08/02/2021
– Já é sabido que as pás de turbinas
eólicas causam acidentes e mortes de aves e morcegos. Aves
de rapina como águias, urubus e abutres são particularmente
atingidos, pois usam os mesmos recursos eólicos que fazem
as turbinas funcionar, correntes de ar.
Em 2020, o artigo “Temos
rota de colisão? A grande diversidade de aves mortas por
turbinas eólicas na África do Sul”, descobriu
que mais de 800 aves morreram entre 2014 e 2018, após serem
atingidas em 20 parques eólicos. Segundo, o estudo, 36%
das carcaças eram aves de rapina. Entre 2015 e 2019, 14
adultos e cinco jovens de águias-verreaux foram mortas
por turbinas eólicas.
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Águia-negra (Aquila verreauxii).
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Agora uma equipe da
Universidade da Cidade do Cabo, do FitzPatrick Institute of African
Ornithology, do HawkWatch International e da University of Amsterdam,
desenvolveram uma nova ferramenta de “Avaliação
de Risco de Águia de Verreaux”, que permite identificar
os melhores locais para a instalação de parques
eólicos, reduzindo, segundo os pesquisadores, o risco de
morte das águias.
Originária de áreas
montanhosas, a águia-verreaux, também conhecida
como águia-negra (Aquila verreauxii), por conta
de sua cor e um “V” no dorso, é notadamente
uma espécie vulnerável a colisões com turbinas
eólicas.
Segundo os pesquisadores, as aves
de rapina têm grande expectativa de vida e têm poucos
filhotes a cada ano, portanto, ainda que seja um pequeno aumento
nas mortes, isso pode causar um declínio na população.
Para os pesquisadores, ainda não
está claro se as aves não conseguem ver as pás
em movimento das turbinas eólicas ou não percebem
que elas sejam uma ameaça. Com o crescimento da energia
eólica em todo mundo “é fundamental que os
impactos negativos sobre a vida selvagem sejam considerados e
mitigados”, escrevem os autores do estudo publicado no início
deste mês no Journal of Applied Ecology.
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Águia-negra (Aquila verreauxii).
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Com objetivo de minimizar
as colisões, e consequentemente, as mortes das aves, os
construtores tentam desenvolver turbinas eólicas distante
das áreas consideradas de “alto uso” pelas
aves de rapina, instalando amortecedores simples ao redor de um
ninho. Contudo, esses buffers de exclusão não estão
surtindo efeito.
Para a principal autora do estudo,
Megan Murgatroyd, da HawkWatch International, usar o modelo preditivo
para explicar como as águias usam seus habitats, pode determinar
uma área maior que pode ser disponibilizada para a produção
de energia eólica, sem que tenhamos o aumento do risco
de mortalidade para essas aves de rapina.
“Os buffers de exclusão
circular têm sido ineficazes em comparação
com os nossos modelos, em primeiro lugar porque têm tamanhos
variáveis, com alguns desenvolvedores aplicando buffers
de até 800m de raio; para funcionar, eles precisam ser
muito maiores do que isso”, diz o biólogo conservacionista
de aves, Arjun Amar, professor associado do Instituto FitzPatrick
e coautor do estudo. “Eles também presumem que as
águias usarão o espaço ao redor de seus ninhos
de maneira uniforme e circular, o que obviamente não será
o caso.”
Esse novo modelo usa dados de
dispositivos de rastreamento por GPS conectados a 15 águias-verreaux,
em toda a África do Sul que foram coletados por Murgatroyd
nos últimos oito anos. Esses dispositivos desenvolvidos
na Universidade de Amsterdã fornecem um registro de onde
e a que altura uma ave está voando a cada três segundos.
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Águia-negra (Aquila verreauxii).
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“Quando iniciamos
este projeto, a maioria das tags disponíveis coletava um
local uma vez por hora; enquanto coletávamos faixas a cada
três segundos”, explica ela. “Desde então,
a tecnologia de rastreamento melhorou muito, mas este ainda é
provavelmente o conjunto de dados de maior resolução
para qualquer águia africana”.
Segundo o gerente de projetos
de aves e energia renovável, da BirdLife South Africa,
Sam Ralston-Paton, o Plano de Recursos Integrados de 2019 prevê
17.700 megawatts para a energia eólica até 2030.
Isso pode significar que mais de 35.000 aves poderão ser
mortas todos os anos, incluindo cerca de 1.500 aves de rapina.
Além da águia-verreaux,
outras espécies seguem ameaçadas pelos parques eólicos
na África da Sul, como abutres, águias-marciais
e falcões-negros. “Esses riscos podem ser evitados,
ou pelo menos minimizados, com a localização considerada
de aerogeradores. A localização é a estratégia
de mitigação mais eficaz e econômica. Felizmente,
grande parte da África do Sul tem excelentes recursos eólicos,
e temos muitos locais alternativos para energia eólica
disponíveis para consideração”, disse
Ralston-Paton.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação com informações
Mail & Guardian
Fotos: Reprodução/Wikipedia |