23/10/2020
– Pode parecer estranho, mas as aves são uma conexão
muito estreita com os dinossauros. Há cerca de 150 milhões
de anos, no Jurássico, as primeiras aves evoluíram
de pequenos dinossauros semelhantes aos raptores, criando um novo
ramo na árvore genealógica dos dinossauros. Por
cerca de 80 milhões de anos, aves de todas as espécies,
formas e tipos surgiram no planeta, de nadadores, aves de rapina,
pequenos e florestais, uma imensa variedade, em praticamente todas
as partes do planeta.
Olhando para o passado, as aves
podem ser categorizadas como dinossauros aviários e não
viários, como o brontossauro, por exemplo. O motivo pelo
qual os paleontólogos fazem essa divisão é
por conta da catástrofe que acometeu a Terra há
66 milhões de anos, quando um asteroide com cerca de 9,56
quilômetros de diâmetro atingiu a Península
de Yucatán, no México, criando a quinta extinção
em massa do planeta.
O impacto culminou em
um clima extremo com ar muito quente suscitando incêndios
florestais. Depois o calor intenso deu lugar a um inverno prolongado,
com o céu encoberto por fuligem e cinzas à medida
que as temperaturas ficavam mais baixas. Mais de 75% das espécies
conhecidas desde o fim do período Cretáceo, 66 milhões
de anos atrás, não resistiram até o período
Paleógeno. Os cientistas identificam essa quebra geológica
de fronteira K-Pg.
O fim do Cretáceo apresentou
uma imensa gama de aves e répteis. Entretanto, desses grupos
apenas as aves com bicos sobreviveram. Os eventos da evolução
das espécies deram as aves uma chance de sorte, acontecimentos
que ocorreram muito antes da colisão do asteroide. “Tem
havido muita discussão sobre o que permitiu as aves modernas
sobreviver à extinção K-Pg enquanto outros
grupos de aves, dinossauros não aviários e até
pterossauros morreram”, disse o paleontólogo Derek
Larson do Royal BC Museum, ao Smithsonian Magazine.
Atualmente todas as aves têm
bicos desdentados, mas nem sempre foi desta maneira. A primeira
ave Archaeopteryx de 150 milhões de anos, até confundiu
naturalistas do século 19 porque tinha dentes. Por dezenas
de milhões de anos, depois do Archaeopteryx, as aves com
dentes continuaram a existir e evoluir junto aos seus parentes
dinossauros.
Mas o ponto é
quais foram os acontecimentos evolutivos que levaram as aves a
perder os dentes, quando eles são tão importantes.
“Hipóteses mais antigas se concentravam na ideia
de redução de peso para o voo”, diz a paleontóloga
Grace Musser, da Universidade do Texas em Austin. Entretanto,
a descoberta de aves com dentes que eram ótimos voadores
levou os pesquisadores à estaca zero novamente.
Ao invés de voar, o alimento
pode ter dado as aves um gatilho evolucionário para bicos
desdentados, enquanto as aves antigas progrediam entre outros
dinossauros. Os pesquisadores perceberam que alguns grupos de
dinossauros, incluindo as aves, passaram a desenvolver bicos e
perderam os dentes na medida em que passavam a ser herbívoros.
Enquanto algumas espécies de aves tinham dentes para comer
insetos e outros animais. Por outro lado, algumas espécies
se especializavam em consumir frutas e outros vegetais. Usando
os bicos para selecionar e arrancar os alimentos.
“Mudanças no crânio
e na face conforme o bico se tornava mais complexo podem ter movido
os tecidos em desenvolvimento, mudando a forma como eles interagem
no embrião e resultando na perda da formação
do dente”, diz a anatomista Abigail Tucker do King's College
London. “Todas as coisas que fazem as aves, já existiam
bem antes da extinção em massa”, diz o anatomista
Ryan Felice da University College London, ao Smithsonian Magazine.
Segundo os paleontólogos,
quando ocorreu a extinção em massa, as características
das aves que estavam em processo evolutivo por milhões
de anos foram determinantes entre a vida e a morte. “Quando
pensamos em hipóteses de características que permitem
a sobrevivência das aves, precisamos levar em conta que
foi apenas uma pequena porção de diversidade que
conseguiu chegar ao outro lado”, diz Felice.
Grupos inteiros de aves, incluindo
aves com dentes chamados Enantiornithes foram extintos. Para os
pesquisadores é pouco provável que uma única
característica tenha sido determinante para o destino de
todas essas espécies. Contudo, sobreviver à extinção,
por vezes se resume a sorte e os bicos podem ter sido o ‘coringa’
das aves.
No final do período Cretáceo,
as aves com bico já mantinham uma dieta bem mais variada
que os seus parentes dentados. Essas aves não tinham especialidade
em insetos e alimentos de origem animal, por esse motivo, era
possível consumir alimentos duros como sementes e nozes.
E no rescaldo da extinção, quando a vida selvagem
foi extremamente reduzida, aqueles alimentos duros foram vitais
para as aves com bicos.
Mas não se pode
determinar que os bicos fossem suficientes para garantir a sobrevivência
das aves. “Só ter um bico não era suficiente”,
diz Tucker. Mas o fato de aves terem bicos e moelas poderosas,
adequadas para esmagar sementes e frutos duros, teve uma vantagem
que ampliou suas chances de sobrevivência.
Segundo os paleontólogos,
a linha de evolução das aves, bem como os fósseis,
ainda que distinguidos de suas características genéticas,
demonstram que os primeiros indivíduos dos grupos modernos
das aves, como patos, papagaios e galinhas já existiam
antes da extinção causada pelo asteróide.
Esses grupos sofreram perdas significativas, mais conseguiram
sobreviver, o que originou uma nova linha de evolução
das aves, pelos milhões de anos após a destruição
do asteróide.
Essa evolução fez
com que muitas espécies reduzissem o tamanho de seu corpo,
mas mantendo o tamanho do cérebro. Com isso tornou-se possível
desenvolver a inteligência aviária, bem além
do que os dinossauros não aviários poderiam ter
evoluído.
Mas nem tudo evolui. Em um processo
de evolução, muitas características ficam
pelo caminho. “A perda de dentes limita o número
de nichos alimentares que as aves podem explorar. Mamíferos
herbívoros e dinossauros não aviários desenvolveram
dentes sempre crescentes para que pudessem continuar comendo enquanto
as plantas desgastavam seus dentes, mas isso simplesmente não
é possível com um bico”, diz Felice ao Smithsonian
Magazine.
Portanto, segundo os
pesquisadores, os crânios das aves não necessitam
variar muito para acondicionar diferentes mandíbulas e
formas distintas de alimentação, o que constitui
que as aves podem apresentar um retardo na evolução,
em comparação aos dinossauros não aviários,
o que foi descrito em um novo estudo sobre a evolução
do crânio das aves de Felice e seus colegas.
Os pesquisadores já sabem
qual é o caminho para novas descobertas. Para entender
como as aves evoluíram e conseguiram sobreviver a uma das
piores extinções em massa da história do
planeta é necessário encontrar fósseis que
sejam da época pós essa extinção em
massa, o chamado Paleoceno. Os paleontólogos possuem fósseis
de aves de cerca de 10 milhões de anos depois do desastre,
do chamado Eoceno. Entretanto, fósseis de aves do período
entre o Cretáceo e o Eoceno são raros e fragmentados.
Ao menos os cientistas já sabem onde procurar.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação, com
informações do Smithsonian Magazine (Riley Black)
Fotos: Reprodução/Pixabay |