01/10/2020
– A batalha por espaço, alimentos e procriação
é comum no mundo animal, e no caso dos pica-paus-das-bolotas
(Melanerpes formicivorus), essas disputas são
bem acirradas e contam até com plateia de outras aves observadoras,
que aguardam a oportunidade de ocupar o espaço dos derrotados.
Essas são algumas evidências
de uma pesquisa publicada no jornal acadêmico Current Biology,
que monitorou uma população dessa espécie
na Califórnia. O pica-pau-da-bolota tem um complexo esquema
social e hierárquico para manter seus estoques de alimento,
uma posição favorável para a procriação
e os cuidados com os filhotes. E nem sempre essas conquistas ocorrem
de maneira pacifica.
“Você pode
ver aves com olhos arrancados, com sangue na plumagem - eles caem
no chão segurando as pernas uns dos outros quando estão
lutando. Essas aves têm lanças como bocas, então
podem causar muitos danos”, diz Sahas Barve, principal autor
do estudo e pós-doutorado no Museu Nacional Smithsonian
de História Natural.
Rastrear o comportamento dessas
aves não é uma tarefa fácil, devido ao caos
das interações. Diante dessa dificuldade, Barve
e seus colegas de pesquisa da Old Dominion University, na Virgínia,
da University of California, em Berkeley e do Cornell Lab of Ornithology,
utilizaram rádios para registrar os movimentos das aves
na Reserva Natural Hastings, também em Berkeley. Os pesquisadores
ficaram surpresos ao descobrira que os indivíduos passavam
até 10 horas por dia, durante vários dias em duelos,
e até indivíduos observadores ficavam mais de uma
hora longe de seus territórios para monitorar outros grupos.
Vivendo em grupos de
até 16 indivíduos, os pica-paus-das-bolotas vivem
em habitats de carvalhos entre o Oregon e a Califórnia,
ao México, América Central, até o norte da
Colômbia. E parte desse território foi queimado pelos
incêndios florestais que afetam a Costa Oeste dos Estados
Unidos. Segundo Barve, mais de 2.500 acres da Reserva Hastings
foram destruídos, com grandes reservas de bolotas (frutos
dos carvalhos) coletadas por gerações.
Segundos os pesquisadores, cada
grupo mantêm vários machos e fêmeas, que se
alternam na criação dos filhotes. Esses indivíduos
se envolvem com a criação de filhotes não
parentais diretos, criando um sistema mantido por descendentes
mais velhos, não reprodutores, que ainda não encontram
seus próprios territórios. Para Barve, os pais não
conseguem identificar quais são seus filhotes, mas mantém
um comportamento agressivo para defender os ovos que devem fazer
parte de uma ninhada comum. As fêmeas podem, por exemplo,
destruir os ovos de outro individuo para garantir que todos postem
os ovos ao mesmo tempo.
Como forma de compensar
a escassez de proteínas como o declínio de insetos,
os pica-paus-da-bolota fazem cavidades na casca dos carvalhos
e em outras estruturas como postes. Cada árvore ou estrutura
escolhida pelos pica-paus torna-se um celeiro. Com o passar do
tempo, esse celeiro passa a acumular centenas a dezenas de milhares
de cavidades e bolotas.
Segundo os pesquisadores, quando
todos os indivíduos de um determinado sexo morrem ou desaparecem
dentro de um grupo, uma disputa pela liderança é
iniciada. Apenas aves do mesmo sexo irão entrar na batalha,
que impõem a criação de coalizões
de duas ou três aves, uns contra os outros, até que
surja um vencedor. A pesquisa relatou até 12 coalizões
participando de uma mesma batalha por um celeiro, que pode durar
por até uma semana.
Os pesquisadores ainda
não sabem por que outras aves ficam em árvores próximas
observando as batalhas, mas o risco que correm pode ter relação
com as informações que obtém. Os pica-paus-da-bolota
têm como característica reconhecer relacionamentos
fora de seus grupos e acompanhar essas mudanças em outros
territórios.
“Estamos acompanhando de
perto quem mora onde, como se relacionam, qual ave deveria estar
onde e tudo isso. Essas etiquetas de rádio estão
nos ajudando a desvendar os movimentos ocultos dos pica-paus.
Eles são muito mais complexos do que pensávamos”,
finaliza Barve.
Criado em 2015, dentro
do setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações de agências internacionais
Fotos: Reprodução/Pixabay/Wikipedia |