Finalmente chegou às livrarias
a esperada Enciclopédia da Floresta (Cia.
das Letras, 735 páginas, R$ 89,00) reunindo
informações sobre práticas
e conhecimentos dos seringueiros e dos índios
Kaxinawá, Katukina e Ashaninka do Alto Juruá,
no Acre. Entre a idéia e o produto final
foram gastos 17 anos.
Organizada pelos antropólogos Mauro Almeida
e Manuela Carneiro da Cunha, a enciclopédia
é um dos produtos do projeto intitulado "É
possível populações tradicionais
gerenciarem áreas de conservação
ambiental?Um projeto piloto na Reserva Extrativista
do Alto Juruá" (1993-1996.
A obra reúne textos de 38 autores, cientistas
em sua maioria, cujo trabalho está alicerçado
por quase uma centena de colaboradores das populações
locais, além de alguns fotógrafos.
Embora seu título - Enciclopédia da
Floresta - possa sugerir algo monumental, trata-se
de um esforço localizado de um grupo de pesquisadores
com formação acadêmica em várias
disciplinas que se associou a seringueiros e índios
do extremo sudoeste da Amazônia brasileira
para organizar e publicar exemplos do conhecimento
disponível sobre o ambiente e os modos sustentáveis
de usá-lo.
O trabalho está dividido em sete partes -
(I) Introdução; (II) A região,
os habitantes, a história; (III) O tempo
- ciclos e calendários; (IV) As atividades;
(V) Como classificar o mundo; (VI) Dicionários
- Bichos e Plantas e (VII) Apêndices -, porém,
o sistema de verbetes, característico das
enciclopédias, foi adotado apenas na parte
VI.
Para os organizadores, "publicar técnicas,
práticas, conhecimentos, mitos é faca
de dois gumes. A palavra impressa confere dignidade,
mas tende a se tornar referência local e portanto
a 'desvalorizar' os outros modos de transmitir conhecimentos.
Para que esse saber permaneça e se amplie,
para que continue vivo, em suma, é preciso
que se mantenha uma distância prudente deste
livro".
Com certeza, para os leitores "de fora",
esta enciclopédia é um registro contundente
da riqueza do conhecimento de populações
tradicionais sobre o mundo em que vivem, algo a
ser reconhecido na justa medida e valorizado sem
preconceitos, no momento em que ainda se discute
no Brasil uma legislação adequada
sobre o tema. Aliás, como revelam os próprios
organizadores, várias informações
foram autocensuradas exatamente porque persiste
essa lacuna de legislação protetora.
De envergadura e formato pioneiros, esta obra é
exemplo a ser seguido e aprimorado em outras regiões
da Amazônia, ainda que seja apenas para dar
suporte à luta dessas populações
por seus direitos coletivos e seus projetos de futuro.