10/07/2021
– O Shoptime, empresa de comércio eletrônico,
do grupo B2W Digital, atendeu ao pedido da Agência Ambiental
Pick-upau para banir de seu website um equipamento nocivo à
saúde humana e a biodiversidade conhecido como “Espanta
Pássaro Guardian 2 Eco À Gás Portátil
Com Pedestal Fixo”.
Reprodução/Instagram
Pick-upau
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A Pick-upau enviou uma série
de informações técnicas e científicas
e encaminhou à empresa mais de 20 estudos realizados no
Brasil e diversos países sobre eco localização,
danos causados à biodiversidade, com destaque para a avifauna,
por conta de ruídos emitidos por atividades humanas.
A empresa foi ágil no atendimento,
em poucas horas, a ouvidoria já havia entrado em contato
com a Organização. Providenciou a suspensão
do anúncio e se reuniu, virtualmente, com a Agência
Ambiental Pick-upau para entender melhor como aquele equipamento
poderia ser danoso para o meio ambiente.
Histórico
Há dois meses uma ativista da Agência Ambiental Pick-upau,
ao realizar pesquisas de mercado de insumos para a organização
se deparou com o equipamento intitulado “Espanta Pássaro
Guardian 2 Eco À Gás Portátil Com Pedestal
Fixo”. Uma espécie de bazuca que deveria ser conectado
em um botijão de gás GLP, e que prometia, segundo
sua descrição, espantar aves, roedores, morcegos
e qualquer outro animal que pudesse ser considerado uma ameaça
para sua produção.
Tudo parecia um erro
naquele anúncio. Uma imagem agressiva, que nada combinava
com a plataforma; o uso de gás GLP, por certo um risco
imenso à vida, até o próprio anunciante alerta
para uso longe de crianças; a ausência completa de
estudos ou justificativas científicas que aquele equipamento
não causaria danos à saúde humana ou a biodiversidade.
Até o escárnio de chamar o produto de ‘eco’,
querendo atribuir ao equipamento um teor ecológico que
jamais teria.
Ruídos causam danos à
saúde e a biodiversidade
Distúrbios antropogênicos têm sido apontados
como a principal causa da crise mundial da biodiversidade (Brumm
2010a). Alguns distúrbios têm menos atenção
de pesquisadores e conservacionistas porque seus efeitos são
mais difíceis de medir, sobretudo quando afetam espécies
em um nível subletal, como é o caso da poluição
sonora (McGregor 2013). O ruído pode ser definido como
qualquer som indesejado e, no contexto das interações
sociais, ele interfere na detecção de um sinal e
na transmissão de sua informação (Forrest
1994).
Nas últimas décadas
houve um aumento muito grande da poluição sonora
devido ao crescimento populacional, urbanização
e globalização das redes de transporte e a estimativa
é de que ela vai continuar em crescimento (Shannon et al
2016). Em geral o ruído proveniente de fontes humanas abarca
um amplo espectro de frequência entre 50Hz a 7000Hz (Simmons
& Narins 2018). O ruído desconhece fronteiras definidas,
como as margens das rodovias, neste caso os animais estão
sujeitos a uma substancial e descontrolada degradação
da percepção de sons importantes para sua reprodução
e sobrevivência (Barber et al. 2010).
A poluição
sonora advinda de atividades humanas é uma forma muito
preocupante de poluição que pode ter impactos maciços
na saúde humana e também em outros animais (Brumm
and Slabbekoorn 2005). O assunto tem sido foco de pesquisa e regulação
em humanos (Murphy and King 2014), e os resultados são
preocupantes para a saúde, incluindo aumento do risco de
doenças cardiovasculares (Babisch et al. 2005;
Hansell et al. 2013), privação do sono
(Fyhri and Aasvang 2010) e comprometimento cognitivo (Szalma and
Hancock 2011).
