13/06/2005
Dados da Organização Mundial
da Saúde - OMS, até 2003, revelam
que 14,7 milhões dos óbitos
registrados anualmente, ou cerca de 26% do
total de óbitos, são causados
por microorganismos, ou seja, doenças
infecciosas. De acordo com a organização,
as doenças diarréicas, que estão
intrinsecamente relacionadas às questões
de saneamento básico bem como disponibilidade
e qualidade de água, são responsáveis
por 1,9 milhão de óbitos anuais.
Esses dados mostram a importância do
“Seminário Internacional sobre Microbiologia
Aplicada ao Meio Ambiente - Antecedentes Históricos
e Perspectivas”, que teve início hoje
(13/6), no auditório do IPEN - Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares,
em São Paulo.
O encontro, que está sendo promovido
pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental, em conjunto com o Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo, Fundação
de Estudos e Pesquisas Aquáticas -
FUNDESPA e Sociedade Brasileira de Microbiologia
- SBM, além do próprio IPEN,
vai se estender até a próxima
quarta-feira (15/06), com a participação
de vários especialistas brasileiros
e dos Estados Unidos, África do Sul
e Espanha.
O primeiro dia do evento, que teve em sua
abertura a presença do presidente da
CETESB, Rubens Lara, do superintendente do
IPEN, Cláudio Rodrigues, da presidente
da SBM, Bernadete Franco, e do diretor da
FUNDESPA, Luís Roberto Tomazzi, foi
marcado por homenagens à pesquisadora
Maria Therezinha Martins, pioneira no estabelecimento
da microbiologia sanitária e ambiental
no Brasil e falecida em 1995.
|
Conforme
lembrou o presidente da CETESB, o seminário
nasceu mesmo do objetivo de homenagear a Profa.
Dra. Maria Therezinha Martins, que teve como
uma de suas responsabilidades a montagem e
organização dos laboratórios
de Microbiologia e Hidrobiologia da agência
ambiental paulista, por ocasião de
sua criação em 1968. “E ela
fez isso com o brilhantismo que lhe era peculiar,
até 1984, quando então foi para
a Universidade de São Paulo.
Nesse período, levou os laboratórios
da CETESB ao reconhecimento nacional e internacional”,
ressaltou, afirmando que ainda hoje estes
laboratórios são referência
para o Brasil e a América Latina, na
área de microbiologia sanitária
e ambiental.
Relembrando os dados da OMS para enfatizar
que a proteção ao meio ambiente
e preservação dos mananciais
são essenciais para garantir a qualidade
da água e a saúde da população,
Lara disse que os mecanismos de gestão
dos recursos hídricos atuais não
podem desconsiderar que da falta de cobertura
dos serviços de saneamento resulta
o favorecimento à disseminação
de doenças de veiculação
hídrica, tais como diarréia,
cólera, leptospirose, dengue e outras
enfermidades, associadas às condições
inadequadas de tratamento de águas
e vigilância ambiental precária.
“Essas doenças, causadas por patógenos
emergentes ou reemergentes, representam um
imenso risco para a saúde pública
e conhecer melhor seus agentes etiológicos
e seus impactos na saúde humana e sua
ecologia no meio ambiente é um desafio”,
alertou o presidente da CETESB, que também
expôs sua expectativa quanto a outros
objetivos do evento, como permitir a discussão
de novas estratégias para o monitoramento
e avaliação da qualidade da
água, de temas como o reúso
de água, aplicação de
lodo na agricultura e novos processos de tratamento,
“discussões essas de suma importância
para as políticas públicas do
país e para o estabelecimento de critérios,
padrões e indicadores de qualidade
ambiental”.
Respeito internacional
Conforme a Dra. Petra Sanchez Sanchez, da
Universidade Mackenzie, que foi funcionária
da CETESB por 27 anos e que fez uma breve
apresentação sobre a vida de
Maria Therezinha Martins, que nasceu em 1936
e faleceu em 1995, a pesquisadora “dedicou
parte de sua vida em divulgar conceitos e
conhecimentos na área de microbiologia
ambiental e ecologia de microrganismos”.
