Representantes das etnias Kaiowá, Guarani,
Nhandeva, Terena, Guató, Ofaié-Xavante
e Kadiwéu, que participam da Conferência
dos Povos Indígenas do Mato Grosso do Sul,
realizada em Dourados até o dia sexta-feira
(01/04) ouviram ontem palestras sobre educação,
autonomia indígena e perfil do indigenista.
As palestras antecedem o trabalho dos 12 grupos
que irão formular as propostas para uma
nova política indigenista a serem debatidas
na Conferência Nacional dos Povos Indígenas,
programada para abril de 2006.
A coordenação dos trabalhos de grupo
está sendo feita por estudantes indígenas
das universidades Estadual do Mato Grosso do Sul
(UEMS) e da Grande Dourados (UNIGRAN). São
40 jovens universitários dos cursos de
enfermagem, direito, ciências da computação
e biológicas, turismo e letras, que se
revezam nos debates e auxiliam os índios
na condução dos assuntos e sinterização
das propostas.
O estudante de enfermagem Elbelson de Oliveira
considera o momento das discussões oportuno
e que os povos do MS estão podendo colocar
suas inúmeras dificuldades e problemas.
"A partir daqui, podemos ter mais esperança
de melhorar a condução do governo
com relação às políticas
para os povos indígenas. Temos problemas
sérios que vão da discriminação
dos habitantes não-índios ate questões
fundiárias, de desnutrição
de educação", concluiu o jovem.
Para Anastácio Terena, da Aldeinha, do
núcleo urbano indígena em Campo
Grande (MS) os jovens e adultos indígenas
precisam de capacitação para poder
concorrer em melhores condições
com os brancos. "Eu consegui trabalhar dois
anos em uma farmácia e desenvolvi o interesse
pela enfermagem. Mas, a maioria não tem
a mesma oportunidade e encontra muitas dificuldades",
relata.
A indigenista da Funai na Coordenação
de Educação, Helena De Biase lembrou
aos presentes sobre a importância dos participantes
refletirem sobre a educação que
desejam as aldeias, a capacitação
dos professores, a interferência que a educação
formal pode causar um confronto com a educação
tradicional das diferentes culturas indígenas.
De Biase identificou algumas questões que
a Funai, nesses anos que acompanha a educação
indígena nos municípios e estados,
se depara. " Fazemos um trabalho de muitos
meses junto os professores indígenas e,
às vezes, o município ou estado
tem alguma mudança política que
resulta em retrocessos inacreditáveis para
a educação indígena da região",
explicou a especialista em educação.
Na palestra sobre autonomia, o professor Antonio
Brande, da Universidade Católica de Campo
Grande, destacou que só foi possível
para os índios falarem em autonomia após
a Constituição de 1988, que os assegurou
uma série de direitos. Lembrou também
a procuradora Débora Duprat, quando diz
que a autonomia dos povos indígenas não
se esgota com o reconhecimento ou homologação
das terras indígenas, mas que cada povo,
comunidade e aldeia tem que pensar em como fazer
para valer seus direitos. "Na década
de 80 ainda se pensava que os índios iriam
desaparecer. Hoje em 2006, não só
não desapareceram como cresceram. Nesse
processo foram obrigados a aceitar muita coisa.
Tiveram que aceitar nossa escola, nossa religião,
nossa comida, nossa língua. À medida
que os territórios foram encolhendo, vocês
foram obrigados a aceitar. Mas Constituição
garantiu-lhes o direito de ter sua própria
organização, cultura, língua
e credo", afirmou Brande.