É
por isso que a Secretaria do Meio Ambiente
do Estado - SMA, por intermédio da
Fundação Florestal, organizou
uma série de atividades que se iniciou
no sábado e prosseguiu até o
domingo, 5 de junho, dia em que, em 1995,
o Decreto Estadual 40.135 criou oficialmente
o Parque Estadual Intervales.
O grande momento das comemorações
foi o concerto ao ar livre com a Orquestra
de Sopros de Tatuí, sob a regência
do maestro Dario Sotelo, no domingo às
11 horas, logo após a assinatura de
um termo de compromisso assinado pela diretora-executiva
da Fundação Florestal, Antonia
Pereira de Avila Vio, e os prefeitos Eliana
dos Santos Silva, de Ribeirão Grande,
e Flavio de Lima, de Guapiara, em que as partes
manifestam o propósito de atuar em
parceria para a restauração
da paisagem e a melhoria das estradas de acesso
à unidade de conservação.
A solenidade contou, ainda, com a presença
de João Gabriel Bruno, chefe de gabinete,
que estava representando o secretário
José Goldemberg. Bruno lembrou que
estão sendo investidos US$ 15 milhões
do Banco Interamericano de Desenvolvimento
- BID e recursos da própria Fundação
Florestal, que vão beneficiar principalmente
essa unidade de conservação,
para alavancar atividades de ecoturismo, criando
postos de trabalho e incrementando a economia
nos municípios envolvidos.
Durante a solenidade, Antonia Vio homenageou
os 54 funcionários do parque, entregando
um certificado em reconhecimento ao trabalho
desenvolvido. José Prata, de 67 anos,
24 dos quais trabalhando como vigilante desde
a época em que a área pertencia
à Banespa Mineração,
e Donato Ursulino dos Santos, de 68 anos,
e também 24 anos como funcionário,
receberam o documento durante a solenidade.
Preservação
Toda a programação
denota a preocupação com a preservação.
Além da mostra de fotos com a história
dos dez anos do parque e da exposição
de gravuras de Angela Leite retratando animais
e plantas da Mata Atlântica, foi organizada
uma área para a apresentação
de vendas de produtos artesanais da região.
A Associação dos Amigos e Moradores
do Bairro Guapiruvu, em Sete Barras, no entorno
do parque, trouxe produtos como licores de
juçara, jabuticaba, abacaxi e outros
frutos cultivados no local, além do
“coruja”, uma espécie de pão
que faz parte da cultura regional. Produzido
com massa de mandioca, leva ingredientes como
ovos, óleo (ou banha de porco como
antigamente) e sal. Depois é moldado,
envolvido em folha de bananeira e assado em
forno de lenha.
Os quilombolas de Ivoporanduva, uma comunidade
afrodescendente localizada nas proximidades
do Ribeira de Iguape, expuseram artesanato
em fibra extraída do pseudocaule da
bananeira. São cestos, bolsas e outros
objetos produzidos por cerca de 15 representantes
da comunidade, que desenvolvem esse trabalho
desde 1997.
Oficina de viola
No sábado, o violeiro
de Pirajui, Levi Ramiro, ministrou uma aula
aberta sobre confecção de viola,
mostrando os segredos do artesão que
se dedica a essa atividade. Além de
falar sobre materiais como cabaça para
a caixa de ressonância e freijó
para o tampo, explicou como o processo de
preparação da madeira e da colagem
podem influir no timbre e sonoridade do instrumento.
Com 39 anos de idade, lida com música
desde os 13 anos e trabalha profissionalmente
há dez, sendo hoje um dos grandes divulgadores
da cultura musical caipira. À noite,
com o seu grupo fez uma apresentação
de músicas de sua autoria e de outros
compositores, como Tião Carreiro, que
considera uma das referências como violeiro.
