A Conferência sobre Alternativas
Econômicas para os Povos Indígenas e Tradicionais
da Amazônia , realizado em Puyo, no Equador, de
21 a 23/01, revelou aos participantes brasileiros o
avanço em iniciativas para o desenvolvimento
sustentável e o elevado grau de articulação
política dos povos indígenas que habitam
os demais países da região.
O evento foi uma iniciativa da organização
não-governamental norte-americana Aliança
Amazônica para promover a reflexão e troca
de experiências entre diversas etnias e organizações
que desenvolvem projetos de alternativas econômicas
na Amazônia. Cláudio Moura, coordenador
da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab),
Manoel Soares, vice-presidente da Confederação
Nacional dos Seringueiros (CNS) e representante do Grupo
de Trabalho da Amazônia (GTA) e Marcos Schmidt,
engenheiro florestal do Programa Xingu do ISA, representaram
o Brasil.
Schmidt apresentou o projeto "Produção
e Comercialização de Óleos Vegetais
por Etnias Xinguanas", desenvolvido em parceria
com a Associação Terra Indígena
Xingu (Atix). O trabalho é baseado no conhecimento
tradicional dos povos Kalapalo, Yawalapiti, Waurá,
Kuikuro, Suyá, Kamayurá - que produzem
o óleo de pequi -, Kaiabi e Yudjá - que
produzem o óleo da palmeira de inajá.
Além de propor uma parceria comercial entre índios
e empresas privadas, a iniciativa tem como preocupação
fundamental respeitar os direitos indígenas relativos
ao conhecimento tradicional, ao acesso a recursos genéticos,
à imagem e à autoria coletiva.
Entre os projetos apresentados por organizações
de outros países, merecem destaque o cultivo
tradicional de café pelos descendentes da antiga
civilização Maya e sua distribuição
pela recém-criada Chantlaca, uma empresa de comércio
internacional indígena. E também a produção
de ervas medicinais pelas mulheres Shuar, no Equador,
atendendo a um convênio com a rede pública
de saúde.
As discussões sobre as experiências com
ecoturismo se mostraram bastante avançadas, em
comparação ao que existe no Brasil. "Na
Bolívia, no Equador e no Peru existem debates
aprofundados, que abordam choques entre os sistemas
econômicos e os valores culturais dos índios
e dos não-índios causados pelo ecoturismo",
descreve Schmidt. Atualmente, uma preocupação
dos povos que trabalham com essa atividade é
evitar a transformação de rituais indígenas
em pacotes turísticos.
Outro destaque ficou para o grau de articulação
política dos representantes indígenas
presentes ao encontro. "Eles tinham muita clareza
de que o modelo de desenvolvimento que procuram está
baseado na família indígena e na natureza
e que a exploração de petróleo
e o desmatamento são as principais ameaças
para alcançar esse objetivo", explica Marcos
Schmidt. Transporte, impostos culturais, propriedade
intelectual e formas de participação nos
projetos também estiveram na pauta dos debates.
As atividades de capacitação indígena
em relação à administração
de projetos, por exemplo, foram questionadas. A idéia
é que elas fossem mais adequadas aos sistemas
conhecidos por eles e levasse à autogestão
sem gerar dependência. Os povos indígenas
da Amazônia reivindicaram ainda a adoção
de um princípio coletivista no comércio
e de espaço para seu próprio modo de produção,
pressionado hoje pelos padrões da globalização.