao processo de identificação
de itens, mantendo operante apenas parceiros condizentes aos requisitos
de atendimento legais e os exigidos pela empresa. Sobre o item
em questão, informamos que já foi retirado das nossas
plataformas e incluído na base de restrição
das marcas da companhia”, disse Juliana Andrade, da Comunicação
Corporativa e Digital do Via Varejo, que controla o Ponto.
A Organização agradeceu
as empresas Ponto Frio e Via Varejo por atenderem a solicitação
de exclusão do produto. Mas lamentou o tratamento dado
ao caso, afirmando que sem a pressão intensa e a atitude
de concorrentes, o caso não teria esse desfecho.
Criado em 2015, dentro
do setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação
Fotos: Reprodução/Pixabay |