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Aves de Rapina: Características morfológicas e anatômicas que favorecem a vida dos rapinantes
A visão, audição, os diferentes formatos de bicos, pés e asas relacionam-se aos modos de vida e a forma como estas aves predadores adquirem alimentos.
 

13/11/2018 – O termo rapina tem origem latina e está relacionado à forma como algumas aves predadoras obtêm alimento. As espécies possuem algumas características em comum, mas a morfologia varia entre as ordens.

A diversidade morfológica e de massa corporal é grande. Enquanto o gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii) tem entre 20 e 28 centímetros, o condor-dos-andes (Vultur gryphus) e o condor-da-califórnia (Gymnogyps californianus) chegam a ter 1,3 metros de comprimento e 3 metros de envergadura de asa. 

Reprodução/Pixabay

A visão, audição, os diferentes formatos de bicos, pés e asas relacionam-se aos modos de vida e a forma como estas aves predadores adquirem alimentos.

 

Características relacionadas à visão e audição, os diferentes formatos de bicos, pés e asas estão relacionados aos habitats distintos e ao modo com que os rapinantes obtêm alimento.

Visão apurada
A visão das aves de rapina é excelente, falcões e águias conseguem definir imagens a grandes distâncias, pois a resolução visual é duas vezes maior que a dos humanos.

A posição frontal dos olhos formando uma visão binocular para a localização de presas é uma adaptação à caça.

Os olhos são muito grandes (grande quantidade de células da retina, cones e bastonetes), em torno de 15% do peso da cabeça, limitando a movimentação dos olhos para a esquerda e direita, para cima ou para baixo, portanto quando olham para os lados, precisam virar a cabeça.

Reprodução/Pixabay

Visão apurada. A visão das aves de rapina é excelente.


A presença de duas fóveas (porção de cada um dos olhos que permite perceber detalhes dos objetos observados, localizada no centro da retina) em alguns grupos, como nos Falconiformes também é importante para a obtenção de alimento.

A ordem Strigiformes (corujas e suindaras) é composta principalmente por espécies noturnas. Estas espécies possuem adaptações morfológicas semelhantes à dos Falconiformes, porém apresentam algumas características para a obtenção de alimento em ambientes sem luz.

As corujas apresentam uma camada de células denominada tapetum atrás da retina, estas células refletem a luz sobre os bastonetes, imprimindo a mesma imagem pela segunda vez, aumentando a eficiência na captação da luz.

As corujas apresentam visão binocular, devido à posição dos olhos que é frontal, esse direcionamento acaba reduzindo o campo de visão periférica, porém esta redução é compensada pela capacidade que possuem de girar a cabeça em até 270°, por causa da flexibilidade que possuem no pescoço (possuem mais vértebras cervicais do que outros vertebrados como os humanos).

Audição amplificada
Em geral as aves de rapina possuem excelente audição, escutam e distinguem sons das presas e de outros rapinantes.

Corujas que caçam durante a noite ou espécies que vivem em florestas densas, como o gavião-real (Harpia harpyja) e os falcões-florestais (Micrastur spp), usam a audição para localizar suas presas. Essas aves apresentam penas ao redor dos ouvidos em forma de disco, atuando como uma parabólica, pois direcionam o som até a abertura dos ouvidos.

Reprodução/Pixabay

Audição amplificada. Em geral as aves de rapina possuem excelente audição


A evolução de um "disco facial", como do gavião-real (Harpia harpyja) e do gavião-do-banhado (Circus buffoni) provavelmente facilita a localização das presas, através da orientação que fornece aos ruídos baixos, semelhante às corujas.

Ao contrário de outras aves de rapina, as corujas, possuem grandes aberturas de ouvido que são posicionadas de maneira assimétrica (ouvido direito dirigido para cima e esquerdo para baixo) e em conjunto com os discos faciais são capazes de distinguir com precisão, a localização de uma fonte sonora, permitindo a captura de presas no solo sem precisar da visão.

Olfato, deixa a desejar
Diferentemente da visão e audição que são muito aguçadas, o alfato das aves de rapina é muito limitado, com exceção do urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus) e urubu-da-mata (Cathartes melambrotus) que possuem olfato bastante apurado, sendo capazes de detectar o cheiro de um cadáver escondido na vegetação a grandes distâncias. O olfato dos demais urubus não é apurado, portanto utilizam a visão para localizar as presas.

Reprodução/Pixabay

Olfato, deixa a desejar. Diferentemente da visão e audição que são muito aguçadas, o alfato das aves de rapina é muito limitado.

 

Bicos fortes e adaptados
Os bicos dos rapinantes são fortes, curvos e afiados, próprios para rasgar a pele de mamíferos e outros vertebrados ou no caso dos falconídeos para matar suas presas. O formato do bico apresenta diferenças entre as espécies, que varia conforme o tipo de presa que consomem.
Espécies pequenas como o quiriquiri (Falco sparverius) possuem bico curto, pois se alimentam de insetos e roedores.

