07/10/2024
– O comércio ilegal de vida selvagem é uma
prática crescente que ameaça inúmeras espécies
ao redor do mundo, especialmente aquelas que possuem alta demanda,
como os pássaros canoros. Em muitos mercados, as aves à
venda pertencem a espécies ameaçadas ou são
comercializadas ilegalmente, mas identificá-las corretamente
nem sempre é tarefa fácil. A semelhança entre
espécies, aliada à prática de comerciantes
inescrupulosos de alterar a aparência dos pássaros
para aumentar seu valor, torna o trabalho de agentes da lei e
conservacionistas ainda mais desafiador.
Estima-se que mais de um terço
das espécies de pássaros em todo o mundo sejam capturadas
para venda em mercados de vida selvagem, resultando em um comércio
avaliado em dezenas de bilhões de dólares anualmente.
A demanda por pássaros vivos, seja como animais de estimação
ou para usos culturais, como concursos de canto e soltura de aves,
está levando à superexploração e ao
declínio acentuado das populações, com algumas
espécies sendo levadas à beira da extinção.
Entre os pássaros mais
afetados estão os olhos-brancos (Zosteropidae), uma família
de pássaros canoros amplamente comercializada na Ásia.
Espécies como o olho-branco de Java (Zosterops flavus)
e o olho-branco de Togian (Zosterops somadikartai), que estão
ameaçadas e quase ameaçadas de extinção,
são frequentemente encontradas em mercados, apesar das
proibições de comércio impostas pela CITES.
Proteger essas aves é essencial para evitar sua extinção,
e a identificação precisa é crucial para
a aplicação das leis de proteção da
vida selvagem.
Diante dessa necessidade, uma
abordagem inovadora utilizando inteligência artificial (IA)
está sendo desenvolvida para auxiliar na identificação
dessas espécies. A proposta baseia-se na capacidade das
aves de se comunicarem por meio de vocalizações
únicas, que funcionam como assinaturas bioacústicas.
Aproveitando-se de gravações dessas vocalizações,
pesquisadores têm trabalhado no desenvolvimento de uma ferramenta
de IA capaz de identificar espécies de olhos-brancos apenas
pelo som que emitem.
Para construir essa
ferramenta, os pesquisadores utilizaram grandes bancos de dados
públicos de sons de pássaros, como o xeno-canto
e a Macaulay Library de Cornell. Foram acessados dados bioacústicos
de 15 espécies de olhos-brancos visualmente semelhantes
e comumente comercializadas. Com essas gravações,
eles empregaram técnicas de aprendizado profundo, treinando
uma rede neural para reconhecer os padrões acústicos
específicos de cada espécie.
O modelo de IA foi projetado para
funcionar de forma semelhante ao reconhecimento facial humano,
mas, nesse caso, utilizando reconhecimento vocal para diferenciar
as espécies de pássaros. Para garantir que o sistema
seja robusto e aplicável em situações do
mundo real, os pesquisadores incorporaram amostras de sons ambientais
captados em gravações de mercados, simulando as
condições que os agentes da lei enfrentam em campo.
O estudo revelou resultados promissores,
com os modelos de aprendizado de máquina alcançando
mais de 90% de precisão na identificação
das espécies focais a partir de suas vocalizações.
Essa alta precisão na distinção de espécies
visualmente semelhantes representa um avanço significativo
no combate ao comércio ilegal de vida selvagem.
A aplicação dessa
tecnologia pode ter um impacto substancial. Um aplicativo de smartphone
baseado nesse sistema permitiria que policiais, agentes alfandegários,
conservacionistas e até mesmo cidadãos comuns identificassem
espécies quase instantaneamente. Bastaria "ouvir"
os pássaros por alguns segundos para que o aplicativo realizasse
a identificação, seja em mercados, lojas de animais
ou no campo.
O desenvolvimento dessa ferramenta
de IA chega em um momento crítico, oferecendo uma solução
acessível, não invasiva e rápida para a identificação
de espécies, um passo crucial na repressão ao tráfico
ilegal de vida selvagem. Além disso, o recente avanço
da IA e da computação em nuvem abre novas possibilidades
para a conservação, com o monitoramento bioacústico
automatizado sendo apenas uma das muitas aplicações
potenciais.
Embora desafios ainda existam,
a equipe de pesquisa está otimista de que essas tecnologias
possam auxiliar de maneira decisiva na proteção
de populações vulneráveis de vida selvagem,
tornando a IA uma ferramenta poderosa na preservação
da biodiversidade global.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay |