20/11/2021
– Uma das maiores empresas de comércio eletrônico
do mundo, o Amazon atendeu pedido da Agência Ambiental Pick-upau
e retirou de sua plataforma o anúncio de um equipamento
que prometia ‘espantar pássaros’.
Há alguns meses uma ativista
da Pick-upau, encontrou o produto à venda em diversas plataformas
de comércio eletrônico. O equipamento intitulado
“Espanta Pássaro Guardian 2 Eco À Gás
Portátil Com Pedestal Fixo”. Uma espécie de
bazuca que deveria ser conectado em um botijão de gás
GLP, e que prometia, segundo sua descrição, espantar
aves, roedores, morcegos e qualquer outro animal que pudesse ser
considerado uma ameaça para sua produção.
Apesar da argumentação
da Organização, do envio de documento listando os
possíveis danos à biodiversidade e a saúde
humana, e mesmo tendo informado que outras dez empresas haviam
atendido nossa solicitação, o Amazon levou mais
de dois meses para retirar o produto da plataforma.
A Pick-upau informou ainda que
Carrefour, Magalu, Extra, Casas Bahia, Ponto, Shoptime, Submarino,
Americanas, ShopFácil Bradesco e a empresa Estrela 10,
que originou o anúncio retiraram o equipamento de suas
plataformas. Com a inércia da empresa no Brasil, a Pick-upau
passou a pressionar a sede da Amazon, nos Estados Unidos. A página
foi excluída na última terça-feira.
Ruídos causam
danos à saúde e a biodiversidade
Distúrbios antropogênicos têm sido apontados
como a principal causa da crise mundial da biodiversidade (Brumm
2010a). Alguns distúrbios têm menos atenção
de pesquisadores e conservacionistas porque seus efeitos são
mais difíceis de medir, sobretudo quando afetam espécies
em um nível subletal, como é o caso da poluição
sonora (McGregor 2013). O ruído pode ser definido como
qualquer som indesejado e, no contexto das interações
sociais, ele interfere na detecção de um sinal e
na transmissão de sua informação (Forrest
1994).
Nas últimas décadas
houve um aumento muito grande da poluição sonora
devido ao crescimento populacional, urbanização
e globalização das redes de transporte e a estimativa
é de que ela vai continuar em crescimento (Shannon et al
2016). Em geral o ruído proveniente de fontes humanas abarca
um amplo espectro de frequência entre 50Hz a 7000Hz (Simmons
& Narins 2018). O ruído desconhece fronteiras definidas,
como as margens das rodovias, neste caso os animais estão
sujeitos a uma substancial e descontrolada degradação
da percepção de sons importantes para sua reprodução
e sobrevivência (Barber et al. 2010).
A poluição sonora
advinda de atividades humanas é uma forma muito preocupante
de poluição que pode ter impactos maciços
na saúde humana e também em outros animais (Brumm
and Slabbekoorn 2005). O assunto tem sido foco de pesquisa e regulação
em humanos (Murphy and King 2014), e os resultados são
preocupantes para a saúde, incluindo aumento do risco de
doenças cardiovasculares (Babisch et al. 2005;
Hansell et al. 2013), privação do sono (Fyhri and
Aasvang 2010) e comprometimento cognitivo (Szalma and Hancock
2011).
Um relatório sobre o tema
foi publicado pela Organização Mundial de Saúde,
há alguns anos, estimando que só na União
Europeia mais de 200.000 pessoas morrem todos os anos devido a
doenças induzidas pelo ruído (OMS, 2009). Já
se sabe que muitos dos efeitos potenciais do ruído audível
antropogênico em humanos (Miedema and Vos 2003; Basner
et al. 2014) se aplicam igualmente aos animais (Francis and
Barber 2013; Shannon et al. 2016).
A poluição sonora
pode ser um problema para as funções auditivas (Barber
et al. 2010; Simmons and Narins 2018). As espécies
geralmente ouvem um leque mais amplo de sons do que são
capazes de produzir e, além disso, a audição
continua a funcionar mesmo quando os animais não produzem
sons, isso inclui atividade de sono ou hibernação,
por exemplo. Isso significa que elas estão expostas continuamente
aos efeitos do ruído ao seu redor (Barber et al.
2010). Dessa forma, a poluição sonora pode agir,
por exemplo, como um estressor geral (Naguib 2013), influenciando
vários processos vitais, desde regulação
gênica (Cui et al. 2009) a processos fisiológicos
como pressão arterial (Evans et al. 2001), resposta
imune (Van Raaij et al. 1996; Cheng et al. 2011),
medo (Campo et al. 2005) ou atenção e cognição
(Cui et al. 2009). (Informações extraídas
de Caorsi. V. Z., 2018).
A resposta a um estímulo
estressor é essencial para a homeostase de um ser vivo
e sua sobrevivência. O organismo reage sob condições
de estresse, ativando e desativando o mecanismo de controle de
várias funções, a fim de recuperar e manter
a homeostase. Contudo, essas respostas podem ser insuficientes
para restabelecer ou manter a homeostase, ou podem ser exageradas,
representando risco de doenças. Portanto, o estresse pode
ser definido como a soma de respostas físicas e mentais,
causadas por determinados estímulos externos e que permitem
ao indivíduo superar determinadas exigências do meio-ambiente
(FRANCI, 2005). Em uma situação de estresse, o corpo
se prepara para reagir a situações de ameaça
e este processo aumenta o gasto de energia. Enquanto certa quantidade
de estresse é necessária para a sobrevivência,
o estresse prolongado pode afetar negativamente a saúde
(BERNARD & KRUPAT, 1994).
Em situações
de estresse, ocorre a ativação de duas principais
vias: o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA),
através do aumento da produção de cortisol
e o sistema nervoso simpático, através da liberação
de catecolaminas (Noradrenalina/ Adrenalina). A desregulação
de qualquer um desses sistemas de estresse pode levar a distúrbios
fisiológicos de vários outros sistemas, incluindo
os sistemas imunológicos, cardiovascular, função
metabólica e comportamento, levando a má adaptação
da resposta ao estresse (MARQUES et al., 2010).
Os estímulos que causam
o estresse podem ser classificados em quatro grupos: estressores
físicos e químicos (calor, frio, barulho, radiação
intensa e substâncias tóxicas); psicológicos
(medo e frustração); sociais (um ambiente hostil
e rompimento de relações) e os que alteram a homeostase
vegetativa, como em casos de exercício intenso e hemorragias.
Quanto à duração, os estímulos causadores
de estresse podem ser ainda classificados como agudos ou crônicos
(PACÁK & PALKOVITS, 2001). (Informações
extraídas de Franzini de Sousa, C. C., 2015).
A única empresa que se
negou a retirar o produto foi o Mercado Livre. Contudo, a Agência
Ambiental Pick-upau conseguiu derrubar o anúncio, por meio
da empresa que havia originado a oferta, a Estrela 10.
A Agência Ambiental Pick-upau
conseguiu retirar o produto das maiores lojas de comércio
eletrônico do Brasil. Atualmente não é mais
possível encontrar o produto em plataformas na internet.
As aves agradecem.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação
Fotos: Reprodução/Pixabay |