14/10/2021
– Com a chegada das temperaturas mais baixas, outono e inverno,
todos os anos, bilhões de aves deixam as regiões
de reprodução, em busca de alimentos para passar
o inverno no norte em climas mais amenos, para retornarem na próxima
primavera. Essas viagens são jornadas quase inacreditáveis
que contam com milhares de quilômetros, passando por regiões
inóspitas, como desertos e oceanos inteiros.
A cada ano essas rotas são
cada vez mais monitoradas e estudadas e até o momento,
sabia-se ou pensava-se que essas aves migratórias voavam
em altitudes abaixo de 2 mil metros e somente em casos extremos,
voariam acima de 4 mil metros de altitude. Contudo, uma nova pesquisa,
realizada na Universidade de Lund, na Suécia, obsevou duas
espécies de aves migratórias, uma pernalta e outra
canora, que voam de forma regular entre altitudes de 4.000 e 6.000
metros, quando prolongam seus voos noturnos durante o dia.
Os pesquisadores verificaram que
entre o dia e a noite, essas aves alteram a altitude de voo, com
mais frequência e de forma mais brusca do que se imaginava,
permanecendo com voos altos durante a noite e mais alto ainda,
durante o dia. Esses dados foram coletados, graças às
novas tecnologias utilizadas, até algum tempo, esses monitoramentos
de aves migratórias eram realizados por meio de radares,
que registravam as aves apenas por alguns minutos.
Para o novo estudo,
pesquisadores desenvolveram um datalogger em miniatura que foi
acoplado as aves. Com essa tecnologia é possível
rastrear o comportamento, altitudes dos voos e sua localização.
“Usamos esse novo tipo de datalogger para estudar o comportamento
migratório da toutinegra-do-junco e da narceja-real. Tendo
trabalhado no campo das migrações de pássaros
por um longo tempo, esperávamos que esse novo tipo de dado
aumentasse enormemente nossa compreensão de como os pássaros
gerenciam suas migrações. Mas não estávamos
preparados para o comportamento de voo em alta altitude que encontramos”,
afirmam os pesquisadores.
As toutinegras-do-junco fazem
parte de um projeto de rastreamento de longo prazo, 40 anos. Liderado
por Dennis Hasselquist, em Lund, o estudo acompanha a migração
dessa espécie que pesa 30 g, que voa durante a noite e
passa o dia em terra firme para se alimentar e descansar, durante
sua jornada de migração do norte da Europa até
a África subsaariana, que dura um mês. “Durante
as travessias do Mar Mediterrâneo e do Deserto do Saara,
os grandes canavieiros às vezes prolongam seus voos noturnos
por algumas horas no dia seguinte, ou durante o dia inteiro e
a noite seguinte, durando até 35 horas”, explica
o estudo.
Já as narcejas, são
aves limícolas, que se reproduzem nas montanhas do norte
da Suécia e migram por uma jornada de 6 mil km até
a África subsaariana, em um extenuante voo, sem paradas
que dura entre 60 e 90 horas, em meio a voos diurnos e noturnos.
Ambas as espécies voaram em altitudes acima de 5 e 6 mil
metros, bem além do que sabíamos.
Durante o monitoramento, um espécime
de narceja-real voou acima de 8 mil metros, por mais de cinco
horas em um dia, chegando a 8.700 metros, a maior marca já
registrada para uma ave migratória. Acredita-se que as
aves buscam essas altitudes para reduzir a temperatura corporal.
Nessa altitude, a temperatura ambiente cai até 20°C.
Voar já é uma atividade
imensa para aves, somando isso ao calor do sol e altas temperaturas
é necessário que elas encontrem maneiras para amenizar
os incômodos. Nesse processo, buscar altitudes maiores pode
ser uma estratégia. Contudo, os pesquisadores dizem que
ainda não é possível afirmar que o calor
do sol deixa as altitudes mais baixas, menos confortáveis.
Essas aves também podem buscar essas altitudes para fugir
de predadores e até para melhorar sua orientação
geográfica.
“Nossa pesquisa deixa claro
que pequenas aves como toutinegras e narcejas são plenamente
capazes, sem aquecimento ou aclimatação, de realizar
viagens excepcionais com duração de várias
noites e dias, cruzando continentes e oceanos em altitudes extremas.
Ao compreender a causa desse comportamento, podemos aprender sobre
as limitações para voar e os desafios que as aves
migratórias enfrentam, à medida que os efeitos das
mudanças climáticas começam a afetar seu
ambiente”, afirmam os pesquisadores.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação, com
informações de agências internacionais.
Fotos: Reprodução/Pixabay |