O gavião-real (Harpia harpyja) se alimenta de grandes pedaços de carne como de macacos e preguiças e, portanto possuem bico pesado e muito forte. O gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis) consome caramujos que retira do interior das conchas, por isso possuem bico longo e curvo.

Reprodução/Pixabay

Bicos fortes e adaptados. Os bicos dos rapinantes são fortes, curvos e afiados, próprios para rasgar a pele de mamíferos e outros vertebrados.


Espécies do gênero Falco e Harpagus apresentam estruturas semelhantes a dentes utilizadas para quebrar a coluna vertebral e facilitar a dilaceração das presas.
Dentre os urubus brasileiros, o urubu-rei (Sarcoramphus papa) é o que possui o bico mais apto para rasgar a pele de grandes animais, que foram mortos recentemente, em seguida espécies do gênero Coragyps e Cathartes.

Pés e Garras
Para capturar e matar suas presas, os rapinantes utilizam principalmente as garras, que são fortes e afiadas e que varia em formato e tamanho de acordo com a presa.
Espécies que capturam mamíferos como o gavião-real (Harpia harpyja) e a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) geralmente possuem tarsos grossos, dedos curtos e unhas fortes.
Quando as presas são principalmente as aves, os dedos são longos e as garras são finas e afiadas, facilitando a captura em voo.

A águia-pescadora (Pandion haliaetus) possui calos ásperos nos dedos para segurar os peixes dos quais se alimenta. As águias pescadoras, assim como as corujas conseguem mover de forma voluntária o quarto dedo para trás, junto ao dedo hálux, ficando com dois dedos para frente e dois voltados para trás, aumentando a superfície de contato e a imobilização da presa.

Reprodução/Pixabay

Pés e Garras. Para capturar e matar suas presas, os rapinantes utilizam principalmente as garras.



Os urubus (Cathartiformes) não matam e nem transportam presas a longas distâncias, pois não possuem pés e garras tão fortes quanto às outras aves de rapina. A primeira falange é mais longa, semelhante a dos Ciconiiformes, dificultando a ação de “cravar” as unhas nas presas.

Asas e cauda
O formato das asas e da cauda também varia conforme o habitat em que vivem e o tipo de voo.
Gaviões planadores que vivem em ambientes abertos possuem asas longas, largas e cauda de tamanho médio, desta forma conseguem aproveitar as correntes térmicas e gastar menos energia.

As asas grandes e caudas curtas de urubus e espécies do gênero Buteo também favorecem a utilização das correntes de ar ascendentes. Espécies do gênero Spizaetus, Harpia, Accipiter e Micrastur que vivem no interior das matas apresentam asas curtas, arredondadas e cauda relativamente longa, para que tenham voo ágil e rápidas reações diante dos obstáculos.
O falcão-peregrino (Falco peregrinus) e outras aves de rapina que caçam em alta velocidade em áreas abertas possuem asas longas, estreitas, pontiagudas e cauda curta.

Reprodução/Pixabay

Asas e cauda. O formato das asas e da cauda também varia conforme o habitat em que vivem e o tipo de voo.


Nas corujas, a estrutura das rêmiges (penas das asas) permite um voo silencioso e não interfere na orientação acústica durante a caça, fazendo com que a presa não detecte sua presença.

Dimorfismo sexual
As diferenças entre macho e fêmea estão relacionadas ao tamanho, geralmente as fêmeas são maiores, bastante visível em espécies do gênero Accipiter e em Harpia harpyja. Também existe dimorfismo sexual de tamanho em Strigiformes, porém menos pronunciado. Em Spizaetus, Accipiter e Falco as diferenças podem ser notadas por meio do peso. A coloração é diferente apenas em algumas espécies como em Circus buffoni e Falco sparverius.

Em comemoração ao centenário da aprovação da Lei do Tratado das Aves Migratórias (MBTA, na sigla em inglês), importantes instituições estrangeiras como National Audubon Society, National Geographic, BirdLife International e The Cornell Lab of Ornithology, oficializaram 2018 como o Ano da Ave. Aqui no Brasil, a Agência Ambiental Pick-upau também realizará uma série de ações para a promoção do Projeto Aves, patrocinado pela Petrobras, incluindo matérias especiais sobre as aves nas mais diversas áreas, como na ciência.



Criado em 2015, dentro do setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes, polinização de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção e plantio de espécies vegetais, além de atividades socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a importância em atuar na conservação das aves. Parcerias estratégicas como patrocínios da Petrobras e da Mitsubishi Motors incentivam essa iniciativa.

Da Redação (Viviane Rodrigues Reis)
Fotos: Reprodução/Pixabay

Com informações de Aves de Rapina Brasil, 2018; Helmut Sick, 1997; PAN Aves de Rapina/ICMBIO, 2008.

 
 
 
 

 

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