Monsanto
quebra promessa e anuncia que vai desenvolver
tecnologia de sementes estéreis, acirrando
a luta contra a suspensão da moratória
que proíbe esse tipo de tecnologia
genética
21/02/2006 - A gigante da
biotecnologia Monsanto quebrou promessa feita
em 1999 e anunciou que vai desenvolver a tecnologia
Terminator para culturas não alimentícias
como o algodão, tabaco, culturas farmacêuticas
e grama. Há sete anos a multinacional
havia declarado publicamente que não
iria comercializar essa tecnologia, que produz
plantas geneticamente modificadas para produzirem
sementes estéreis.
As sementes Terminator fazem
parte das chamadas tecnologias genéticas
de restrição de uso, que são
uma forma de garantir a cobrança dos
royalties e impedir a reprodução
de sementes patenteadas, forçando os
agricultores a comprar sementes todos os anos.
No mundo, esse tipo de tecnologia
está proibido por uma moratória,
determinada pela Convenção sobre
Diversidade Biológica das Nações
Unidas (CDB). No próximo mês
deverá haver a intensificação
dos esforços das indústrias
de biotecnologia para derrubar essa moratória
durante a oitava Conferência das Partes
da CDB, em Curitiba. A reunião poderá
definir a postura da Organização
das Nações Unidas sobre o futuro
das tecnologias genéticas de restrição
de uso.
No Brasil, a Lei de Biossegurança
de março de 2005 proíbe esse
tipo de tecnologia, mas há um projeto
de lei de dezembro do mesmo ano, de autoria
da deputada Kátia Abreu (PFL-TO), em
tramitação no Congresso, que
propõe a liberação e
a comercialização desse tipo
de semente no Brasil.
A mudança de postura
da empresa Monsanto indica um acirramento
do confronto com os movimentos de agricultura
familiar, ambientalistas e populações
indígenas. A entidade ambientalista
Greenpeace faz parte de uma aliança
global com mais de 300 organizações
que exigem a manutenção da moratória.
As sementes estéreis ameaçam
a biodiversidade e podem destruir o modo de
vida e cultura de 1,4 bilhões de pessoas
ao redor do mundo que dependem da produção
própria de sementes.
A semente adaptada pelo
próprio agricultor para sua realidade
e produzida por ele é conhecida no
Brasil como “semente criola”. A contaminação
genética dessas sementes pode ter um
impacto muito grave na agricultura familiar,
que responde no Brasil por mais de 70% do
emprego na área rural.
“Os agricultores do mundo
e as populações indígenas
não podem confiar na Monsanto”, afirmou
Alejandro Argumedo da Associación ANDES,
do Peru. “A empresa quebrou sua promessa e
traiu mortalmente as populações
indígenas que dependem de sua própria
semente para sua soberania e independência
alimentar”, completou.
“As corporações
de biotecnologia têm uma visão
clara e simples de mundo: nada pode ser cultivado
sem a licença da Monsanto ou outras
empresas que patentearam tecnologias de restrição
de uso” explicou Benny Haerlin, do Greenpeace
Internacional. “Se os governos mundiais presentearem
a Monsanto com a eliminação
da moratória na reunião da CDB,
nós vamos pagar a conta no futuro,
quando os efeitos colaterais danificarem a
integridade e a fertilidade da natureza.”
completou.
A Campanha pela Proibição
do Terminator anunciou no dia 21 de março
o nome de mais de 300 organizações
que estão contra a suspensão
da moratória às tecnologias
genéticas de restrição
de uso. A lista de organizações
está disponível em: www.banterminator.org/endorsements
Resistente ao Roundup
Enquanto isso, no Brasil, a Monsanto está
em disputa com os produtores rurais do Mato
Grosso do Sul e Rio Grande do Sul por causa
da forma como quer cobrar os royalties pelas
suas sementes. A Monsanto determinou a metodologia
de cobrança de royalties e o seu valor
sem consultar os produtores, além de
ter definido regras quando a safra já
estava plantada.
“Da forma estipulada pela
Monsanto, os produtores que armazenam sementes
serão prejudicados, pois terão
que arcar com os custos da segregação
de sementes transgênicas das convencionais”,
afirma Luis Alberto Moraes Novaes, presidente
do Sindicato dos Produtores Rurais de Maracaju
(MS). Ele critica também o aumento
do valor das royalties, que passou de 1% para
2% neste ano. “Vamos buscar o caminho do diálogo,
mas, se esse não for possível,
entraremos na Justiça contra a Monsanto”,
afirma Luis Alberto.