13/02/2006
– A luta da missionária Dorothy Stang
por uma das áreas mais pobres e necessitadas
da região amazônica começou
em 1982, numa conversa com o bispo da Prelazia
do Xingu, Dom Erwin Krautler. Cortada pela
rodovia Transamazônica, a pequena Anapu,
localizada no sul do Pará. A cidade,
abandonada após uma colonização
fracassada durante a ditadura militar, foi
indicada à missionária como
uma das mais carentes da região. Com
uma área de 11.895 quilômetros
quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes,
a cidade se tornaria anos mais tarde em um
dos principais pontos de conflito na luta
pela terra.
A partir da década
de 80, a região de Anapu, no centro
do estado, mais conhecida como Terra do Meio,
e o sul e sudeste passaram a formar a área
de maior pressão de desmatamento da
floresta, o que gerava conflitos entre grileiros,
madeireiros, pequenos produtores e posseiros.
Dorothy denunciou por diversas vezes a situação
às autoridades brasileiras.
"Ela começou
a trabalhar pela criação das
reservas. Dorothy é o símbolo
de luta defensora das reservas e das unidades
de conservação. Os moradores
que estavam nesses lugares sempre eram retirados
porque chegava alguém e dizia que já
era dono daquela terra", explica Antonia
Melo, a "Toinha", do Grupo de Trabalho
Amazônico em Altamira, uma antiga companheira
da missionária assassinada.
Em junho de 2004, Dorothy
esteve presente na Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito sobre a violência
no campo e denunciou que o quadro de impunidade
agravou os conflitos. Segundo ela, os grileiros
não respeitavam as terras já
demarcadas, uma vez que as promessas de ações
no estado não estavam sendo cumpridas.
A audiência contou com a presença
do ministro do Desenvolvimento Agrário,
Miguel Rossetto. Na época, o relator
da Comissão, deputado federal João
Alfredo (PT-CE) pediu a criação
de uma força-tarefa entre Ministério
Público e Polícia Federal para
atuar no Pará.
Nascida em 7 de junho de
1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio,
Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia
parte de uma congregação internacional
da Igreja Católica – Irmãs de
Notre Dame de Namur – que tem como princípio
ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua
primeira experiência foi em Coroatá
(MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores
nas comunidades eclesiais de base.
Com o passar do tempo, o
povo já não tinha onde plantar
e precisava se submeter aos mandos e desmandos
dos latifundiários. Diante da situação,
muitos migraram para o Pará e Dorothy
acompanhou esse movimento. O engajamento para
a criação dos Projetos de Desenvolvimento
Social (PDS) – novo modelo de assentamento
baseado na produção agrícola
familiar, atividades extrativistas de subsistência
e baixo impacto ambiental – alimentou a ira
dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares
para Dorothy.
Da mesma forma que morreu
Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros,
grileiros e madeireiros ilegais também
calaram vários líderes brasileiros,
como Chico Mendes, irmã Adelaide e
Padre Josimo. A luta da freira pelo direito
dos pequenos agricultores na Amazônia
foi interrompida por seis tiros à queima
roupa no dia 12 de fevereiro de 2005.