21/02/2006
- A redução do teor de álcool,
de 25% para 20%, na gasolina distribuída
no país, decisão a ser anunciada
pelo governo federal até a próxima
quinta-feira, deve representar um aumento
nas emissões de monóxido de
carbono (CO) e de hidrocarbonetos (HC), podendo
representar uma piora na qualidade do ar da
Região Metropolitana de São
Paulo (RMSP), de acordo com avaliação
da CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental.
Segundo o presidente da agência ambiental
paulista, Rubens Lara, a alteração
nos índices de emissão ocorrerá,
principalmente, com os veículos carburados,
que não dispõem da tecnologia
de injeção eletrônica.
Apenas os veículos fabricados a partir
de meados da década de 90 são
equipados com sistemas de injeção
eletrônica dotados de retroalimentação
( “closed loop” ), que realizam a correção
automática da mistura ar/combustível
conforme a alteração da composição
do combustível, fazendo com que os
motores operem sempre em condições
próximas a ideal, evitando a emissão
excessiva de poluentes. Lara lembra que cerca
de 2/3 da frota de veículos a gasolina
da região metropolitana e do Estado
é anterior à introdução
da injeção eletrônica.
A CETESB calcula que as
emissões de CO dos veículos
movidos a gasolina na RMSP , em 2004, totalizaram
811,4 mil toneladas e as de motocicletas mais
261,2 mil toneladas, perfazendo 1072,6 mil
toneladas. Estima, também, que esta
redução do teor de álcool
anidro na gasolina causará um aumento
de 6,0 % nas emissões veiculares de
CO na Região Metropolitana, o que significará
um aumento de cerca de 65 toneladas/ano desse
poluente na atmosfera enquanto durar a alteração
no combustível.
Na Grande São Paulo,
as emissões provenientes dos veículos
a gasolina ( carros e motos), de acordo com
as estimativas da CETESB, representam mais
de 70% do CO total emitido pelas fontes e
que, embora nos últimos anos, sua concentração
na atmosfera tenha diminuído por conta
das inovações tecnológicas
nos veículos e da renovação
da frota, deve-se sempre levar em conta que
a atmosfera da região metropolitana
já esta saturada quanto ao poluente
CO, não se podendo permitir qualquer
ocorrência que promova um acréscimo
de emissão desse poluente.
Os técnicos da CETESB
salientam, ainda, que a redução
de 5% no teor de álcool na gasolina
terá implicações diretas
na emissão de dióxido de carbono
(CO2), pois está se retirando o carbono
originado de biomassa e aumentando o de origem
fóssil, que não será
reciclado na natureza, aumentando o efeito
estufa e contribuindo para o aumento da temperatura
global.
O presidente da CETESB ressalta
que é preciso estabelecer no país,
uma estratégia de gerenciamento eficiente
para garantir tanto o preço competitivo
como o abastecimento de álcool combustível,
anidro e hidratado, durante todo o ano, estabelecendo-se
estoques estratégicos que garantam
os períodos de entre safra. “Num momento
em que a indústria automobilística
procura resgatar a credibilidade dos veículos
a álcool, com o vitorioso lançamento
dos veículos bicombustíveis,
menos agressivos ao meio ambiente e que colocaram
novamente o país na vanguarda do uso
de combustíveis renováveis,
um episódio dessa natureza compromete
a confiança que o consumidor brasileiro
deposita nessa tecnologia, além das
consequências para a qualidade do ar
nos grandes centros urbanos que, sem dúvida,
acaba se deteriorando.”