Um relatório sobre o tema
foi publicado pela Organização Mundial de Saúde,
há alguns anos, estimando que só na União
Europeia mais de 200.000 pessoas morrem todos os anos devido a
doenças induzidas pelo ruído (OMS, 2009). Já
se sabe que muitos dos efeitos potenciais do ruído audível
antropogênico em humanos (Miedema and Vos 2003; Basner et
al. 2014) se aplicam igualmente aos animais (Francis and
Barber 2013; Shannon et al. 2016).
A poluição sonora
pode ser um problema para as funções auditivas (Barber
et al. 2010; Simmons and Narins 2018). As espécies
geralmente ouvem um leque mais amplo de sons do que são
capazes de produzir e, além disso, a audição
continua a funcionar mesmo quando os animais não produzem
sons, isso inclui atividade de sono ou hibernação,
por exemplo. Isso significa que elas estão expostas continuamente
aos efeitos do ruído ao seu redor (Barber et al. 2010).
Dessa forma, a poluição sonora pode agir, por exemplo,
como um estressor geral (Naguib 2013), influenciando vários
processos vitais, desde regulação gênica (Cui
et al. 2009) a processos fisiológicos como pressão
arterial (Evans et al. 2001), resposta imune (Van Raaij et
al. 1996; Cheng et al. 2011), medo (Campo et al.
2005) ou atenção e cognição (Cui et
al. 2009). (Informações extraídas de
Caorsi. V. Z., 2018).
A resposta a um estímulo
estressor é essencial para a homeostase de um ser vivo
e sua sobrevivência. O organismo reage sob condições
de estresse, ativando e desativando o mecanismo de controle de
várias funções, a fim de recuperar e manter
a homeostase. Contudo, essas respostas podem ser insuficientes
para restabelecer ou manter a homeostase, ou podem ser exageradas,
representando risco de doenças. Portanto, o estresse pode
ser definido como a soma de respostas físicas e mentais,
causadas por determinados estímulos externos e que permitem
ao indivíduo superar determinadas exigências do meio-ambiente
(FRANCI, 2005). Em uma situação de estresse, o corpo
se prepara para reagir a situações de ameaça
e este processo aumenta o gasto de energia. Enquanto certa quantidade
de estresse é necessária para a sobrevivência,
o estresse prolongado pode afetar negativamente a saúde
(BERNARD & KRUPAT, 1994).
Em situações
de estresse, ocorre a ativação de duas principais
vias: o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA),
através do aumento da produção de cortisol
e o sistema nervoso simpático, através da liberação
de catecolaminas (Noradrenalina/ Adrenalina). A desregulação
de qualquer um desses sistemas de estresse pode levar a distúrbios
fisiológicos de vários outros sistemas, incluindo
os sistemas imunológicos, cardiovascular, função
metabólica e comportamento, levando a má adaptação
da resposta ao estresse (MARQUES et al., 2010).
Os estímulos que causam
o estresse podem ser classificados em quatro grupos: estressores
físicos e químicos (calor, frio, barulho, radiação
intensa e substâncias tóxicas); psicológicos
(medo e frustração); sociais (um ambiente hostil
e rompimento de relações) e os que alteram a homeostase
vegetativa, como em casos de exercício intenso e hemorragias.
Quanto à duração, os estímulos causadores
de estresse podem ser ainda classificados como agudos ou crônicos
(PACÁK & PALKOVITS, 2001). (Informações
extraídas de Franzini de Sousa, C. C., 2015).
Apesar do pronto atendimento para
derrubar o anúncio o Shoptime preferiu não responder
aos onze questionamentos sobre o anúncio e as iniciativas
ambientais da empresa. Questionamos desde quando o equipamento
estava disponível no site da empresa. Quantos equipamentos
foram comercializados nesse período. Se a empresa faz,
em suas ações, a diferenciação entre
responsabilidade ambiental e responsabilidade socioambiental.
E se a empresa tem atuação na área ambiental
para além das exigências legais, entre outras perguntas.
De qualquer forma a Organização
agradece o banimento do equipamento “Espanta Pássaro
Guardian 2 Eco À Gás Portátil Com Pedestal
Fixo” de sua plataforma digital.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informação técnicas da bióloga-chefe
da Pick-upau, Viviane Rodrigues Reis
Fotos: Reprodução/Pixabay |