13/12/2019
– Um artigo publicado na revista científica Current
Biology apresenta o genoma completo do extinto periquito-da-carolina
(Conuropsis carolinensis), a partir de um exemplar de uma coleção
particular da Espanha, e indica que o desaparecimento da espécie
foi um “processo abrupto” e relacionado com a ação
humana.
A pesquisa foi realizada por um
consórcio internacional de cientistas, entre eles o geneticista
Agostinho Antunes, que descreve a história evolutiva da
espécie norte-americana, extinta no inicio do século
XX. “O estudo tentou decifrar uma situação
que, do ponto de vista biológico, é bastante interessante
e que tem a ver com o fato de uma espécie de periquito
que era bastante frequente se ter extinguido na região
dos Estados Unidos”, disse à agência Lusa Agostinho
Antunes, coordenador do Grupo de Genómica Evolutiva e Bioinformática
do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha
e Ambiental (Ciimar) da Universidade do Porto.
O periquito-da-carolina era um
caso raro na família dos psitacídeos, por ser uma
espécie que ocorria na latitude norte, com uma distribuição
desde o Sul da Nova Inglaterra até ao golfo do México
e até ao Leste do Colorado.
Segundo os pesquisadores, apesar
de voar em bandos barulhentos com centenas de indivíduos,
foi largamente caçado durante as últimas décadas
do século XX, muitos para utilização das
penas em chapéus.
“Estes periquitos
únicos tinham uma coloração muito bonita,
com verde no corpo, amarelo na cabeça e laranja no rosto.
Era uma ave icônica que foi descrita por vários ilustradores
conhecidos”, diz Antunes.
Segundo Antunes, além da
caça e da destruição de seu habitat, seu
desaparecimento pode ter sido intensificado pelo fato de sua área
de sobrevivência estar exposta a agentes patogênicos
de aves.
Para o professor da Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto, a extinção
do periquito-da-carolina ocorreu de forma abrupta. O último
indivíduo morreu em 1918, no Zoo de Cincinnati, nos Estados
Unidos e resultou em “uma perda muito grande”, pois
“sempre que se perde uma espécie não há
possibilidade de repor”.
Para realizar o sequenciamento
do genoma da espécie, cientistas reuniram amostras do osso
da tíbia e dos dedos de um individuo preservado em uma
coleção particular Espinelves (Girona, Espanha),
coletado pela naturalista catalã Marià Masferrer
(1856-1923).
Os pesquisadores mapearam o genoma
completo da ave extinta e para isso sequenciou o genoma de um
parente vivo próximo, o periquito-do-sol (Aratinga solstitialis),
originário da América do Sul. A análise desses
genomas e de outros genomas de aves determinou que o periquito-da-carolina
e o periquito-do-sol, divergiram entre si há cerca de três
milhões de anos, combinando com o fechamento do istmo do
Panamá, citado em um comunicado de imprensa do Ciimar.
Segundo comunicado, os pesquisadores
procuraram no genoma sinais de endogamia e declínio populacional,
geralmente encontrado em casos de espécies ameaçadas,
no entanto, essa relação não foi detectada,
o que sugere, segundo os cientistas, que sua rápida extinção
deveu-se a um processo impulsionado pelo homem.
“Não existe nenhuma
prova de uma diminuição da variabilidade genética,
que se encontra normalmente associada ao declínio natural
de populações, o que coloca uma marca muito precisa
nesta situação: o envolvimento dos humanos na extinção
destas espécies”, afirma Antunes.
Com a pesquisa foi possível
entender algumas adaptações únicas da espécie.
“Estes periquitos alimentavam-se de uma planta que contém
um poderoso tóxico que não os afetou, mas que os
tornou notoriamente tóxicos para os predadores.”
Projeto Aves realiza diversas
atividades voltadas ao estudo e conservação desses
animais. Pesquisas científicas como levantamentos quantitativos
e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria e dispersão
de sementes, polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio de
espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
da conservação das comunidades de avifauna. O Projeto
Aves é patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa
Petrobras Socioambiental, desde 2015.
Da Redação, com
informações da Lusa e do Público de Portugal |