A apresentação contou ainda
com o grupo do arquiteto Carlos Catapani,
outro aficcionado por esse instrumento, e
Zeca Colares que, embora não desfrute
de prestígio na mídia, é
respeitado no meio dos violeiros, tanto como
instrumentista como compositor.
Danças e
música
Essa preocupação
com a preservação da cultura,
ao lado da preservação do meio
ambiente, ficou evidente nas atividades do
domingo, antes da apresentação
da Orquestra de Sopros de Tatuí. O
grupo Nativos da Terra, do bairro Ferreira
dos Matos, em Ribeirão Grande, dirigido
por Luiz Cesarino Ferreira, apresentaram números
como a Dança da Palminha, Dança
do Carangueijo, Xote Marcado e Xote Carreirinha.
São manifestações
folclóricas cujas origens remontam
aos casamentos na roça. “As festas
de casamento na década de 1920 já
tinham essas danças”, explica Luiz,
com os pares mostrando suas habilidades no
sapateado e oferecendo também a oportunidade
para os jovens procurarem pares e trocarem
olhares mostrando seu interesse.
Em seguida, apresentou-se o grupo Fandango
de Tamanco Cuitelo, do mesmo bairro, formado
em 1964 por Pedro Vilarino Ferreira, cujo
apelido era Cuitelo, como os beija-flores
são designados ainda hoje no meio rural.
O seu filho, Ernesto, é que dirige
o grupo atualmente, que conta com neto e bisneto
do fundador.
“O fandango é de origem espanhola e,
até os anos 60, em Ribeirão
Grande, animava as festas após os mutirões
em que várias famílias se dirigiam
a um sítio para auxiliar na colheita,
quando o trabalho exigia mais braços”,
explica Ernesto. Hoje é uma manifestação
cultural que ainda subsiste no bairro Ferreira
dos Matos, à custa do sacrifício
de alguns abnegados que não se conformam
com a perda de sua identidade.
Os próprios dançarinos confeccionam
os seus tamancos, que servem para marcar o
ritmo da dança ao som da gaita de oito
baixos. O grupo participa há 40 anos
das festas realizadas em Olímpia, considerada
a capital do folclore.
Orquestra de Sopros
O concerto ao ar livre,
que faz parte do programa “Acorde para o Meio
Ambiente”, foi um espetáculo inusitado
naquele cenário, surpreendendo o público
e os músicos. Da mesma forma que a
Fundação Florestal, preocupada
em preservar o meio ambiente, e os grupos
de dança e de fandango, preocupados
em preservar a sua cultura, o maestro Dario
Sotelo explicou que a preocupação
dos integrantes da Orquestra de Sopros Brasileira
é essencialmente cultural.
“Temos mais de 2.200
ritmos catalogados no Brasil”, disse. “É
por isso que Villa-Lobos se apaixonou pela
música brasileira”, explicou. Em seguida,
apresentou músicas como Suíte
Norte e Nordeste, de Joaquim França
Ramos, onde é possível identificar
passagens de Qui Nem Giló, Asa Branca
e Assum Preto, de Luiz Gonzaga; Aquarela do
Brasil, de Ary Barroso, em arranjo do professor
Neves, diretor do Conservatório Musical
de Tatuí, mostrando a influência
dos musicais norte-americanos; e Zé
Carioca no Frevo, de Geraldo Medeiros.
Na segunda parte do concerto, apresentou uma
seleção de sambas, para a qual
convidou o Trio Fala Brasileira, composto
por Cibele Sabione, cantora, Ariane Bejo,
teclados, e Oswaldo Martins, bateria, de Birigüi,
que realiza pesquisas sobre música
brasileira. Com a participação,
do violonista Alexandre Bauab e do baixista
José Luiz Penatti, mostraram clássicos
como Marambaia, de Henricão e Rubens
Campos, Não Deixe o Samba Morrer, de
Edson e Aloisio, É Luxo Só e
Morena Boca de Ouro, de Ary Barroso, e outros.
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