14/02/2006
- Vinte dias se passaram e tudo caiu no esquecimento.
O motorista não-índio, Jéferson
Alves Cabral, que dirigia embriagado e sem
habilitação o caminhão
fretado pela FUNAI, responsável pelo
acidente que tirou a vida de 6 indígenas
Oro Wari´ e deixou 17 feridos, está
livre. Todos os sobreviventes afirmam que
o motorista estava bebendo desde a ida para
a aldeia Ribeirão, como na volta para
Guajará-Mirim. O motorista criminoso
fugiu do local do acidente sem prestar socorro
às vítimas. Esta tragédia
que ocorreu na madrugada do dia 25 de janeiro
de 2006, a maior desses últimos 30
anos no município de Guajará-Mirim(RO),
teve um grande impacto na mídia nacional.
Mesmo assim, o motorista que não foi
enquadrado na lei do flagrante continua em
liberdade, não pagou as despesas de
funerária, não arcou com as
despesas de tratamentos médicos e cirúrgicos
deixando os feridos a mercê dos recursos
da FUNASA e da rede do SUS cuja lentidão
é notória. O Marcos Cabral,
pai do motorista tem o seu caminhão
guardadinho na oficina onde ele trabalha.
O clima anti-indígena
local se reflete na matéria do repórter
Idelmar no jornal “o Mamoré” do dia
29 de janeiro, que chega ao cúmulo
defendendo o motorista, culpando os índios
por ter subido na carroceria e que finaliza
ironizando: “ quanto aos índios que
tomem iniciativa que tal lição
árdua aprenda que carroceria nem de
caminhão e nem de camionete é
lugar para transportar passageiros!”
Quanto à FUNAI, responsável
pela comercialização dos produtos,
o administrador Sr. Dídimo Graciliano
de Oliveira, somente fez um pedido de perdão
aos indígenas, reconhecendo que o órgão
indigenista oficial não tem um mínimo
de infra-estrutura de transporte. O pecado
estrutural também não deveria
ser julgado?
Os indígenas enterraram
os seus mortos, ainda choram por eles e clamam
por “justiça”. Apenas as chagas e as
dores dos feridos estão comprovando
que a tragédia não foi um mero
pesadelo.
A família das vítimas
se perguntam: “Afinal, quem vai nos fazer
justiça? Porque os nossos parentes
feridos não estão sendo cuidados
em melhores condições? Muitos
deles já deveriam estar curados.” Maxun(Martins),
um dos dois feridos que foi encaminhado de
avião para Porto Velho, retornou a
Guajará-Mirim, o rosto desfigurado
por cicatrizes horrorosas devido a suturas
mal feitas, com fortes dores de cabeça
e diminuição da visão
do olho direito. Piauí, que foi encaminhado
para Porto Velho de ambulância não
fez a cirurgia programada, voltou com dores
intensas no pé fraturado, sem poder
dormir a noite e aguarda o retorno para Porto
Velho. A sorte dos 06 feridos que ficaram
internados em Guajará-Mirim não
foi melhor. Não receberam atendimento
especializado de ortopedia e hoje eles permanecem
na Casa de Saúde Indígena, na
responsabilidade da FUNASA. O Paulo, que perdeu
seus pais na tragédia, tem luxação
da clavícula. O Lucas tem a mão
fraturada em 2 lugares e tem uma imobilização
incorreta, e a sua esposa, Neide, tem uma
costela quebrada. O casal perdeu um filho
na tragédia e tem outro em Porto Velho
que foi submetido a uma cirurgia na perna.
Consultas especializadas, exames e tratamentos
pelo SUS são demorados e as vezes não
acontecem. Por lei, quem causou o acidente
não deveria se responsabilizar por
todos os gastos médicos e outros? Quem
vai ser o advogado dos índios para
cobrar dos responsáveis do acidente
os gastos relacionados ao tratamento dos feridos
e as devidas indenizações?
O sentimento dos indígenas
é de abandono e de injustiça.
A voz da justiça ainda não se
fez ouvir. Não estaria na hora?
Equipe do CIMI - Guajará-Mirim
(RO)