25/11/2020
– Quando um furacão é anunciado a população
da Costa do Golfo fecha portas e janelas com proteções
de madeira, limpam bueiros, estocam comida e água, abastecem
os carros. Mas como a vida selvagem enfrenta uma catástrofe
ambiental como um furacão?
Para os pesquisadores, os animais
que vivem nessa costa evoluíram para resistir a essas condições
climáticas temporárias, mas extremas. Contudo, nesse
ano a região sofreu o impacto equivalente a dez tempestades
nomeadas, algumas delas com apenas semanas de intervalo.
Agora os cientistas
querem saber como as espécies respondem a esse estresse
climático, estudando as aves que vivem nos pântanos,
como o “Clapper rail” (Rallus crepitans) que
se adaptou a vida de tempestades tropicais que afetam a costa
do Golfo do Alabama e Mississipi.
As chamadas zonas úmidas
costeiras são ecossistemas de grande importância
e igualmente sensíveis. Esses locais são habitados
por peixes, crustáceos e muitas aves e têm um importante
papel na filtragem da água e na proteção
da costa contra inundações.
O local costuma ser agressivo.
Um pântano é caracterizado por água salgada,
plantas pontiagudas e lama sugadora. Durante o verão essas
regiões são extremamente úmidas e quentes.
O forte odor de enxofre causado pela decomposição
de matéria orgânica e potencializado por bactérias
e fungos deixa o local ainda mais hostil à vida selvagem.
As aves do pântano
costumam viver em meio às gramíneas densas, por
isso na maioria das vezes é mais fácil ouvi-las
do que avistá-las, por isso os ecologistas utilizam o método
de retorno de chamada, uma gravação com um conjunto
de chamados, para monitora-las. Quando há uma localização
aproximada começam a utilizar ferramentas para um registro
visual. Desta forma conseguem determinar se as aves estão
no pântano de maré com vegetação emergente
ou na planície de lama.
Os pesquisadores conseguiram identificar
a distribuição de várias espécies
como o socopi-vermelho (Ixobrychus exilis) e pardais-a-beira-mar
(Ammospiza maritima) e estimar como suas populações
podem mudar, por conta das características do pântano.
Os pesquisadores também monitoram ninhos, o forrageamento
e a relação com seus predadores.
Atualmente a pesquisa foi concentrada
na espécie Rallus crepitans que se assemelham a frangos
esguios com penas marrom-acinzentadas e cauda curta. Como outras
aves que vivem no pântano, possuem pés com dedos
longos para que possam se locomover na lama. Possuem bicos longos
para investigar a superfície do pântano em busca
de alimentos. A espécie é encontrada durante todo
o ano, ao longo da costa do Atlântico e do Golfo, e sua
presença é um indicativo de saúde e qualidade
desse ecossistema.
A maré altera
os níveis de água nos pântanos por isso as
aves costumam construir seus ninhos em áreas com vegetação
mais alta, inclusive para protegê-los de predadores. Rallus
crepitans também ampliam a altura da tigela do ninho para
evitar inundações, sobretudo, para períodos
de tempestades. Segundo os pesquisadores, os embriões dentro
dos ovos podem sobreviver ainda que os ovos fiquem submersos por
várias horas.
Ainda segundo os pesquisadores,
quando uma grande tempestade tropical ocorre, que inclui enchentes
e ventos fortes, esses eventos afetam drasticamente as aves que
vivem nos pântanos. Normalmente, as aves conseguem superar
essas tempestades, movendo-se para áreas mais altas dos
pântanos. Contudo, se a tempestade for muito severa essas
espécies podem ser obrigadas a se deslocar para outras
áreas. Isso foi registrado durante a passagem do furacão
Cristobal, quando centenas de R. crepitans foram arrastadas para
praias da costa do Mississipi.
Os ecologistas dizem que nas áreas
costeiras imediatamente a leste do olho de ciclone tropical é
possível registrar uma queda nas populações
de R. crepitans na primavera e no verão seguintes. Isso
é uma causa da rotação anti-horária
das tempestades que resulta em ventos e ondas mais fortes. Entretanto,
há um forte crescimento da reprodução e uma
recuperação das populações no prazo
de um ano, o que comprova que essas aves conseguem se adaptar
a essas adversidades climáticas. Mas os pesquisadores afirmam
que após o furacão Katrina, que devastou a costa
do Golfo do Mississipi, em 2005, e atingiu os pântanos,
demorou vários anos para que as populações
se restabelecessem.
Os pesquisadores agora
estão coletando dados por rádio que permitem determinar
a longevidade das aves. Essas informações ajudam
na estimativa de quantos indivíduos morreram e o quanto
esses eventos climáticos severos podem afetar as espécies.
As tempestades tropicais sempre alteraram os ecossistemas costeiros,
mas nos últimos 150 anos a ação humana tem
intensificado esses eventos. O desenvolvimento costeiro está
alterando os pântanos e consequentemente afetando as aves
locais.
R. crepitans e outras espécies
desenvolveram características que ajudam a compensar as
perdas de populações por conta desses desastres
naturais. Mas os ecologistas alertam que isso só poderá
acontecer se esses ecossistemas forem preservados mantendo uma
oferta adequada de alimentos, um habitat para reprodução
e onde possam se proteger de predadores.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação, com
informações The Conversation
Fotos: Reprodução/Wikipedia/Mark Woodrey |