Segundo Sanchez, a profa. Maria Therezinha
acreditava no valor do trabalho interdisciplinar,
desenvolvido entre químicos, bioquímicos
e biólogos, entre outros, tendo sido
reconhecida e respeitada em âmbito internacional,
pelos trabalhos desenvolvidos na área
ambiental. “Ela foi responsável pelos
alicerces da microbiologia ambiental no Brasil
e na América Latina, pelo seu empenho
na disseminação do conhecimento
científico na área de microbiologia
aplicada ao meio ambiente”. Sanchez lembrou,
ainda, que a pesquisadora foi presidente de
várias associações científicas,
como a Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e a Sociedade
Brasileira de Microbiologia.
Aplicação
A Dra. Maria Inês
Zanoli Sato, gerente do Departamento de Análises
Ambientais da CETESB, que se apresentou no
seminário falando sobre o tema “Microbiologia
e Parasitologia Ambiental Aplicada à
Tecnologia e Saneamento Ambiental”, fez um
breve histórico do início dos
trabalhos desenvolvidos na agência ambiental
paulista, recordando que a Lei Estadual n.
10.107, de 8 de maio de 1968, de criação
do FESB (Fundo Estadual de Saneamento Básico),
estabelecera, no seu Artigo 18, a constituição
de um centro de estudos, pesquisas, ensaios
e exames, além de levantamentos e treinamento
de pessoal no campo da engenharia sanitária,
com a unificação dos laboratórios
pertencentes ou vinculados à então
Secretaria dos Serviços e Obras Públicas.
Desta forma, segundo Maria Inês, a atuação
dos laboratórios de Microbiologia e
Parasitologia da CETESB foram estruturados
para atender as legislações
vigentes, como a Portaria 518, referente às
águas de consumo humano, a Resolução
CONAMA 274, relativa às águas
recreacionais, e a Resolução
CONAMA 357, sobre águas superficiais.
Ela abrange também o monitoramento
e estudos de patógenos em amostras
ambientais, a avaliação e validação
de metodologia analíticas, o suporte
no estabelecimento de critérios e padrões
microbiológicos para regulamentações
estaduais e federais, e o desenvolvimento
de indicadores de qualidade ambiental.
Conforme exemplificou, entre os indicadores
microbiológicos, encontram-se os Coliformes
totais, Coliformes termotolerantes, Escherichia
coli, Estreptococos fecais e Enterococos,
e entre as bactérias patogênicas
analisadas a Salmonella, o Vibrio cholerae
e a Shigella. Quanto aos parasitas patogênicos,
lembrou que as pesquisas envolvem os protozoários
Giardia e Cryptosporidium em água e
os protozoários patogênicos em
águas residuárias, lodo e águas
de reúso.
Citou, ainda, trabalhos como as ações
de combate à cólera no Estado
de São Paulo, em que a CETESB mantém
pontos de amostragem, entre outros locais,
nos terminais rodoviários do Tietê
e da Barra Funda, os aeroportos de Cumbica,
Congonhas e Viracopos, os portos de Santos
e de São Sebastião, e estações
de tratamento de esgotos, como a ETE Barueri.
Quanto às ações de combate
à poliomielite no Estado, de 1999 até
2005, cujo objetivo é monitorar, com
freqüência quinzenal, pontos de
entrada do poliovírus e hospitais de
referência, citou como exemplos de pontos
de amostragem o Hospital das Clínicas
e a Santa Casa de Misericórdia, além
do aeroporto de Cumbica e o porto de Santos.
Informou que o monitoramento do poliovírus,
no período de 1999 até o ano
passado, resultou em 72% de amostras negativas,
5% de amostras positivas por poliovírus
e 23% de amostras positivas por outros enterovírus. |