Aves
do deserto protegem seus filhotes das variáveis climáticas
Uma
ajuda improvável pode ser um indicativo de evolução
05/05/2022 – A evolução
do comportamento cooperativo pode ser instigada por diversos
fatores, incluindo a imprevisibilidade de ambientes que
se tornam mais hostis. Um novo estudo realizado na Universidade
de Exeter, no Reino Unido e publicado na revista científica
Science Advances mostra que aves estão cuidando de
filhotes de espécies diferentes, como uma estratégia
para períodos de seca.
A pesquisa realizada durante uma década
no deserto do Kalahari, localizado na África Austral,
que abrange Angola, Botsuana, Namíbia e África
do Sul, mostrou que pardais-de sobrandelha-branca (Plocepasser
mahali) estão se esforçando para criar
jovens de outras espécies. A descoberta indica uma
teoria de evolução chamada ‘cobertura
de aposta altruísta’, ou seja, sugere que características
aparecem para reduzir a variabilidade na reprodução,
ainda que isso signifique a redução no número
total de descendentes.
“Um grande número de estudos
destacou o papel que parentesco dentro das famílias
pode desempenhar na evolução da cooperação.
Mas uma coisa com a qual não tínhamos um bom
controle eram os fatores ecológicos”, diz Andrew
Young, pesquisador da Exeter, que liderou o estudo.
Alimentos no Kalahari é algo escasso
e a precipitação surge de forma imprevisível.
Nesse contexto as aves se organizam e vivem em grupos familiares,
com um único casal reprodutor e até dez outros
ajudantes não reprodutores, que se revezam na busca
de comida.
O estudo mostrou que os grupos com ajudantes
tiveram melhora substancial no número de filhotes
em condições de secas severas. Por outro lado,
os grupos com mais ajudantes criavam menos filhotes em períodos
chuvosos. Os resultados foram significativos para que o
sucesso na reprodução fosse reduzido. Isso
pode significar que um comportamento colaborativo pode evoluir
e causar redução de variação
na reprodução, em função de
alterações climáticas.
“Um filhote realmente vale muito mais
em más condições do que em condições
realmente boas. Porque você poderia estar contribuindo
com um para mil [descendentes] em boas condições,
mas um entre apenas dez descendentes que sobrevivem em seu
tanque concorrente em condições secas”,
diz Young.
A nova pesquisa apresenta as primeiras evidências
empíricas para esse comportamento altruísta
evolutivo, segundo Patrick Kennedy, biólogo evolucionista
da Universidade de Bristol, no Reino Unido. “É
uma demonstração convincente desse efeito
na natureza e é impressionantemente completa. Este
artigo é realmente interessante porque desvenda como
o efeito dos ajudantes ocorre em diferentes estados ambientais”,
diz ele a PNAS.
Mecanismos de evolução são
maneiras da seleção de parentescos funcionarem,
ou seja, como e por que espécies auxiliam outros
indivíduos aparentados, ainda que esses comportamentos
não auxiliem diretamente a transmissão de
genes próprios. Os pesquisadores explicam que como
as aves ajudantes são os parentes mais velhos que
os filhotes, eles ajudam na alimentação e
podem contribuir de forma indireta na disseminação
de genes comuns.
Durante o estudo, os cientistas analisaram
400 ninhadas, nascidas de 68 mães, em 36 grupos na
Reserva Tswalu Kalahari, na África do Sul. Os resultados
mostraram que apenas as fêmeas colaboraram com a criação
dos filhotes e que a remoção dos indivíduos
machos não impactou no número de crias. Isso
indica que o crescimento de filhotes não depende
do tamanho do grupo.
Ainda não se sabe por que grupos com
mais ajudantes tiveram menos descendentes em clima mais
chuvoso, mas uma das explicações pode ser
a ação de predadores. Os pesquisadores destacam
que apenas 5% dos mamíferos apresentam comportamento
reprodutivo cooperativo, por isso querem saber mais sobre
como essa cooperação ajuda as aves.
Criado em 2015, dentro do setor de pesquisa
da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma Darwin,
o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e conservação
desses animais. Pesquisas científicas como levantamentos
quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria
e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine;
produção e plantio de espécies vegetais,
além de atividades socioambientais com crianças,
jovens e adultos, sobre a importância em atuar na
conservação das aves.
Da Redação, com informações
de agências internacionais.
Fotos: Reprodução/Pixabay