01/02/2020
– A trepadeira-azul-do-canadá parece não confiar
em tudo que ouve e a evolução da espécie
favorece seu comportamento, sugere estudo. Comum na América
do Norte a espécie também conhecida como chapim-de-cabeça-negra
é muita ouvida nas ruas e parques, mas ainda não
se sabia que seu canto traz muitas informações,
como uma letra de música. “Podem ser chamadas de
palavras, mas talvez os linguistas não gostem muito dessa
denominação.” diz Erick Greene, ecologista
da Universidade de Montana, a National Geographic.
O chapim possui um vocabulário
com cerca de 50 sons diferentes que utilizam para importantes
frases como “perigo”, “quero comer’ ou
“estou solteiro”. Greene e sua equipe de pesquisadores
já haviam descoberto que as trepadeiras-azuis ouviam esses
sinais e os compartilhavam com seus vizinhos. Entretanto, a nova
pesquisa mostra, que como um bom jornalista, a ave checa os fatos
e as fontes. Segundo o estudo, as aves ouvem os chamados do chapim,
mas não vocalizam uma informação, por exemplo,
sobre um predador, antes de verificar se ela é real. A
pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications.
A relevância da
pesquisa se dá por conta dos crescentes estudos a respeito
das redes de comunicação entre animais no mesmo
ambiente. Essa análise também pode indicar uma estimativa
de quantos predadores vivem na região, uma maneira de avaliar
a saúde do ecossistema.
Os pesquisadores esclarecem que
cada espécie mantém sei próprio idioma, mas
alguns sinais ultrapassam fronteiras culturais e geográficas.
Um “si”, por exemplo, é um som de alerta universal
para anunciar perigo por aves e pequenos mamíferos. Contudo,
os chapins gorjeiam muito em relação aos predadores.
Assim que identificam um perigo na vizinhança emitem “Chickadee-dee-dee-dee-dee”
e quanto mais “dees” (pronuncia-se “dis”),
mais perigoso é o predador, explica Greene a National Geographic.
O som de “di” é
diferente do “si”. Ao invés de “Fuja
para não morrer!” o alerta parece mais como um “Cante
para não morrer!”, visto que a vocalização
instiga outras aves a saltarem e avançarem em um possível
predador, como uma coruja ou um gavião. Segundo Greene,
o som é muito desagradável, soa como um “arranhar
uma lousa antiga com as unhas”.
Em uma segunda etapa da pesquisa, os especialistas reproduziram
vocalizações de alertas dos chapins para anunciar
os predadores, Depois gravavam os sons que as trepadeiras-azuis
faziam para verificar se as aves respondiam ao ouvir dos outros,
sobre a presença de um predador, da mesma maneira que fariam
se ouvissem um predador de fato.
Os pesquisadores verificaram
que quando as trepadeiras-azuis ouviam os sons sobre os predadores
diretamente, emitiam suas próprias vocalizações,
uma série de gorjeios rápidos e monossilábicos,
para aves da mesma espécie, informando a dimensão
do perigo. Quando, por exemplo, a ameaça era coruja-anã-do-norte,
eram produzidos sons mais curtos e mais agudos.
A pesquisa foi realizada com o
emprego de alto-falantes posicionados em 60 locais de Missoula,
em Montana e em três locais perto de Mazama, em Washington.
Todas as regiões são locais onde habitam populações
de trepadeiras-azuis. Greene e seus colegas reproduziram sons
da perigosa coruja-anã-do-norte, do corujão-orelhudo,
que apresenta menos perigo e de uma terceira espécie que
não apresenta nenhum risco à trepadeira-azul.
Ao ouvirem os sinais de alerta
dos chapins, as trepadeiras azuis repetiam o sinal com um som
vago, como alerta geral, desconsiderando o estágio da ameaça.
Ainda não se sabe por que as trepadeiras-azuis não
repetem o mesmo nível de alerta. Os pesquisadores desconfiam
que as informações contidas na vocalização
dos chapins não sejam confiáveis, deste modo, repetir
o som sem tanta convicção pode ser uma estratégia
de sobrevivência.
É como se dissessem “Estamos
em alerta máximo e soubemos pelos chapins que há
algo por aí, mas ainda não verificamos”, explica
Greene. O ornitólogo da Universidade do Leste de Kentucky,
Gary Ritchison, também concorda sobre o motivo pelo qual
as trepadeiras-azuis não confiam nos chapins. “Uma
possível explicação é que as trepadeiras-azuis
sabem onde o chapim está, mas isso não passa muita
informação em termos de onde o possível predador
possa estar localizado”, diz Ritchison.
O experimento explica
que há muitas causas para que as espécies entendam
que fontes secundárias sejam menos confiáveis, do
que receber essas informações de forma direta. É
possível que a seleção natural tenha favorecido
as trepadeiras –azuis, que parecem ser mais cuidadosas em
repetir ou replicar esses boatos, ainda que eles pareçam
bem apavorantes. Qualquer relação com as informações
lançadas nas redes socias e aplicativos, pode não
ser uma mera coincidência.
Projeto Aves realiza diversas
atividades voltadas ao estudo e conservação desses
animais. Pesquisas científicas como levantamentos quantitativos
e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria e dispersão
de sementes, polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio de
espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
da conservação das comunidades de avifauna. O Projeto
Aves é patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa
Petrobras Socioambiental, desde 2015.
Da Redação, com
informações da National Geographic
Fotos: Reprodução/Wikipedia |